Confusão conceitual
Diz-se que as reformas de Michel Temer são de caráter liberal pela circunstância de agradarem ao mercado. Para esse tipo de capitalismo cartorial do Brasil, que detesta a competição e ama a proteção das barreiras alfandegárias, essa restrição à fiscalização do trabalho escravo é bem seu estilo. Mesmo que fundada em abusos como o de que a falta da carteira de trabalho seria uma das suas evidências (quando ao lado de tal formalidade indispensável seria a de sinais de opressão e tratamento degradante, má alimentação e acomodação), ela é a negação daquele institucional da Globo configurando o lado pop da empresa rural, ocultando a guerra contra índios e quilombolas, lado perverso e atrasado com resíduos fortes do colonato.

A qualquer momento em nome da solidariedade e como louvor ao seu "pioneirismo", como já adotado em relação a bandidos da mineração na Amazônia, teremos a transformação da canalha de devastadores florestais em patriotas do desbravamento. E tudo isso pode vir ao esforço para blindar Temer em bancadas específicas, como a ruralista já irritada e muito com os efeitos da operação "carne fraca" que devastou aí o mesmo tipo de consórcio entre fiscais e empresários fraudadores, como aqueles de estatais como a Petrobras e bancos públicos.

Isso que se aponta como liberal é exatamente o seu reverso, o do pior dos conservadorismos que nesse caso da regulação do trabalho escravo não é apenas a anti-Lei Áurea, como sugeriu a promotora, mas o fecho daquela caricatura de samba-enredo de Sérgio Porto, o inesquecível Stanislau Ponte Preta, o "Samba do Crioulo Doido", com a frase apoteótica "e foi proclamada a escravidão!".

MST de novo
Todo o ano se repete o ritual da ocupação do Incra. Irônico é o fato de a sede situar-se na rua Dr. Faivre, homenagem ao médico parteiro do império, Jean Maurice Faivre, que montou uma colônia nominada Teresa Cristina no Vale do Ivaí em louvor à figura monárquica. Trata-se de uma experiência clara do socialismo romântico de Charles Fourier centrada nos falanstérios, técnica de retalhamento da terra, que foi precedida de experiência do mesmo teor, também tocada por um médico, no caso uma expressão da homeopatia nacional na Barra do Saí em Santa Catarina. O MST, como também se deu com o PT, do qual é o braço agrário, perdeu muito de sua mística, mas sua presença na rua é prova de que o reformismo que defende não é o do governo Temer, que ataca direitos sociais e trata com menor dureza a prática do trabalho escravo.

Fábio confirmado
A decisão judicial que retirava de Fábio Camargo a condição de conselheiro do Tribunal de Contas foi revertida (13 votos a nove) no Órgão Especial do Tribunal de Justiça. Na verdade, tirando o clima de aproximação do governo estadual com o desembargador Clayton, então presidente do TJ, e pai do ex-deputado, que facilitou a montagem do Caixa Único e o acesso aos depósitos judiciais, a votação foi igual a de todos com o ritual da vantagem numérica. A questão, normalíssima, acabou levada a exame do Conselho Nacional de Justiça, onde havia outra matéria infracional que envolvia Clayton Camargo.
O retorno, ora assegurado, de Fábio Camargo, restabelece a discussão em torno do caso de Maurício Requião de Mello e Silva que perdeu o posto por uma decisão do presidente da Assembleia Legislativa. Enquanto seu irmão, Roberto, era governador a Justiça o ratificou e quando veio Beto Richa tudo mudou. Até hoje Maurício está em demanda nas instâncias superiores, quase num repeteco teatral da espera de Godot.
Recurso

O Ministério Público estadual recorreu contra a absolvição dos 13 policiais militares e há quem entenda não ter sido confortável a condição dos jurados diante de réus fardados e operacionais até pelo exercício humano do temor. O fato é que a decisão foi centrada em fatores técnicos e periciais e, obviamente, muito celebrada pelos réus e seus amigos de corporação. Caminho a seguir é o de tentar provar a incompatibilidade entre a decisão e o narrado nos autos.

Flagra
Semana passada, uma câmera em experiência num ônibus de Almirante Tamandaré flagrou com todos os detalhes o desenvolvimento cênico de um ataque de um marginal armado de faca fazendo um arrastão: as pessoas, tomadas pela terror, abriam as bolsas e entregavam objetos como telefones celulares ao bandido. A Comec alega que já tem 10 ônibus com o equipamento e a Urbs também promete ajustar-se. É pequena melhora, mas se torna indispensável o maior exercício de pressão sobre a polícia. Sem greve, mas com firmeza.

Folclore
O MP foi em cima dos deputados Alexandre Guimarães e Elio Rusch, esse como autorizador das despesas, por uso irregular de verba de ressarcimento e a Justiça determinou bloqueio de bens dos dois parlamentares. Curiosidade é que nessas demandas propala-se que tudo termina em pizza. Pois essa é o anverso do ditado: já que começou com gastos indevidos com churrasco e, notadamente, pizza.