Com uma área de plantio menor no Paraná e mercado mais ajustado, a produção de mandioca está num momento interessante para os produtores. No Estado de maior processamento da cultura, a colheita segue em ritmo bem similar ao do ano passado, mas com um detalhe: os preços têm se mostrado superiores, ajudando quem atua na atividade a pagar dívidas que vieram com a crise de 2015. Vale dizer: ainda é momento de recuperação.

Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná (Seab), a colheita está com ritmo bem similar ao ano passado, chegando à marca de 42% do volume total. Os produtores se recuperam da situação ruim de dois anos atrás, apostando numa área menor, de 108,6 mil hectares (ha), retração de 18% comparado aos 132,4 mil ha da safra anterior. Em Paranavaí (Noroeste), região onde está concentrada a maior produção, também houve queda de área: de 38,5 mil ha para 30,3 mil ha, diminuição de 21%.

No volume, a região de Paranavaí projeta colher 947,5 mil toneladas, retração de 16% comparado ao 1,12 milhão de toneladas do ano anterior. Quando se trata de todo o território paranaense, a expectativa é de 2,80 milhões de toneladas, queda de 23% frente aos 3,63 milhões de toneladas da safra 15/16.

De acordo com o economista do Deral especializado na cultura Methodio Groxko, o ano passado já havia sido bem interessante para o produtor, e "neste momento os preços deram uma leve baixada devido ao ritmo de colheita". Nesta segunda-feira (29), o valor da tonelada no Estado estava em R$ 457,46. A média do mês de maio de 2016 ficou R$ 328,94, ou seja, alta de 39%. "Em 2015, o volume produzido foi muito alto e o preço estava bem ruim (média final de R$ 175,44). Ano passado já houve uma recuperação e agora continua desta forma. Houve uma pressão nos preços devido à colheita, mas acredito que haja recuperação dos valores nos próximos meses", projeta.

No que diz respeito aos custos de produção, segundo Groxko, os valores no Estado estão na faixa de R$ 300. A mão de obra continua tendo a maior representatividade neste número, algo em torno de 43%. "No manejo e qualidade da mandioca colhida, o produtor não tem passado por problemas graves".

Pesquisa
No campo da pesquisa, a Embrapa Mandioca e Fruticultura, que tem sede em Cruz das Almas (BA), aloca três pesquisadores especializados na cultura na sede da Embrapa Soja, em Londrina. O objetivo é que eles estejam mais próximos à forte cadeia produtiva de fécula de mandioca do Sul do País.

O pesquisador da área de entomologia agrícola, Rudiney Ringenberg, relata que no ano passado foi lançada uma cultivar voltada para a indústria, a BRS CS 01, nova cultivar para os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. "Quando pensamos nas variedades voltadas para indústria, o foco está na precocidade, ou seja, colheita no primeiro ciclo, maior produtividade de amido por hectare e resistência a doenças".

Segundo Ringenberg, os principais problemas no campo estão ligados a antracnose, bacteriose e superalongamento, doença causada por um fungo. "Ainda contamos com muitas variedades no campo que não passaram por melhoramento genético e, portanto, ainda há espaço para mais lançamentos".

Já no que diz respeito às cultivares de mesa, as últimas lançadas pela Embrapa foram a BRS 396 e BRS 399, em 2015. "Neste caso, o foco é na mandioca de polpa amarela, produtiva, com poucas fibras e boa para o processamento de chips, coxinhas e outros alimentos".

Processamento de fécula está mais lento
O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Fábio Isaías Felipe confirma que os preços deste ano estão bem superiores a 2016. "A rentabilidade tem acontecido, mas a situação de endividamento ainda é real devido ao cenário ruim de 2015. A média naquele ano para a tonelada de mandioca foi de R$ 168,98. Depois, saltou para R$ 360,90, e a parcial deste ano está em R$ 522,05", calcula.

Em contrapartida, a indústria de fécula nacional diminuiu consideravelmente o processamento até agora. De janeiro a maio de 2016, o montante foi de 215 mil toneladas, contra 136 mil toneladas atuais. "O ritmo é menor devido à própria falta de raiz no mercado. Isso pode se agravar para o segundo semestre".

Neste cenário, existe portanto a perspectiva de que os preços voltem a se elevar depois da queda pontual. "Avalio que as baixas do momento não são intensas e tudo deve se normalizar", complementa. (V.L.)