Sobretudo senso
Nem todos perderam a razão, embora a crise de radicalismo: entre o consenso e o dissenso o Senado, mostrando que ainda não perdeu o juízo, decidiu marcar o exame do caso Aécio Neves para o dia 17, quer dizer uma semana a mais após a deliberação do STF sobre pendências assemelhadas com o que afastou o confronto intrapoderes que há muito deixou de ser latente em nossas práticas institucionais. Reconheça-se que os melhores e mais densos argumentos partiram dos que pretendiam o exame da matéria ainda ontem, mas havia um dado perturbador, os mais articulados e exaltados eram se não indiciados pelo menos referidos na Lava Jato, dentre os quais Renan Calheiros, que sofreu restrições assemelhadas, e Romero Jucá que inclusive perdeu um ministério por essas alusões.

A dialética parlamentar é essa: a tese o consenso oposto ao dissenso, como antítese, a síntese o senso. Prevaleceu o jogo de peteca e não o do tacape.

Sinal forte
Registros de comércio de automóveis são relevantíssimos para medir a saúde da economia e tivemos em setembro o maior aumento de vendas em quatro anos: 24,35% a mais do que no ano passado. Isso compensa para Michel Temer até a presença do meirinho em sua porta outra vez. Isso obrigou a Fenabrave a refazer seus cálculos sobre a previsão do crescimento no ano de 4,3% para 9,9%. Só em setembro a alta chegou a 7,9%.

Esse é um consumo conspícuo e na alta dessa área, a da maior demanda inclusive por alimentos e bens domésticos, a despeito da taxa ainda elevada de inadimplentes com as dívidas familiares, e que corrigirá por certo desníveis estatísticos induzidos ainda pela taxa de desemprego elevadíssima. Quando tivermos a retomada da construção civil (que teve 1.500 perdas de vagas em agosto no Paraná) teremos ingressado na retomada, aí sim, do desenvolvimento.

Imitando Rossoni
A Câmara Municipal, apesar de ter levado a pior no empréstimo de mais de R$ 70 milhões que fez a Gustavo Fruet para amenizar o aperto fiscal que o sufocava, parece imitar a Assembleia Legislativa, com Rossoni e Traiano, transferindo "sobras" ao Executivo: ontem, Serginho do Posto transferiu R$ 75 milhões de economias do seu período a Rafael Greca.

Democracia inviável
Sem um mínimo de correlação em números parlamentares, é impossível viver a experiência democrática semelhante à vista ontem no Senado na questão Aécio Neves. Essa a máxima das fragilidades nessa prática no Paraná, onde o peso do rolo compressor se impõe mesmo na existência de um governo fragilizado pelos fortes sinais de corrupção e de uma gestão sem obras, ainda que mobilizada ao menos para as ações fiscais.

O debate que poderia ter havido (em termos conceituais, doutrinários) em torno do teto dos gastos é bem um exemplo dessa pasmaceira: ora, numa sociedade carente de serviços públicos como a nossa é chocante botar camisa de força em investimentos públicos quando se sabe que saúde, educação e segurança, trilogia chave do Estado, estão numa pior. Além de tudo, a lição de casa, a da austeridade fiscal, é praticada pela metade, uma lipoaspiração no tamanho do Estado parece inquestionável até pelo baixo desempenho do conjunto e marcado ainda pela patologia das superposições e dos paralelismos que despendem energia e dinheiro. Entra na cabeça de alguém que se faria isso em ano eleitoral? E a "governabilidade", o emprego dos cupinchas que vivem à custa do setor público, os aspones?

Pior de tudo é que com tanto sacrifício, saque no capital da Paranaprevidência condenada à exaustão atuarial em pouco mais de uma década, o governo não pode fazer concursos porque não têm fundos necessários e uma avalanche de aposentadorias que atingiria 20% a 25% dos quadros funcionais estaria na iminência de ocorrer e evidenciaria a calamidade real que os marqueteiros ocultam quando pregam a farolagem do oásis fiscal.

Intervenção militar
Quando menos se esperava, a Câmara Municipal de Curitiba, ao homenagear o aniversário do 20º Batalhão de Infantaria Blindada, ouviu na sessão de ontem o seu comandante, coronel Gerson Rolim da Silva falar sobre intervenção militar e na qual repetiu a linha do que dizem, de forma geral, os hierarcas da área: a instituição se submete à Constituição e à decisão dos poderes e estamos vivendo plenamente a normalidade, em que pese a crise, e o militar se referiu especialmente aos desdobramentos da Lava Jato (ontem por exemplo eram ouvidas testemunhas do processo do ex-presidente do Banco do Brasil e Petrobras Aldemir Bendine).

Folclore
Um dos argumentos de Michel Temer contra as ações da Procuradoria Geral da República é de que são agentes empenhados em parar o Brasil, como se com as reformas tivéssemos vivendo um grande momento. Ora, o Brasil como o Paraná crescem mesmo com maus governos, até numa economia inerte temos caminhões nas estradas. O que não cresce mesmo é a taxa de credibilidade do governo Temer, a pior até hoje historicamente do país.