A redução da natalidade e o aumento da expectativa de vida no Brasil levarão ao envelhecimento da população e, consequentemente, à queda da oferta de mão de obra jovem até 2040. Isso significa que o empregador que não vê o trabalhador com idade superior a 40 anos como alternativa à escassez de talentos terá de conviver, por tempo demais, com a placa de "contrata-se" na porta da própria empresa. Algo que, hoje, somente 37% dos gestores já percebeu, segundo a pesquisa Envelhecimento da Força de Trabalho no Brasil, feita pela consultoria PwC, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Se em 2004 a fatia de pessoas empregadas com mais de 40 anos era de 32,7%, em 2009 esse percentual subiu para 42%. Em 2040 deve chegar a 57%, conforme o "Anuário dos Trabalhadores" do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Números que refletem a diminuição da taxa de crescimento da população, que foi de 3,04% ao ano na década de 60 para 1,05% em 2008. De acordo com projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice passará a ser negativo em 2040. A expectativa de vida do brasileiro seguirá caminho inverso, ao crescer dos 72,7 anos em 2008 para 81,2 em 2050, também pelo IBGE.
O resultado será uma massa de trabalhadores com conhecimento para repassar, mas que hoje são tidos como mais caros ou com maior dificuldade de responder a mudanças e a avanços tecnológicos. "Com certeza existe uma carga de preconceito e algumas percepções não têm base científica. O que determina a questão não é a idade, mas a adaptação de minhas competências à empresa", diz o professor da FGV e sócio da PwC João Lins. Ele se refere às qualidades dos mais velhos, como maiores responsabilidade, fidelidade à organização e comprometimento com o que se espera dele, todas características também apontadas pelos gestores que responderam à pesquisa.
Lins conta que há casos de empresas no mundo que já se posicionam de forma diferente e cita o exemplo da BMW, na Alemanha. A montadora de veículos se preparou, ainda em 2007, para o envelhecimento da população local. Na fábrica da cidade de Dingolfing, adaptou guinchos especiais, bancos reguláveis e substituiu o piso de borracha pelo de madeira, que favorece a rotação dos quadris. Tudo para os profissionais mais velhos, que superaram o desempenho dos mais jovens em outras linhas de produção. "Com a escassez de talentos, não ter políticas de aproveitamento de experiência é um contrassenso", diz.
Como forma de se preparar, o professor da FGV orienta os gestores a tomar conhecimento do processo e reexaminar políticas e práticas da organização. Implementar horários flexíveis, redução de jornada de trabalho e atuação por projetos ou consultoria são algumas opções que favorecem os mais velhos. Há também um aumento da necessidade de planos de saúde diferenciados, de incentivo à prática de exercícios físicos, de redução de preconceitos nas equipes sobre os profissionais mais experientes e de capacitação para novas tecnologias.
Sobra ainda a questão financeira, já que aqueles com "mais tempo de casa" tendem a ganhar mais. No estudo, 70% dos empresários disseram que os mais velhos têm salários maiores, mas apenas 32% deles veem a exigência como uma barreira para a contratação. Lins considera que, se não há impedimento, é necessário entender que a combinação de perfis, principalmente com a promoção de situações em que os experientes possam treinar os mais jovens, resulta em ganho de qualidade. "É fato que, no Brasil, salário tem a ver com tempo na função, mas a questão não é o custo, e sim o valor agregado."

Imagem ilustrativa da imagem Empresas têm de mudar para manter os mais experientes