Para os produtores, o preço da arroba voltou aos patamares anteriores à Carne Fraca: o valor à vista do indicador Esalq/BM&F iniciou a semana em R$ 145,39
Para os produtores, o preço da arroba voltou aos patamares anteriores à Carne Fraca: o valor à vista do indicador Esalq/BM&F iniciou a semana em R$ 145,39 | Foto: Gina Mardones/16-05-2017



As exportações de carnes bovinas cresceram 34% em volume e 35% em valores, na comparação de agosto deste ano com o mesmo mês do ano passado, o que traz ânimo para o setor que sofreu após a Operação Carne Fraca, em meados de março. O resultado de 145,8 mil toneladas (t) é o maior desde outubro de 2013 e permite igualar os embarques de janeiro a agosto de 2016, conforme divulgou na segunda-feira, 11, a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

O principal motivo para a ampliação das vendas é que o mercado mundial está comprador, e não apenas busca produtos brasileiros. No total, 66 países ampliaram as aquisições a partir do Brasil e outros 82 reduziram as compras neste ano, mas os principais clientes, como China e Rússia, mostraram apetite.

Para os produtores, o preço da arroba voltou aos patamares anteriores à Carne Fraca, quando houve ameaça de embargos de vários países por conta de denúncias de corrupção em frigoríficos. O valor à vista do indicador Esalq/BM&F ficou ontem em R$ 145,39, mas representantes do setor no Paraná afirmam que os valores praticados no mercado giram em torno de R$ 150 e têm tendência de alta para os próximos meses.

De acordo com os dados compilados pela Abrafrigo no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as vendas de carne para o exterior também cresceram 13,4% em 30 dias, ao passarem de 128,6 mil t em julho para 145,8 mil t no mês passado. O volume de agosto do ano passado havia sido de 108,6 mil t.

Quando se fala em valores no acumulado do ano, já é possível enxergar um fechamento positivo para o ano. Com os US$ 606,7 milhões de receita em exportações de agosto, o acumulado desde janeiro já representa US$ 3,7 bilhões, alta de 5% em relação aos nove primeiros meses de 2016.

Imagem ilustrativa da imagem Do pasto para o porto



Fator China
Por meio da assessoria, a Abrafrigo informa que a melhor condição econômica da população chinesa é um dos principais motores da alta no consumo de carne. Porém, lembra que muitos dos importadores de produtos brasileiros estão mais compradores de produtos brasileiros.

Entre os principais clientes, as exceções ficam por parte da União Europeia e dos Estados Unidos. O país norte-americano enviou uma comissão ao Brasil que começou a fiscalizar frigoríficos desde ontem, para observar se foram corrigidas as inconformidades apontadas por técnicos em junho, o que reverteria a suspensão das exportações para aquele mercado. Para a Abrafrigo, se os vizinhos do Norte retomarem as relações, é possível voltar ao patamar de vendas recorde de 2014 em pouco tempo.

Confiança
O diretor de pecuária da Sociedade Rural do Paraná (SRP), Ricardo Rezende, afirma que agentes de mercado retomaram a confiança na qualidade do produto nacional. Ele acredita que a indústria, porém, não foi tão prejudicada quanto os criadores de gado com a crise pela operação da Polícia Federal. "Os frigoríficos aproveitaram para jogar os preços da arroba para baixo e para fazer caixa, mas não caiu tanto o valor para o consumidor."

Com o desgaste dos produtores, Rezende conta que houve desequilíbrio na oferta de bois gordos, o que pode fazer com que os valores aumentem mais nos próximos meses. Questões como a seca, que prejudica as pastagens, também são motivos.

O consumo interno, por outro lado, não tem ajudado o setor. Segundo a Abrafrigo, a média histórica de 40 quilos de carne bovina por habitante deve cair para cerca de 30 kg neste ano, devido à recessão econômica.

Há oferta menor de boi para confinamento
O pecuarista e confinador de gado André Carioba, de Londrina, afirma que há baixa oferta de boi magro para engorda no mercado. Ele diz que as incertezas geradas pela Operação Carne Fraca e a delação de diretores da J&F, controladora da JBS, sobre corrupção no governo federal, contribuíram para o descasamento entre as expectativas de frigoríficos e exportadores e de produtores. "Por isso, nossa expectativa é de que o preço deve subir nos próximos meses", diz.

Para ele, se o preço da arroba estivesse hoje em R$ 160, o confinador teria uma margem razoável de lucro. Carioba especula que o valor chegue a tanto no médio prazo, mas afirma que isso não significa que precise aumentar para o consumidor final, ainda mais em um momento de queda nas vendas internas. "Se calcularmos no açougue, o preço da arroba está em R$ 220, então eles têm uma margem melhor."

No entanto, mais do que bons preços, o pecuarista diz que é preciso que exista equilíbrio no mercado. "O que é ruim para o produtor é toda essa oscilação em pouco tempo, com preço da arroba a R$ 150 em janeiro, em R$ 120 durante a operação, em R$ 150 de novo. Isso atrapalha porque trabalhamos em ciclos de seis meses", diz Carioba. (F.G.)