A expectativa de que a economia brasileira vai voltar a crescer ainda que de forma lenta, as reformas em curso no governo do presidente Michel Temer, e principalmente a queda nos juros fazem os analistas acreditarem que este será um bom ano para o mercado de capitais no Brasil. Até para quem nunca se arriscou na Bolsa de Valores, o momento é oportuno, segundo eles.
O professor da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Guilherme Ribeiro de Macêdo, enumera as razões pelas quais o investidor deve olhar para a BM&FBovespa. "Uma coisa é certa: os juros vão continuar caindo. Tenho convicção de que a Selic (hoje em 13% ao ano) vai fechar 2017 em apenas um dígito, algo como 9,25% ou 9,50%", declara.
Conforme explica o professor, a queda da Selic ajuda a Bolsa pelo efeito direto nas companhias, que passam a captar dinheiro mais barato no mercado para seus investimentos. E também porque desincentiva as aplicações em renda fixa. "Com a queda da Selic, a renda fixa fica menos atraente e as pessoas vão começar a se arriscar para ter mais rendimento", acredita.
Macêdo diz que as reformas que estão sendo feitas pelo governo federal levam mais competitividade às empresas brasileiras. "A reforma trabalhista, ao flexibilizar a jornada de trabalho, por exemplo, torna o Brasil mais competitivo". Já a reforma da Previdência, de acordo com o professor, mostra que o governo terá mais saúde financeira no futuro. "Isso traz credibilidade para o País e atrai capitais", considera.

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Perfil do investidor
Na opinião dele, este é um bom momento para quem está interessado em começar a investir na Bolsa. Mas o perfil do investidor sempre precisa ser levado em conta. "Tem que estar disposto e aceitar os riscos desse tipo de investimento. E é bom pensar em cinco anos, não ter urgência para ver o retorno", ressalva.
Macêdo afirma que o mercado de capitais norte-americano está no seu topo histórico, passado o pavor dos investidores com a vitória do presidente, Donald Trump. "Quando Trump foi eleito, a Bolsa despencou. Mas conforme ele foi mostrando seus projetos para economia, voltou a subir", alega. O corte dos impostos prometido por Trump fará as companhias norte-americanas mais competitivas. "A Bolsa brasileira sobe na esteira da norte-americana."

OTIMISMO
Rafael Yassuo Ohmachi, da Guide Investimentos, diz que a recuperação da economia brasileira, mesmo que lenta e gradual, levará mais investimentos à Bolsa. "Um dos motivos de eu estar animado é a queda dos juros. Esse ciclo de corte promovido pelo Banco Central deve continuar beneficiando investimentos em renda variável", explica. Para Ohmachi, os bons rendimentos da renda fixa, em média um por cento ao mês, ficaram para trás com a queda na Selic. Ele também aposta que a taxa básica de juros fique abaixo de 10% até o fim do ano.
A Guide, segundo o analista, tem preferência por companhias de alguns setores. "Estamos otimistas com energia elétrica, indústrias, concessões. E menos otimistas com as companhias de varejo", conta. A Petrobras seria boa opção. "Estamos vendo que o governo vem promovendo a profissionalização das empresas públicas. Estão diminuindo a política dentro delas", justifica.
Para os novatos em mercado de capitais, Ohmachi avisa que assessoria é fundamental. "Apesar das expectativas otimistas, sempre há riscos." A dica aos iniciantes é investir no que ele chama de "carteira dividendos". "São ações de empresas que pagam bons dividendos. É uma carteira mais conservadora porque envolve companhias mais maduras", declara.

CHINA
Além da queda nos juros, Pedro Galdi, da Upside Investor, diz que a "estabilidade" na política ajuda o mercado de capitais. "Por mais que exista o ruído da Lava Jato (que pode mudar os humores do mercado), há um sentimento de que o governo terá continuidade", justifica.
No cenário internacional, ele aponta não só a aceitação de Trump pelo mercado. "Tem a China mostrando sinais de recuperação. Os preços das commodities estão subindo", cita. Incertezas na Europa, como a saída do Reino Unido da Comunidade Europeia e as eleições na França, já estariam "precificadas", na opinião de Galdi.
Galdi acredita em um "fluxo de notícias positivas" e diz que o Brasil está atraindo mais capital de fora. "Há instituições estrangeiras recomendando o Brasil. Tem gente falando que o Ibovespa (índice da Bolsa) fecha o ano em 100 mil pontos (hoje está em 67,9 mil). Acho um exagero, mas há sim viés de alta", garante.
O momento é de apostar em ações, mas o investidor precisa ser seletivo. Galdi recomenda ações de companhias de infraestrutura porque o governo estaria disposto a alavancar o setor. E não acredita nas de siderurgia e nem nas de educação. "Já subiram demais. Chegaram num patamar que não vale mais a pena arriscar agora."
Para ele, o investidor deve "esquecer" as companhias de telecomunicação. "A Oi (que está em recuperação judicial) contaminou todo o setor". Na área de alimentos, recomenda BRF e Minerva. "Fujam da JBS e Mafrig", aconselha.