O protocolo de intenções para instalação de uma fábrica de aeronaves em Maringá, assinado pelo governador Beto Richa (PSDB) na última quarta-feira, irritou empresários londrinenses. Eles criticam o processo de negociação com o grupo suíço Avio Internacional, conduzido pela Secretaria da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul (Seim), cujo titular é o maringaense Ricardo Barros. Para empresários ouvidos pela FOLHA, o secretário "escondeu" as negociações de forma a privilegiar sua cidade.
"O Ricardo Barros, como de costume, atravessou tudo. Como secretário de Estado ele tinha obrigação de mostrar aos investidores outras opções, como Londrina", afirma um empresário que não quis se identificar. "Fomos pegos de surpresa e estamos revoltados", complementa.
Para outra liderança empresarial, Barros contrariou até outros secretários e o governador na negociação com os suíços. "Enquanto ele for secretário, Londrina vai ficar a ver navios. No governo, tem secretário que brinca dizendo que a Seim é a Secretaria da Indústria e Comércio de Maringá", declara.
Ontem, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Flávio Balan, e o presidente do Instituto de Desenvolvimento de Londrina (Codel), Bruno Veronesi, estiveram em Curitiba para discutir investimentos com o secretário do Planejamento e Coordenação Geral, Cássio Taniguchi. Ambos foram cautelosos ao comentar as negociações para a instalação da fábrica em Maringá.
"Ficamos surpresos, gostaríamos que Londrina tivesse participado como candidata a receber o investimento", afirma Balan. Questionado se considera incorreta a postura de Ricardo Barros, ele contemporiza. "Não é essa a questão. Maringá foi mais inteligente ao usar em seu benefício o fato de ser a cidade do secretário", avalia.
Veronesi diz que a Prefeitura de Londrina não sabia que o governo do Estado estava "prospectando" o investimento suíço. "Esta informação ficou restrita à Secretaria da Indústria e Comércio. Só ficamos sabendo dois dias antes (da assinatura do protocolo de intenções)", declara o presidente da Codel. Para ele, Barros deveria ter "consultado Londrina" sobre a possibilidade de receber a fábrica.

Outro lado
"Não tem nada a ver", afirma o secretário Barros a respeito das reclamações dos empresários londrinenses. Segundo ele, Maringá foi escolhida pelo grupo suíço por ter uma "cidade industrial com 3 milhões de metros quadrados" ao lado do aeroporto. "E o aeroporto de Maringá é de gestão municipal, ao contrário do de Londrina que é da Infraero", declara.
Segundo Barros, a fábrica irá utilizar parte da pista do aeroporto para testar aviões e helicópteros. "A Infraero não permitiria isso num aeroporto sob sua responsabilidade", justifica. Ele ressalta que este fato já irá reduzir de 70 mil para 50 mil metros quadrados a necessidade de área construída pela indústria, o que torna a área de Maringá imbatível na concorrência. "Londrina não tem por que reclamar pois já tem o secretário mais forte do governo", diz Barros, se referindo ao secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly.
"Ninguém privilegia ninguém no governo. Maringá tem enfrentado os mesmos problemas que Londrina para atrair investimento, que é a questão da infraestrutura", afirma Hauly. Segundo o secretário da Fazenda, a negociação com os empresários suíços não passou por sua pasta e Maringá levou vantagem por ter o aeroporto anexo ao parque industrial. "Como londrinense, não vejo que as reclamações procedem", declara.