Nestes dias de pós-Natal e de esperanças que sempre se renovam no limiar de um novo ano, não é notícia boa saber-se que o Japão retomou a pena de morte, após 15 anos. E o fez no dia 25, que se para a comunidade cristã japonesa é significativo, não tem a mesma importância para a maioria da população. Quatro condenados foram executados nesse dia, dois deles septuagenários, e nem seus familiares receberam aviso antecipado da decisão.
Os japoneses do passado - muitos dos quais, ao imigrar para o Brasil, trouxeram para cá suas tradições, suas práticas religiosas e o culto à reverência e à gratidão - não encontram hoje na maioria dos co-irmãos distantes o mesmo ponto de identificação. Porque 80% da população, quase inteiramente tecnicista, é defensora da pena de morte para crimes considerados cruéis. Seguem o exemplo dos Estados Unidos, outra grande nação tecnizada que também adota a pena capital. Todas as formas que induzam ao sacrifício da vida devem ser condenadas, e da mesma maneira as ações de criminosos que, pelo mesmo processo de violência, são levados ao cadafalso.
Condenações à morte são também as guerras, que campeiam nas nações pobres mas também nas ricas e ditas civilizadas; e são as misérias sociais que proliferam em tantos países, Brasil incluído. Na busca dos culpados, depara-se com as próprias vítimas, com os governantes e com a sociedade. A ocorrência da morte pela violência calculada e imposta aos soldados patrícios e aos ditos inimigos - os conflitos armados - e pela negligência de governos e do próprio meio social. Extermina-se a vida de pessoas pela apropriação de bens alheios, pela manutenção de hegemonias políticas e econômicas, por posse territorial, por desvarios diversos e também pela mão do extermínio institucionalizado. A pena de morte, que não é novidade na grande nação americana, surpreende agora partindo da milenar tradição japonesa. E contribui negativamente, por excitar aquelas pessoas que, veladamente, defendem leis de extermínio.
Centenas de milhares de brasileiros trabalham hoje no Japão, e muitos deles foram tragados pelo infortúnio de cometer delitos, e por isso estão presos; outros estão condenados à prisão perpétua e impedidos de retonar ao Brasil. Tristes histórias. Deseja-se sempre, a cada Natal e a cada começo de ano, que cessem as hostilidades no mundo e que se realize o ideal de convivência harmônica entre todos. Esse anseio deve continuar presente nas mentes e sentimentos, para que, pela comunhão de bons desejos, se robusteça a corrente do bem, que é ainda prevalecente nos corações humanos.