Prefeitos paranaenses, de um modo geral, ante o sufoco que vêm enfrentando, tiveram um momento de euforia no Centro Cívico no ato governamental que lhes assegurou nada menos de R$ 400 milhões de ICMS que lhes era devido. Para completar, a euforia tiveram ganhos também na manhã de ontem com recursos na área de saúde. A revelação de que apenas 90 municípios do País, dentre os mais de 5 mil existentes, teriam situação fiscal razoável dá bem a ideia das dimensões de quebra que alcança esse nível de governo. Isso conduz a interpretações salvacionistas como a proposta pelo Tribunal de Contas - como se dá no mercado financeiro e das empresas - com as fusões especialmente dos menores municípios com até 5 mil habitantes e que geram, como consequência inevitável, as inúteis ainda que ruidosas marchas a Brasília - as mais recentes tentando saídas emergenciais como uma participação mais forte do município em novas etapas com os recursos da repatriação e que reduziram a febre mais de alguns entes (União e Estados) do que de outros. Num momento em que se tenta colocar tudo a reboque das reformas, como se deu nos anos 60 e em alguns momentos do regime militar, temos que repensar, antes de tudo, o modelo federativo e consequentemente os níveis de discriminação de encargos. Muitos desses encargos são hoje verdadeiras cláusulas pétreas, como os que tratam de recursos agregados por imposição constitucional nas áreas da educação e da saúde ao município. Outra patologia é festejar como solução final eventuais conquistas e dá para lembrar a que criou o Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços em lugar do Imposto de Vendas e Consignações, saudado exageradamente como a carta de autonomia dos municípios. Uma pequena melhora, como aquela de caráter institucional, ou um instante de euforia como o de ontem, ainda mais em função da asfixia geral, podem e devem ser comemorados. Todavia, fica evidente, ainda que as conquistas possam vir por etapas, urge algo mais permanente: ter um ideário, uma visão finalista para as cidades que não obtivemos nas várias Constituintes. Desde a Republicana de 1891, avançadíssima de 1946, inclusive a última de 1988, consagrada na visão idealizada que dela extraiu o inesquecível Ulysses Guimarães com o título de Constituição Cidadã, que ironicamente por não chegar na cidade não absorveu a cidadania. Descompressão amaina, porém não resolve. Precisamos de um tsunami municipalista.