Fatiando para evitar pizza?
O relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin, fatiou a denúncia do quadrilhão do PMDB e colocou parte aos cuidados de Sérgio Moro que envolve organização criminosa (Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Alves e Rocha Loures) e a relativa à obstrução da Justiça (o pessoal da JBS, Lúcio Funaro) à conta do juizado do Distrito Federal. Assim apesar de alguns insucessos, o fluxo judicial prossegue com a mesma intensidade como se vê no peso das denúncias do delator Funaro que mais uma vez carrega contra a aliança em rede de Michel Temer e Eduardo Cunha dentro aliás daquele enquadramento da Procuradoria Geral da República que abrange a equipe ministerial chave do país.

Quando do primeiro fatiamento, lá no início, aquele que deixou o petrolão sob Sérgio Moro. ficou nítido que a compreensão de outros magistrados como Marcelo Bretas no Rio e outros em São Paulo e Distrito Federal, tinham a mesma linha de inspiração. A rigor o divisor persiste na instância superior. Alguns erros - uma certa carga autoritária como na questão de Sergio Cabral e sua transferência de presídio contida por Gilmar Mendes - afetaram a imagem da operação e isso num momento em que ela é questionada e acentua o viés de queda, mas a sequência de eventos (novas condenações e revelações de impacto) restabelecem parte do equilíbrio perdido.

Paralelamente, a pregação doutrinária persiste nas ações de procuradores engajadíssimos como Deltan Dallagnol e Carlos Fernando no debate sobre inovações legais que se fazem urgentes e encontram fortíssima resistência do status quo, mormente da classe política que vê em Michel Temer uma espécie de todos na condição de protagonista maior, até pelo arquivamento das duas denúncias, e que ganharia ainda a dimensão de modernizador com sua próxima agenda de lutas todas na linha da recuperação da economia e as reformas.

Reformismo
A bandeira que derrubou João Goulart em 1964, a das reformas de base, é com sentido oposto a que procura salvar o mandato de Michel Temer. A diferença é que um foi vice eleito e o atual não, favorecido pela mecânica da chapa com Dilma. Aliás, foi a vitória de Jango como vice (o homem original da chapa de Jânio era Milton Campos) que levou estrategistas ao retorno da solução automática. Verificou-se com o predomínio do PT que a derrubada de Dilma pelas bases aliadas foi um tanto quanto programada a partir do momento em que a crise se tornou incontrolável não apenas no rumo da economia.

O reformismo de Jango era à esquerda e nacionalista como o atual é pró-mercado e potenciais investidores, o que virava combustão num clima de Guerra Fria acicatado pela ocorrência da revolução cubana e a vitória de Alende no Chile. O governo janguista, em que pese o nível de excelência do seu ministério (com nomes como o nível de Santiago Dantas), com a herança do populismo varguista pendia para uma ruptura de suas alianças geopolíticas e isso bastou para ser derrubado. Como dizia Jaguaribe, a luta era entre o liberalismo cosmopolita, que viraria em neoliberalismo, e o nacional trabalhismo, herança varguista. Hoje é quase igual, só que o vetor das reformas e de linha conservadora, direitista.

Décimo terceiro
Vereadores atuais e de legislaturas anteriores não deixam por menos: querem inclusive os atrasados do décimo terceiro desde 2013. Pelo jeito, a mania da retroatividade ganhou força com a decisão errônea do STF. Um grupo de vereadores e de ex-camaristas se vincula também à pressão das entidades representativas, em termos estaduais, dos legislativos locais.

Já contrataram advogados especialistas que não estão nem aí com as ponderações radicais, mas alertadoras, do presidente do Tribunal de Contas, Durval Amaral, que insiste que a decisão é inajustável às normas orçamentárias e respectivas leis reguladoras e que careceria de função reguladora para ajustar-se no tempo. Para botar fermento na questão, o pleito já foi formalizado na Câmara Municipal da capital.

Bloqueio
Durante três horas, com pneus queimados, manifestantes fecharam o Contorno Leste sob o fundamento de que a concessionária tinha bloqueado os caminhos existentes na área e que permitiam movimentar-se sem pagar pedágio, situação que volta e meia se repete em outros pontos do território e que só se resolve com decisão judicial quando não há acordo razoável entre as partes em conflito. A concessionária se viu impelida, ante o tumulto e a fila de dezenas de quilômetros formada na rodovia, a retirar os bloqueios. Se foi transitória essa decisão, é certo que teremos novo bloqueio na estrada.

Folclore
Funcionários municipais se preparam para a guerra salarial em Curitiba: pleiteiam 10% e calculam a inflação acumulada em 6,3% quando mal chega à metade. Ocorre que Rafael Greca, ainda que não tenha esgotado a negociação, imagina um ajuste próximo de zero para alinhar-se à Lei de Responsabilidade Fiscal. Da parte dos trabalhadores há o argumento de que com o aumento da contribuição previdenciária tiveram seus ganhos concretamente reduzidos, daí o apelo dramático.