Valdirene Cadam pretende trocar em breve o smartphone que ela comprou há um ano, por causa da câmera frontal
Valdirene Cadam pretende trocar em breve o smartphone que ela comprou há um ano, por causa da câmera frontal | Foto: Fotos: Fábio Alcover



A categoria de smartphones segue a maior em vendas e crescimento dentro do mercado de bens duráveis. Segundo a empresa de dados de mercado Gfk, o segmento cresceu 23% de janeiro a maio deste ano, e teve participação de 43% no mercado de bens duráveis, mais relevante que linha branca, linha marrom, informática e eletroportáteis. No mesmo período do ano passado, entretanto, a categoria amargou uma queda de 34%, reflexo da crise brasileira, dizem os porta-vozes da Gfk.

Com a retomada, a tendência do mercado de smartphones é a estabilização. Esse foi o mote do Smartphone Congress, evento realizado concomitantemente com a Eletrolar Show, feira de eletroeletrônicos em São Paulo, na semana passada. "Agora é muito cedo para dizer em que patamar (a categoria) vai estabilizar, mas certamente vai encontrar equilíbrio", comenta Igor Teixeira, gerente de Telecom da Gfk.

Francisco Valim, executivo do mercado de telecom e varejo, lembra que o mercado de smartphones teve crescimento vertiginoso de 2007 para 2016, passando de 100 milhões de aparelhos vendidos para 1,5 bilhão em todo o mundo. Porém, a taxa de crescimento declina "abruptamente", e o índice, que já chegou a 60%, chega a 5% em 2016. Para os anos seguintes, a projeção é de estabilização e até de queda. "Essa estimativa de venda de smartphones sobe até 2017, 2018 e depois começa a estabilizar e até cair."

O primeiro trimestre de 2016 é quando o mercado de smartphones encontrou o "fundo do poço" no Brasil, afirma Teixeira. "Foi onde a categoria de smartphones começou a retrair e reverter a tendência de crescimento. O consumo no Brasil estava em situação complicada." Mesmo assim, a categoria tinha 46% de participação no varejo.

"A boa noticia é que esse mercado é gigante. Mesmo quando não cresce, tem número muito grande de unidades por ano", observa Valim. Um fenômeno, em meio a esse comportamento de mercado, é que marcas que concentravam até 40% do setor começam a perder market share. "Novos players começam a aparecer, a maior parte deles chineses. Esse mercado, que já foi concentrado, começa a ser populado por marcas novas."

Elielton Alves migrou do modelo de 2 GB para o de 6 GB há seis meses
Elielton Alves migrou do modelo de 2 GB para o de 6 GB há seis meses



Inovações
Para Teixeira, o mercado pode ter inovações que levariam a categoria a patamares maiores de crescimento. Foi o que aconteceu quando surgiu o 2G, a tela de LCD, as câmeras, os sistemas operacionais, as câmeras mais potentes e o 4G nos celulares, por exemplo. Porém, trata-se de um momento econômico que "não se pode ignorar", e o "sortimento" da categoria cai quando para de crescer. Na visão do gerente, o mercado está indo na direção de consolidação de portfólio e de marcas. "Teve um crescimento pujante em 2013 e esse momento de maturidade pode ser transitório. Pode haver uma inovação para o mercado chegar a patamares de 2013, mas esse é um momento em que a margem de lucro fica escassa."

Ainda haverá dois "Black Fridays" sem o apelo de uma nova conectividade, e as fabricantes terão de apostar em outras inovações que farão o consumidor querer trocar o seu aparelho, alerta o gerente da Gfk – seja em armazenamento, tela, realidade virtual, realidade aumentada.

Evolução
A cabeleireira Valdirene Cadam tem um smartphone que comprou um ano atrás, mas pretende trocá-lo em breve. "Pretendo trocar até o fim do ano por causa da selfie", diz. "Hoje mesmo já dei uma olhada (em outro)." A câmera frontal, ela explica, deixa a desejar. Uma boa memória RAM foi o que levou o analista de sistemas Elielton Alves a trocar o seu aparelho há cerca de seis meses. De um modelo com 2 GB, ele migrou para outro de 6 GB. Agora que está satisfeito, entretanto, ele afirma que deverá trocar o seu smartphone atual novamente só daqui a dois anos.

Estratégias para um mercado estável
Em painel sobre o mercado de smartphones, fabricantes falaram sobre estratégias adotadas nesse novo cenário de mercado, com racionalização da oferta e vendas mais estáveis. Norberto Maraschin, vice-presidente de mobilidade da Positivo Tecnologia, disse que há três anos a marca tomou decisões para deixar de ser "follower" (seguidora), buscando inovar. Na ocasião, anunciou ainda que no dia 29 de agosto a Quantum, marca do Grupo Positivo, fará o lançamento de um smartphone que pretende substituir a tela do televisor. "A racionalização da oferta passa por um portfólio mais assertivo. No caso, a Quantum vai arriscar trazer coisas diferentes, tirar o status quo do mercado." Fernando Pezzotti, presidente da Alcatel Brasil, afirmou que fará o relançamento da BlackBerry no Brasil no quarto trimestre desse ano. "Queremos trazer inovação que caiba no bolso e design aliado à inovação. Nosso objetivo é se tornar uma opção para o consumidor brasileiro."
LG e Samsung também falaram sobre as suas estratégias para se aproximar do consumidor brasileiro. "Mais que trazer apenas hardware, nosso objetivo é buscar experiência de uso, mudar a interface, com melhor hardware, sem perder de vista o que o consumidor está disposto a pagar, desde que ele reconheça valor", salientou Marcelo Santos, gerente de Mercado e Produtos da divisão de celulares da LG Electronics. Já para André Varga, diretor de Produto da divisão de dispositivos móveis da Samsung, a "única forma de chegar em um mercado extremamente competitivo é usar a inovação como plataforma". Por isso, a fabricante investe em produtos complementares à categoria, como wearables, smartwatches, câmeras 360 e óculos de realidade virtual.

Inovações
Baterias que duram mais, telas maiores e flexíveis, mais armazenamento e atenção à segurança são inovações que, segundo os executivos de marcas de smartphones, chegarão à categoria nos próximos anos. "O celular pode estar chegando em um momento de plateau (estabilização), mas vai continuar sendo o centro de controle multimídia do usuário, com importância cada vez maior na vida das pessoas. Com isso elas terão a necessidade de buscar celulares com baterias que duram mais e tecnologia de telas flexíveis capazes de virar pulseira ou cartão no bolso. A segurança vai ser fator importante para as pessoas continuarem usando o telefone", prevê Pezzotti, da Alcatel.

Santos, da LG, observa que as telas estão crescendo cada vez mais, mas isso não quer dizer que o consumidor quer um smartphone maior. A ideia, segundo ele, é que o aparelho se torne a "primeira tela" e tenha compatibilidade com consumo de mídia por streaming. O armazenamento também deverá crescer, diz.(M.F.C.)

Quantum faz lançamento em agosto
"Vamos fazer o smartphone ser televisão. Libertar as pessoas da tela de 80" em HD." Esse, segundo Norberto Maraschin, vice-presidente de mobilidade da Positivo Tecnologia, é o objetivo da Quantum, marca de smartphones do Grupo Positivo, com lançamento de novo produto no próximo dia 29 de agosto. O lançamento irá compor o portfólio de "carros-chefe" da marca, diz. A marca, segundo Maraschin, já representa mais da metade do faturamento da divisão de mobilidade da Positivo, que em 2016 cresceu 187% contra 40 a 50% no ano anterior.

Para o vice-presidente, o que faltava para o smartphone "virar TV" era "libertar as pessoas da tela pequena". "É cor, é resolução, é tamanho", continua, dando pistas de que o novo lançamento da Quantum irá prezar por essas características. Ele também critica a usabilidade das smart TVs. "Se pudesse fazer isso pelo celular. Hoje tem pessoas assistindo Netflix por aqui (smartphone). Acho que é aquele negócio da comodidade, da simplicidade."(M.F.C.)