O sonho de ter um filho biológico para muitas famílias algumas vezes não se concretiza e, em um gesto de muito amor e desprendimento, optam pelos filhos do coração. É a adoção que entra em cena. O gesto, entretanto, demanda um pouco mais de tempo e procedimentos do que o de uma gestação. Além do preconceito que ainda existe entre outros familiares, amigos e na própria sociedade. Para filhos que vêm prontos, há também quem liste o que deseja deles: bebê, pele clara, sem doenças ou deficiências. O que, talvez, seja normal na avaliação dos candidatos.
Mas, se do ponto de vista estatístico o número de famílias supera o número de crianças aptas à adoção, as portas praticamente se fecham para as que que têm necessidades especiais ou doenças crônicas. Só na Comarca de Londrina são 205 casais ou pessoas solteiras aptas a adotar para 47 crianças que estão legalmente prontas para a adoção – oito delas com alguma deficiência. O problema é que, entre os casais, todos já descartaram a possibilidade de assumir crianças com essas características.
No País, o quadro é um pouco melhor. Dados do Conselho Nacional de Justiça indicam que há no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) 6.323 crianças e adolescentes registrados, sendo 793 com deficiência mental ou física e 88 com HIV, que já é considerada uma doença crônica. Entre os que têm pretensão de adotar estão 34.809 pessoas – 24.266 delas só aceitam crianças sem doenças ou deficiências.
O assunto foi tema de uma mesa redonda recentemente no município, promovida pelo Núcleo de Apoio Especializado à Criança e ao Adolescente (NAE). E, na avaliação da juíza substituta da 1ª Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Londrina, Isabele Papafanurakis, é preciso dar a essas crianças uma oportunidade de terem uma convivência familiar. Assim como é preciso mostrar à sociedade que existem crianças especiais que precisam de quem cuide delas, lhes dê amor e atenção. "Não podemos ser indiferentes a elas", afirma a juíza. O papel do Judiciário, reforça ela, é fazer a ligação entre o sonho dessas crianças com o desejo dos candidatos a pais adotivos.