Energia que deixou de ser economizada daria para abastecer Londrina por quase um mês
Energia que deixou de ser economizada daria para abastecer Londrina por quase um mês | Foto: Shutterstock



A desatualização de maquinário industrial, de lâmpadas e de eletrodomésticos é o principal motivo para que o País deixasse de economizar em energia elétrica, nos últimos três anos, o equivalente a 1,4 vezes a produção da Itaipu Binacional do ano passado. De acordo com relatório divulgado no início deste mês pela Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia), o País deixou escapar pela tomada R$ 61,7 bilhões no período, o que poderia ser resolvido com incentivos governamentais à modernização industrial e à fabricação de produtos de consumo mais eficiente.
Sem tal desperdício, seria possível reduzir o uso de termelétricas em momentos de baixa nos reservatórios de usinas hidrelétricas e uma menor necessidade de investimentos na ampliação da rede, o que baratearia a tarifa. A quantidade de eletricidade que deixou de ser economizada é equivalente a 143,6 milhões de gigawatt-hora (Gwh), o que poderia abastecer por um mês uma cidade de 533 mil habitantes durante um mês, de acordo com a Abesco. O número é quase a população de Londrina, que fechou 2016 com 553 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
É consenso entre especialistas que o País investiu muito nos últimos anos na geração de fontes renováveis. Dados da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) apontam o crescimento neste ano de 38% na geração nacional de energia eólica. Entretanto, há poucos incentivos, por exemplo, para que usuários industriais ou mesmo residenciais invistam na própria geração, por meio da instalação de um sistema de aproveitamento de energia solar.

Imagem ilustrativa da imagem Desperdício de energia atinge R$ 61,7 bi em três anos



DESINDUSTRIALIZAÇÃO
O presidente da Abesco, Alexandre Moana, cita que a economia de eletricidade poderia ser ainda menor, caso o Brasil não tivesse passado por processos de crise econômica e desindustrialização. "O crescimento do consumo residencial nos últimos três anos foi de 82% no setor comercial, de 72% no residencial e de somente 5% no industrial", afirma. "Fortalecer as políticas que auxiliam a renovação do parque produtivo seria uma solução muito melhor do que só estabelecer metas de eficiência. Uma linha do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) poderia ter um bom resultado."
Mesmo assim, Moana também sugere a criação de um certificado de eficiência energética para o setor de serviços, para que o consumidor possa fazer uma escolha consciente na hora da contratação. O modelo poderia ser semelhante ao do Selo Procel de Economia de Energia, usado em equipamentos e eletrodomésticos.
O diretor de engenharia de infraestrutura elétrica do Cerne (Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia), Milton Pinto, afirma que é preciso racionalizar também a geração, que hoje tem origem em grandes hidrelétricas que estão distantes das maiores regiões consumidoras. Apesar do desperdício inerente à transmissão não ser o principal fator de perda, ele lembra que é possível evoluir. "A resolução 482 da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que estabelece as condições para a microgeração de energia em residências, no comércio, é somente de 2012 e ainda foi pouco divulgada", diz.
Pinto é outro que vê como necessário o uso de incentivos governamentais a investimentos na troca de equipamentos. "O próprio segmento eólico se desenvolveu assim, é preciso oferecer os mesmos benefícios em outras frentes", diz. "É preciso vencer também o ceticismo do empresariado, porque existe um custo inicial, mas, se for diluído ao longo do tempo, vale a pena", completa o diretor do Cerne.

País é vice-lanterna em ranking mundial
O Brasil é o vice-lanterna entre os 23 países responsáveis por 75% do consumo de energia e 80% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, à frente apenas da Arábia Saudita, conforme o estudo do ACEEE (Conselho Americano para Eficiência Energética e Economia, na sigla em inglês). Nesse levantamento, o órgão leva em consideração ainda a eficiência em edificações, indústria, transporte e esforços nacionais para se desenvolver, o que inclui outros tipos de fontes, como combustíveis.
Quando considerados os outros países emergentes do BRICS, também fica atrás de China (6º), Índia (14º), Rússia (17º) e África do Sul (21º). "Houve um pouco de relaxo, porque o País investiu muito em energia renovável e pouco na renovação do parque industrial, o que exige mais energia para fazer o mesmo trabalho", diz o presidente da Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia), Alexandre Moana.

TAREFA DE CASA
Trocar a geladeira antiga por uma mais eficiente, usar lâmpadas de LED e fazer o uso racional de carregadores de telefone celulares, chuveiros e aparelhos de ar-condicionado são algumas das alternativas para economizar. No entanto, nada disso é novidade para os consumidores residenciais. "A eficiência passa por uma educação ambiental que todos os países precisam ter e que ainda começa a ser feita no Brasil", diz o diretor de engenharia de infraestrutura elétrica do Cerne (Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia), Milton Pinto. (F.G.)