Os produtores e a indústria de carne bovina respiraram aliviados com o anúncio nesta terça-feira (28) de que Hong Kong retomará as compras de proteína animal do Brasil. A maior preocupação do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarne) era que a carne ficasse no mercado interno e, com isso, provocasse uma queda brusca dos preços.

Juntamente com China, que retirou a suspensão imposta às carnes brasileiras no sábado, Hong Kong representou no ano passado 33,57% do faturamento com exportações e 35,43% do volume embarcado, conforme dados compilados pela Associação das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

A expectativa do Sindicarne agora é com a liberação das importações pela União Europeia. Segundo o sindicato, está ocorrendo uma pressão por parte dos produtores europeus para um endurecimento com a importação de carne brasileira.

O comissário europeu para Saúde e Sanidade Alimentar, Vytenis Andriukaitis, disse nesta terça-feira que as suspeitas de corrupção no sistema brasileiro de fiscalização fitossanitária são "inaceitáveis", ainda mais quando colocam em risco a saúde da população aqui ou na Europa. A afirmação foi feita após reunião com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, em Brasília.

Andriukaitis disse ter explicado a Maggi a posição dos Estados-membros da União Europeia, do Parlamento Europeu e de outras autoridades. "Brasil e União Europeia são parceiros fortes", afirmou. Por isso, acrescentou, é importante o comprometimento do ministro no sentido de demonstrar que o sistema sanitário brasileiro é confiável. "Um controle independente dará a mensagem aos parceiros brasileiros que o sistema é capaz de oferecer confiança e previsibilidade", comentou.

Ele afirmou que ainda é difícil determinar se o problema no controle sanitário brasileiro é pontual ou sistêmico. Mas que, até o momento, está satisfeito com as medidas adotadas pelo governo brasileiro e pelo diálogo aberto e transparente.

EMBARGOS
Os 13 países (Argélia, Jamaica, Trinidad e Tobago, Panamá, Catar, México, Bahamas, São Vicente e Granadinas, Granada, São Cristóvão e Nevis, Marrocos, Zimbábue e Santa Lúcia)que ainda mantêm veto total às carnes brasileiras, incluindo suína e de frango, não alcançam 2% do faturamento e 2% dos embarques de carne bovina brasileira.

No ano passado, o Brasil exportou o equivalente a US$ 5,51 bilhões em carne bovina, com o embarque de 1,4 milhão de toneladas. Só Hong Kong absorveu 330,5 mil toneladas (23,6% do total exportado pelo Brasil), pagando por elas US$ 1,14 bilhão (20,76% do total faturado em 2016). Já a China comprou 165,7 mil toneladas (11,8%), com desembolso de US$ 706,2 milhões (12,8% do total), conforme a Abiec.

Há, ainda, aqueles mercados (Japão, África do Sul, União Europeia, Suíça, Arábia Saudita, Canadá, Emirados Árabes Unidos, Vietnã, Peru e Bahrein) que impuseram restrições apenas aos 21 frigoríficos investigados na Operação Carne Fraca.

O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviço divulgou na segunda-feira (27), que a exportação média diária de carnes caiu 18,8% na quarta semana (US$ 50,5 milhões) de março, comparado com a semana anterior (US$ 62,2 milhões).

O Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar) está fazendo um levantamento junto às empresas associadas para dimensionar os impactos da Carne Fraca no setor e alinhavar uma agenda de ações. O sindicato entende que a retomada da compra dos produtos brasileiros "mostra que a qualidade e a sanidade do produto brasileiro são reconhecidos internacionalmente."

IMAGEM
O superintendente e gerente de relações internacionais da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Reinaldo Tockus, afirmou que o momento é de "limpar a lousa e tirar a sombra de ilegalidade sobre o setor". "Houve um aranhão na imagem, que num primeiro momento ficou prejudicada em alguns mercados", disse

Tockus, que ressaltou que o impacto não foi só com a suspensão da venda do produto, mas também com a suspensão das atividades de alguns frigoríficos.

"Por exemplo, um abatedor de aves que processa 500 mil frangos por dia e que deixa de processá-los hoje, amanhã terá um milhão de frangos. Isso cria um transtorno tão grande que a empresa não tem como administrar a não ser interrompendo atividade", exemplificou o superintendente. Para ele, isso traz um prejuízo de ordem material e emocional para os funcionários.

Na opinião de Tockus, a repercussão da operação da PF deve estimular quem trabalha de forma correta a continuar neste caminho e servir como fator mitigador para que esses fatos não ocorram mais. "Essa mácula precisa ser encarada de uma forma madura, trazendo os compradores para visitarem os processos de produção para restabelecer a confiança do mercado", afirmou.(Com Tânia Rabello e Lu Aiko Otta, Agência Estado)