Há poucas semanas, representantes de uma grande empresa da área de tecnologia da informação estiveram na Prefeitura de Londrina negociando a implantação de uma planta na cidade. Falaram com José Joaquim Ribeiro e ficaram de voltar na próxima segunda-feira, dia 24. Se voltarem, encontrarão um novo prefeito. Ontem, um deles ligou aflito para a Prefeitura ao saber da prisão de Ribeiro, que renunciou ao cargo ontem de manhã.
O prejuízo que a crise política traz para a economia de Londrina é difícil de calcular. A instabilidade deixa investidores inseguros. O troca-troca de gestores atrapalha as negociações. Em menos de quatro anos, a cidade trocou quatro vezes de prefeito. Foram sete presidentes do Instituto de Desenvolvimento de Londrina (Codel), pasta que serve de interface com os investidores.
Um empresário que se prepara para novos investimentos em Londrina disse que teve de praticamente refazer as negociações em pouco mais de um mês. ''Fui conversar com o prefeito Barbosa Neto e sua equipe. Dez dias depois voltei e era outro prefeito e outros secretários. Recomecei a conversa do zero'', contou ele que pediu para não ser identificado.
Ex-diretor de Ciência e Tecnologia da Codel, o empresários Marcus von Borstel afirma que os investidores ficam ''ariscos'' quando se deparam com uma situação como a de Londrina. ''Eles dizem: 'vamos esperar esta situação passar''', conta. Segundo Borstel, durante a administração de Barbosa Neto, houve uma boa aproximação entre a iniciativa privada e o Poder Público visando promover a competitividade de Londrina.
Por meio do Movimento Londrina Competitiva (MLC), os empresários arrecadaram cerca de R$ 2,5 milhões e pagaram uma consultoria na Prefeitura. ''Houve bom entrosamento durante um certo tempo, mas depois a crise se instalou'', recorda.
Para o presidente da Associação Comercial e Industrial (Acil), Flávio Balan, vai demorar um pouco para o empresariado se recuperar da decepção com o governo municipal. ''Não será muito fácil recuperar a confiança.'' Ele diz que a crise abala a autoestima da classe.
Balan lembra que ''não é de hoje'' que a cidade vive crises políticas. E que a Prefeitura não se aparelhou para puxar o desenvolvimento de Londrina. ''Esses dias, fui levar um empresário na Codel e fiquei até com vergonha. Não há estrutura física nenhuma. E o quadro de pessoal é muito pequeno'', critica.
Apesar disso, o empresário afirma que há um lado positivo na crise. ''Ela demonstra que as instituições estão funcionado'', afirma numa referência ao Ministério Público e à Justiça. Ex-presidente da Acil, Rubens Benedito Augusto concorda com Balan. ''Não tenho dúvida de que Curitiba e Maringá tenham problemas de corrupção até piores, mas não são conhecidos. Eu prefiro que as instituições estejam funcionando e os casos sejam revelados e punidos'', declara.
A crise política afeta também o Poder Legislativo que até agora não conseguiu aprovar o Plano Diretor da Cidade. ''O projeto está em tramitação desde 2010. Existem empreendimentos estimados em R$ 3 bilhões a serem erguidos na cidade que necessitam da aprovação do plano. É um prejuízo muito grande que a crise traz para toda a cidade'', afirma o presidente do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon), Gerson Guariente.