O dilema dos executivos desempregados
Quase 12 milhões de brasileiros estão sem emprego. A crise econômica vivida pelo País passou uma rasteira em trabalhadores que, até um passado recente, nem consideravam a possibilidade de perderem seus cargos. Alguns, inclusive, vivem a dor da demissão pela primeira vez. E neste bolo também estão muitos executivos altamente capacitados que construíram suas carreiras em médias e grandes empresas.
O fato é que a situação atual desses profissionais de alta envergadura, apesar de quase ninguém comentar, é bastante complicada por um simples motivo: trabalhadores que possuem menos experiência e qualificação, hoje em dia têm mais chances de se recolocarem no mercado do que aqueles que concorrem a cargos executivos, com remuneração bem acima da média e um número restrito de oportunidades.
E o futuro também traz uma série de inseguranças porque muitas das organizações que demitiram funcionários do alto escalão simplesmente cortaram posições dessa natureza da sua estrutura. Se antes a empresa tinha cinco diretores e agora tem três, não quer mais voltar aos mesmos cinco de outrora, a não ser que consiga expandir os negócios de verdade.
No entanto, o que fazer, quando o leitor é um desses executivos desempregados? A resposta passa por um outro questionamento: você está preparado financeiramente para aguardar ainda um certo tempo até que o mercado volte a contratar gente como você? Ou precisa de um emprego para ontem?
Se as contas estão chegando e você não fez um pé-de-meia razoável, sinto lhe dizer que seu espaço de manobra é pequeno. Mais: terá que buscar uma recolocação rápida, mesmo que isso signifique aceitar um trabalho pouco promissor e sem a remuneração dos bons tempos. Possivelmente acabará dando alguns passos para trás na carreira porque não pode esperar.
Por outro lado, se há algum tempo já vinha se preparando para uma possível demissão e conseguiu construir uma boa reserva financeira para atravessar esse momento de baixa do mercado, certamente avaliará as propostas de emprego que surgirem com um nível de exigência muito maior. Só não esqueça de que um dia o dinheiro acaba e não dá para ficar aguardando em berço esplêndido aquele tipo de convite irrecusável que costuma aparecer apenas em tempos de bonança.
Com mais pessoas qualificadas sem emprego, a concorrência tem aumentado, bem como o risco de profissionais experientes perderem espaço para jovens que aceitam fazer o mesmo trabalho por muito menos dinheiro. Resumindo: há o risco real de muitos executivos jamais recuperarem o patamar de remuneração e oportunidades que tinham até dois anos atrás.
Mas em nenhum dos casos há motivo para desespero se você implementar algumas práticas. A primeira delas é aproveitar o desemprego temporário para fazer um balanço da própria carreira. Alguns executivos passam anos à frente de uma mesma empresa e, apesar de qualificados, acabam não se atualizando como deveriam. Esse pode ser um bom momento de retomar os estudos, fazendo cursos rápidos que agreguem conhecimentos práticos e úteis, por exemplo.
Outra coisa é buscar oportunidades onde elas realmente existem e manter-se no radar das pessoas que poderão contratá-lo. Gerentes de RH e diretores de empresas nas quais tem interesse de trabalhar precisam saber aquilo que você faz muito bem. Por isso, participe de eventos corporativos e sociais da sua cidade, mantenha sua página no LinkedIn atualizada e procure estar na mira dos headhunters.
Perder o emprego neste momento pode ter sido doloroso, mas, ao mesmo tempo, representar a grande chance que você tem de dar um novo fôlego à sua carreira, já que terá de efetivar mudanças que, por vontade própria, talvez não buscaria. O que estou querendo expressar é que, para muitos, a demissão pode ser uma dádiva, a chance que faltava para alcançar um patamar superior na carreira, mudar de área ou até mesmo abrir o próprio negócio.

Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial