Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia e Paulo Guedes: desentendimento gera incerteza no mercado
Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia e Paulo Guedes: desentendimento gera incerteza no mercado | Foto: Carolina Antunes/PR

São Paulo - O Índice Bovespa teve nesta sexta-feira (22), sua quarta queda consecutiva e voltou a se distanciar da marca dos 100 mil pontos atingida na segunda-feira. Se no início da semana predominava a confiança na aprovação da reforma da Previdência, agora o clima é de cautela com os desdobramentos políticos e jurídicos da prisão do ex-presidente Michel Temer e das dificuldades de articulação do governo Bolsonaro em diferentes esferas. O mercado internacional também contribuiu com forte aversão ao risco, em meio a novos temores de desaquecimento da economia global.



O Ibovespa terminou o dia em queda de 3,10%, aos 93.735,15 pontos. Com mais esse resultado negativo, terminou a semana com perda acumulada de 5,45% - pior porcentual desde a semana terminada em 10 de agosto do ano passado, quando o indicador caiu 6,04%, influenciado pela turbulência internacional envolvendo a crise na Turquia. Os negócios do dia somaram R$ 19,4 bilhões.


Os temores dos investidores se concentraram principalmente na figura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que teria tomado a decisão de abandonar a articulação da Previdência após protagonizar desentendimento público com o ministro Sérgio Moro (Justiça) e ver uma manifestação o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, em favor de Moro.


No mercado, houve espaço para especulações de curto e médio prazo, mas a expectativa ainda é de que a reforma da Previdência passará pelo Congresso. Contudo, o clima de euforia de tempos atrás dificilmente será recuperado no curto prazo. "Acredito que a reforma vai passar, nem que seja a fórceps, porque a essa altura os parlamentares já devem estar cientes de que não existe outra opção para o País. O problema agora é o prazo, que pode se estender além do esperado", disse o economista Pedro Coelho Afonso.


Entre as preocupações do mercado está o difícil relacionamento do governo com as bancadas no Congresso, que passaram a dar sinais de afastamento. Desde a apresentação da proposta de reforma dos militares, na quarta-feira, que a tarefa de definir o relator da PEC da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara parece mais difícil. A queda da popularidade de Bolsonaro foi outro fator a gerar algum isolamento. "Os parlamentares passaram a evitar o ônus da reforma nesse momento", disse Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora.


DÓLAR

O clima ruim no mercado de câmbio piorou em meio às repercussões das ameaças do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de abandonar a articulação da reforma da Previdência. Para completar, a moeda americana teve alta generalizada nesta sexta-feira ante emergentes, com o temor de desaceleração da economia mundial, preocupação que foi ampliada após a divulgação de indicadores fracos da atividade na Alemanha e outros países da zona do euro, além do Japão e Estados Unidos.


O real teve o segundo pior desempenho ante o dólar, perdendo apenas para a Turquia. Aqui, o dólar fechou em alta de 2,65%, a R$ 3,9016, o maior nível desde o fechamento de 26 de dezembro (R$ 3,92). Na semana, a moeda americana acumulou valorização de 2,12%.



O dólar operou em alta durante todo o dia, mas foi só no meio da tarde que superou o nível de R$ 3,90. Segundo um gestor de renda fixa, não repercutiu bem nas mesas a declaração de Jair Bolsonaro sobre o desentendimento entre Maia e seu filho. "Se a postagem de Carlos foi causa de insatisfação de Maia, lamento, mas não é motivo", disse o presidente no Chile. Para tentar resolver a crise, Bolsonaro deve se encontrar com Maia na segunda-feira (25).


O banco americano JPMorgan avalia que os eventos desta semana no Brasil - a prisão de Temer, a forte queda no índice de aprovação de Bolsonaro, o desentendimento entre Maia e Carlos Bolsonaro e a tímida proposta de reforma para os militares - elevam a chance de a tramitação da reforma da Previdência sofrer atrasos e/ou ser mais desidratada do que o inicialmente esperado. A instituição, porém, acredita que as chances de a reforma ser aprovada são maiores que as de não ser e mantém seu cenário-base de aprovação das medidas até o final do ano.


Para o operador da CM Capital, Thiago Silêncio, ainda é cedo para afirmar se as altas do dólar de quinta e desta sexta-feira podem ser a nova tendência da moeda. Ainda há muitos desdobramentos pela frente, ressalta. Mas ele observa que os investidores procuraram aumentar suas proteções na moeda americana, seja no mercado futuro de câmbio, seja em derivativos "Não é só especulação, tem demanda por hedge", disse ele. Apenas na quinta-feira, os investidores estrangeiros elevaram as posições compradas em dólar, que ganham com a alta da moeda, no mercado futuro em US$ 500 milhões, segundo dados da B3.