Estudo da CNDL também mostrou que juros altos afugentaram quatro em cada 10 empreendedores interessados em obter crédito para expandir suas atividades no País
Estudo da CNDL também mostrou que juros altos afugentaram quatro em cada 10 empreendedores interessados em obter crédito para expandir suas atividades no País | Foto: Shutterstock



Tão crônica quanto a pífia e, por vezes, negativa taxa de crescimento da economia brasileira é a elevada taxa de juros praticada no País. A correlação entre as duas questões responde internamente pela destruição das oportunidades de negócios e foi mensurada por uma pesquisa de Políticas de Acesso ao Crédito realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), que confirma várias obviedades como o fato dos juros altos afugentarem quatro em cada 10 empreendedores (38%) interessados em obter crédito para expandir suas atividades no Brasil.
Na esteira dessa constatação, o estudo mostra que seis em cada 10 varejistas (58%) e pouco mais de quatro em cada dez empresários (44%) de organizações de todos os portes, ouvidos nas 27 capitais brasileiras, afirmaram nunca terem recorrido às instituições financeiras para manter a operação. Foram entrevistadas 822 pessoas. "O uso de recursos próprios para investir limita a expansão, porque via de regra qualquer empreendimento dentro de um cenário favorável usa 30% de recursos próprios e 70% oriundos de terceiros. Não havendo isso, não se investe por se dispor de pouco e para ficar menos vulnerável a quebrar. E assim não se gera emprego e o ciclo vicioso da fraca atividade econômica permanece", alerta o superintendente da CNDL e doutor em Economia, Éverton Correia.

Custo
A pesquisa ainda mostra que em um recorte de curto prazo, os últimos 12 meses, apenas 9% dos comerciantes e empresários do ramo de serviços buscaram com sucesso recursos via terceiros. Outros 5% dos consultados não conseguiram, sendo que 3% desistiram pela alta burocratização do processo, problema citado por 44% dos participantes consultados pela pesquisa. Outros 2% tiveram o crédito negado.

"Em países com juros civilizados, o tomador de empréstimo paga praticamente o capital emprestado. Aqui parece que temos um sistema feito para não se empreender. Porque na hora de qualquer investimento, o custo do projeto é acrescido do elevado preço do dinheiro pago pelo crédito neste País. Somando esse risco a toda a série de incertezas políticas e econômica, trava qualquer decisão", lamenta o diretor de planejamento e gestão da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio-PR), Rodrigo Rosalem.
Prova disso que ao apoiar as reformas trabalhista e previdenciária, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, Edson Campagnolo, chama atenção para a urgência da reforma tributária. "Ela quem vai garantir a retomada do crescimento econômico e estimular os empresários a ampliar sua atividade", defende. "Com a reforma, a expectativa é que os juros cobrados no País sejam calculados de uma forma mais transparente, o que dará mais confiança ao tomador", esclarece Rosalem.
Nesse aspecto, ele observa que mesmo diante da redução da taxa de juros básica (Selic) e de uma inflação com projeção para ficar abaixo dos 4%, os juros de mercado seguem elevados. "Há escassas linhas de financiamento e com juros de três a quatro vezes superiores a Selic, em partes, por conta do risco do país", observa Rosalem.
Nesse sentido, outro dado que mostra o fraco fomento ao crédito é que os bancos públicos são identificados pelos empresários como o melhor tipo de instituição financeira para se buscar crédito, citado por 28% dos entrevistados. Os bancos privados foram mencionados por 17%. Outros 55% são indiferentes.

A preferência pelos bancos públicos é justificada, sobretudo, pela percepção de que eles praticam juros mais acessíveis (59%). "Essa preferência, no entanto, não é o ideal, primeiro porque está na atividade fim do banco público estimular o desenvolvimento econômico. E, segundo, porque em um ambiente favorável aos negócios as instituições financeiras privadas estariam interessadas em ampliar seus produtos financeiros disponibilizando linhas de crédito interessantes para os empresários e comerciantes", assegura o superintendente da CNDL.