Quando se fala em ética ou na falta dela, muita gente pensa logo em política. Em tempos de Lava Jato e Carne Fraca, é compreensível que isso aconteça. Mas a discussão vai muito além, como mostrou a 8ª edição do EncontrosFolha, evento promovido pelo Grupo Folha, na última quarta-feira (22), em Londrina, que discutiu o tema "Transparência e ética nas empresas - reflexos da Lava Jato". Antonio Raimundo dos Santos, diretor de Educação do Isae/FGV e palestrante do Encontros, enfatizou que "a régua moral do País está subindo", consequência principalmente da operação que investiga o esquema criminoso de desvio de dinheiro da Petrobras. Isso significa que a sociedade está menos tolerante com escândalos que envolvam corrupção. A edição deste fim de semana da FOLHA traz cobertura completa do EncontrosFolha, que contou ainda com a presença do advogado com atuação na Lava Jato Marlus Arns, do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, e do diretor da Construtora Plaenge, Alexandre Fabian. O professor Santos trouxe para a palestra um dado assustador: calcula-se que 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e mundial seja tragado por corrupção, fraudes e desvios. Com um PIB nacional na faixa de R$ 6,5 trilhões, chega-se ao montante de mais de R$ 650 bilhões perdidos todos os anos com a bandidagem. A informação é chocante e assusta mais ainda quando o palestrante lembra que os atos de corrupção nem sempre nascem grandes. Atitudes do dia a dia que muitos consideram normais são pequenos delitos que evidenciam um comportamento antiético. Tais como parar em fila dupla no trânsito, assinar ou pedir para assinar listas de presença sem estar presente, fazer "gatos" de luz, água e TV a cabo e dirigir após ingerir bebida alcoólica. O problema está quando o cidadão considera errado desviar milhões de reais de uma estatal, mas não condena apresentar atestado médico falso para faltar no emprego. Ou seja, a corrupção está mais próxima do que se imagina. A Lava Jato, sozinha, não vai passar o Brasil a limpo. É uma oportunidade para promover mudanças. Mas se não houver uma reforma política, medidas eficazes anticorrupção e mudança de comportamento do cidadão, há o grande perigo de tudo permanecer igual.