Brasília O Banco Central (BC) elevou os juros básicos da economia de 22% para 25% ao ano, a taxa mais alta desde maio de 1999, quando o Brasil se recuperava da crise que levou à maxidesvalorização do real. A decisão foi tomada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que apontou o aumento dos preços como justificativa. Em nota divulgada após a reunião, o BC informou: ''O aumento da inflação desde a última reunião, aliado ao nível ainda elevado da inflação esperada, levou o Copom a aumentar a taxa Selic para 25% ao ano. A decisão foi unânime''.
Na reunião de ontem, a última comandada por Armínio Fraga, o Copom não indicou nenhuma tendência (viés) para os juros. Isso significa que a taxa de 25% ao ano deve ser mantida até o próximo encontro, marcado para os dias 21 e 22 de janeiro, quando Henrique Meirelles já deverá ter assumido a presidência do BC.
Em sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, anteontem, Meirelles elogiou os procedimentos usados pela atual diretoria do BC para fixar a taxa de juros e disse ainda que pretende manter a sistemática de reuniões mensais para o Copom.
A alta dos juros já era prevista pelo mercado, embora a maioria dos analistas esperasse uma elevação de dois pontos percentuais, e não de três, como ocorreu.
Mais uma vez, o BC aumenta os juros para tentar conter as expectativas de que a inflação vá continuar subindo de agora em diante. No mês passado, a taxa Selic já havia sido elevada em um ponto percentual, também por causa do receio do mercado de que ocorra uma disparada nos preços.
Inflação No dia 19 de novembro, véspera da então reunião do Copom, pesquisa feita pelo BC mostrava que o mercado projetava uma alta de 9,81% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2003. Na semana passada, essa estimativa já estava em 12,12%.
Entre janeiro e novembro, o IPCA acumulou alta de 10,22%, bem acima dos 5,5% previstos pelo teto da meta fixada pelo governo para este ano. Para 2003, a meta é de 4%, com margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais. Esses valores, porém, poderão ser revisados pelo novo governo.
Ao subir os juros, o BC sinaliza que está atento ao controle da inflação. Isso pode fazer com que empresas e consumidores passem a acreditar que a ação do governo será suficiente para evitar a alta dos preços. Isso, por si só, reduziria a velocidade dos reajustes.
Juros mais altos servem para desestimular o consumo. Com menos pessoas fazendo compras, o comércio tem mais dificuldade para reajustar preços. Com isso, a inflação no varejo tende a cair.
Além disso, o aumento na taxa Selic torna mais rentáveis as aplicações em renda fixa. Assim, alguns investidores passam a deixar de comprar dólares para colocar seu dinheiro nessa modalidade de investimento. Esse movimento retira um pouco da pressão sobre a cotação da moeda dos EUA.