O cálculo feito pela atual diretoria da Sercomtel, segundo o qual a dívida da empresa pode chegar a R$ 811 milhões, não faz sentido algum. É o que afirma Guilherme Casado, presidente da operadora no período de maio de 2016 a janeiro deste ano. Ele se diz surpreendido pelo valor que foi divulgado durante reunião realizada com os funcionários na última segunda-feira. E afirma que a planilha de dívida apresentada "vai contra os princípios das ciências contábeis".

Um dos itens incluídos na conta e questionado por Casado é o prejuízo acumulado de R$ 190 milhões. "O patrimônio líquido (PL) é formado pelo capital inicial. Ele sobe quando tem lucro e baixa quando há prejuízo. Quando eu tenho um prejuízo acumulado, ele é amortizado no PL. Já foi realizado. Não gera desembolso contábil ou financeiro no futuro", explica.

O ex-presidente também questiona os R$ 120 milhões de dívidas municipais. "No passado, a Prefeitura apresentou autos de infração contra a Sercomtel por supostas dívidas de ISS. Mas 90% deles foram anulados em primeira, segunda e terceira instâncias da Justiça. Para a maioria não cabem mais recursos", alega.

Quanto às multas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), de R$ 24 milhões, segundo Casado, elas não terão impacto no caixa da empresa porque serão trocadas por investimentos graças a um termo de ajuste de conduta (TAC) que será assinado entre a Sercomtel e o órgão regulador. "Outras operadoras também estão trocando dívidas por investimentos. O TAC com a Vivo já foi feito", afirma.

Casado também critica o fato de a atual diretoria ter informado uma provisão de R$ 216 milhões para ações judiciais. "A maioria desses processos é classificada como 'remota'. Ou seja, há remotas chances de que a Sercomtel venha a perdê-los no futuro", ressalta. Ainda, para o ex-presidente, não faz sentido a empresa apresentar R$ 144 milhões como contas a pagar e nenhum centavo como contas a receber. Nas palavras dele, a atual direção está "rasgando os livros de ciências contábeis e econômicas".

O ex-presidente alega que parte do prejuízo de R$ 17,1 milhões do ano passado é contábil, como a redução do capital social da Sercomtel Contact Center, de R$ 3,2 milhões. O resultado operacional, portanto, seria de R$ 13,9 milhões. "O resultado foi diretamente influenciado pela notória crise econômica enfrentada pelo Brasil", destaca. Ele cita como exemplo de fatores que levaram ao prejuízo o aumento "sem precedentes" dos custos da energia elétrica, "principal insumo da indústria de telecomunicações", e a "forte" desvalorização do real frente ao dólar. "80% dos equipamentos são importados e a inflação, num setor com margens deflacionárias, refletiu diretamente no resultado negativo de 2016", declara.

Para Casado, a divulgação de uma dívida de R$ 811 milhões, "muito distante da realidade", causa prejuízos à empresa, aos sócios (Prefeitura e Copel) e aos acionistas minoritários, antigos donos de linhas de telefones que receberam ações preferenciais da empresa. "Além disso, retira a credibilidade e qualquer perspectiva da empresa obter crédito junto a agentes financeiros."

No balanço do ano passado, o total de passivos da Sercomtel é de R$ 238,9 milhões.

OUTRO LADO

A presidência da Sercomtel comentou, via assessoria de imprensa, que os números do balanço foram aceitos e confirmados por uma auditoria externa e independente e que os dados financeiros foram revelados por uma decisão do Conselho de Administração e podem ser checados. "O caminho para se recuperar a empresa passa por muito trabalho, maior agressividade comercial, revisão de contratos, excelência na defesa jurídica e respeito aos acionistas majoritários e aos cidadãos, através da absoluta transparência", diz a nota enviada à redação.