Nanico em poupança

O Brasil é uma economia cujo fluxo de mercadorias e serviços com o resto do mundo tende a ser negativo, característica nem sempre compreendida.

O leitor Waldir Oliveira, de São Sebastião, pergunta: ''Por que o Brasil precisa apresentar um rombo nas suas contas externas para contar com o afluxo de investimentos estrangeiros?''

Aí vai a resposta. As contas externas se dividem em dois segmentos. No primeiro, estão as Contas Correntes. Nelas são registradas receitas e despesas com o exterior em mercadorias, serviços e transferências. No outro, está a Conta de Capitais. Aí são lançadas entradas e saídas tanto de investimentos como de operações financeiras.

Essas contas externas (Balanço de Pagamentos) têm de ser equilibradas. Se houver mais entrada de moeda estrangeira do que saída, o câmbio se valoriza, ou seja, a cotação do dólar cai e, na queda, tira competitividade do setor produtivo: encarece o produto nacional em dólares e barateia o importado em reais.

Se for o contrário e os pagamentos ao exterior superarem as receitas, pode haver desvalorização cambial, com barateamento do produto exportado em dólares e encarecimento do importado em reais. Se essa tendência se acentuar, empresários e pessoas físicas correrão aos estoques de dólares e o País perderá reservas.

O Banco Central é agente importante nesse equilíbrio. Tanto pode comprar dólares (formar reservas) como vender (se desfazer de reservas). Para comprar reservas têm de ter recursos orçamentários, ou seja, contar com poupança.

O Brasil é um nanico nesse quesito. Poupa só 16% do PIB. O padrão asiático está entre 30% e 35% do PIB. A China, campeã do mundo na categoria, poupa 51%.
O baixo nível de poupança indica que o Brasil consome mais do que deveria. E, também, que deixa pouco para investir e garantir o crescimento. Hoje, o investimento oscila entre 17% e 19% do PIB. Se quiser crescer 5% ao ano, o Brasil terá de investir perto de 25% do que produz.

O baixo nível de poupança é a maior razão pela qual o Brasil precisa da injeção de capital estrangeiro. A Petrobrás, por exemplo, tem uma carteira de investimentos de US$ 225 bilhões (R$ 550 bilhões) em cinco anos, para exploração, produção, refinarias, etc. E não consegue gerar os recursos só com a venda dos combustíveis que produz. Recorre a empréstimos externos e a subscrições de capital.

A Petrobras é uma fração das contas externas do Brasil. Toda a economia brasileira precisa de mais capital externo. Em 2011, trouxe US$ 66,6 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros e US$ 112,4 bilhões em financiamentos líquidos.

Agora, vamos ao ponto. Se é preciso contar com capitais externos nessas proporções para não haver sobra de dólares no mercado e excessiva valorização do real (baixa do dólar no câmbio interno), as tais Contas Correntes têm de ser negativas; terão de gerar mais saída do que entrada de dólares para compensar o superavit nas contas de capital.

A China não tem esse problema. Dispõe, como ficou dito, de uma poupança nacional de 51% do PIB. Com essa fartura, o governo chinês compra o excesso de dólares gerado pelas suas Contas Correntes. Pela sua baixa poupança, a capacidade de formação de reservas do Brasil é limitada.