As bolsas chinesas fecharam em forte alta pelo segundo pregão consecutivo nesta sexta-feira, 10, aparentemente impulsionadas por recentes medidas de Pequim, influenciando outros mercados na Ásia. Analistas, porém, questionam se a recuperação recente das ações chinesas irá de fato se sustentar.

O Xangai Composto, principal índice acionário da China, saltou 4,5%, a 3.877,80 pontos, embora tenha permanecido 24,9% abaixo do pico que atingiu em junho. O Shenzhen avançou 4,1%, mas continua 35,2% abaixo da máxima do mês passado. Além disso, negócios envolvendo um pouco menos da metade de todas as ações negociadas nessas bolsas continuaram suspensos hoje. O ChiNext, que reúne empresas com valor de capitalização menor, subiu 4,1%, a 2.535,89 pontos, mas permanece 36,3% abaixo do pico de junho.

Com o rali dos dois últimos pregões, o Xangai Composto encerrou a semana no azul, após uma sequência de três semanas de desvalorização.

O movimento alivia a tensão no mercado europeu, já bastante afetado pelo impasse entre a Grécia e seus credores. O país pode fechar um acordo ainda hoje e encerrar as dúvidas sobre sua permanência na zona do euro, o que aliado ao bom desempenho do mercado chinês, fez com que as Bolsas de Londres, Paris, Frankfurt, Madri e Milão tivessem ganhos robustos na abertura.

Às 9h20 (horário de Brasília), o índice FTSE, de Londres, avançava 1,45%; o PCAC, de Paris, tinha ganhos de 3,16%; o DAX, de Frankfurt, subia 2,44%; o IBEX35, de Madri, tinha alta de 3,25%; e o FTSEMIB, de Milão, avançava de 2,87%.

Já a Bolsa de Tóquio fechou em leve baixa nesta sexta-feira, influenciada por um intenso movimento de venda de ações do peso pesado Fast Retailing, registrando a maior perda semanal desde o último trimestre do ano passado.

O índice Nikkei, que reúne as ações mais negociadas na capital do Japão, recuou 0,38%, a 19.779,83 pontos, apagando parte dos ganhos da sessão anterior. Na semana, a desvalorização do Nikkei foi de 3,7%, a maior desde meados de outubro. Com isso, o principal índice acionário japonês teve perdas em cinco das últimas seis semanas. Desde o início do ano, no entanto, o Nikkei ainda acumula ganhos de 13,3%.

Em Hong Kong, o índice Hang Seng seguiu o exemplo dos mercados na China continental e teve alta de 2,1%, a 24.901,28 pontos, também acumulando ganhos pelo segundo dia seguido. Na Coreia do Sul, o índice Kospi, de Seul, teve leve alta de 0,17%, a 2.031,17 pontos. O mercado de Taiwan ficou fechado devido à aproximação do tufão Chan-hom.

Na Oceania, a bolsa australiana também terminou o dia em tom positivo, diante da reação dos preços do minério de ferro. O índice S&P/ASX, de Sydney, subiu 0,4%, a 5.492,00 pontos, reduzindo as perdas na semana a 0,8%. Com a alta de 1,5% do valor do minério de ferro ontem, a BHP Billiton e a Rio Tinto, dois dos maiores exportadores mundiais da commodity, saltaram 3% e 2,3%, respectivamente.

Estímulos

Duas das muitas medidas que o governo chinês anunciou recentemente para tentar estabilizar os mercados locais parecem estar por trás do rali dos últimos dois dias, segundo David Cui, chefe de estratégia para ações do Bank of America Merrill Lynch.

A primeira delas foi a promessa do Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês) de prometer liquidez para uma empresa controlada por um órgão regulador que financia investimentos com recursos emprestados, num gesto que, na prática, acaba se tornando uma espécie de "relaxamento quantitativo", diz Cui. Além disso, notícias de que a polícia chinesa está investigado práticas "maliciosas" de vendas a descoberto atraíram aos mercados investidores dispostos a ter lucros imediatos, acrescentou o analista.

Outros economistas dizem que a recente liquidação vista na China trouxe os preços das ações a patamares mais aceitáveis, o que teria gerado o interesse por compras. "Os valores de mercado de algumas empresas estão voltando para níveis razoáveis", disse William Ma, vice-chefe de investimentos da Gottex Penjing Asset Management.

Para Cui, do BofA, é improvável que a China mantenha um rali sustentado. Os danos causados pela recente liquidação, diz ele, "vão se estender bem além dos mercados acionários", enfraquecendo os balanços de bancos e corretoras e provavelmente deteriorando os gastos dos consumidores.