O Brasil tem o menor Produto Interno Bruto (PIB) dos Brics - grupo formado pelos emergentes Brasil, Rússia, Índia e China -, mas é o único que cresce distribuindo renda. Assim é que o publicitário Renato Meirelles, diretor do instituto Data Popular, diferencia o desenvolvimento econômico entre estes países. Ele esteve ontem em Londrina para falar sobre as oportunidades de negócios voltadas à classe C, em palestra promovida pela Rádio CBN.
"O Brasil cresce de baixo para cima. Tanto é que a pirâmide social brasileira se transformou em losango social, com a maior fatia da população concentrada na classe média", afirmou ele em entrevista concedida à FOLHA. Meirelles explica que a classe C, ou nova classe média, é aquela cuja renda familiar per capita vai de R$ 291 a R$ 1.019, representando cerca de 104 milhões de pessoas.
Ele ressalta a importância desta parcela da população na economia brasileira no momento de crise financeira. "O Brasil se segura no seu mercado interno. A classe C sozinha consome R$ 1 trilhão por ano. Se fosse um País, seria o 18º maior em consumo do mundo", compara. Meirelles destaca que a nova classe média representa 52% da população e chegará a 57% em 2022.
De acordo com o diretor, o consumo desse grupo se expande na área de serviços. "Há dez anos, R$ 49 de cada R$ 100 gastos pela classe C eram para serviços. Hoje, são R$ 65", conta. Os serviços mais procurados, segundo Meirelles, são os ligados à telecomunicação: banda larga, TV por assinatura e telefonia. "Um segundo segmento que vem crescendo é o relacionado à educação. Temos 3 milhões a mais de universitários hoje", salienta.
Ele diz que, para esse grupo, investir em educação é uma forma de garantir o crescimento sustentável da renda da família. "Outro gasto da nova classe média que vem crescendo bastante é com viagens e serviços de beleza", conta.
Meirelles explica que a nova classe média cresceu em dois momentos históricos. O primeiro foi no início do Plano Real, com o controle da hiperinflação. "Naquele momento, o processo de perda de renda foi estancado", define. Uma segunda fase importante para essa fatia da população foi o governo Lula, quando houve distribuição de renda. "Houve um aumento no número de empregos formais na economia brasileira com ganho real no salário mínimo", destaca.
Com a expansão do emprego formal, de acordo com o diretor, houve um ingresso maior das mulheres no mercado de trabalho. "As famílias passaram a ter duas fontes de renda. Foram 40 milhões de pessoas que saíram da classe D para a C nos últimos dez anos", declara.
Ele conta que o Data Popular foi criado em 2001, logo que a Goldman Sachs soltou um relatório segundo o qual o futuro do comércio mundial estava no Brasil, na Rússia, na Índia e na China. "Meus sócios pensaram: mas quem vai entender esse processo no Brasil? Por isso, criaram o Data Popular", diz ele. Durante os primeiros três anos, de acordo com Meirelles, o instituto sofreu prejuízos. "As empresas não acreditavam que a classe C fosse virar o que virou no Brasil", afirma.