Normalidade turva
A Bolsa em voo espetacular de 75.990 pontos (expectativa de 80 mil até o fim do ano) seria a prova de que a crise política, apesar de aguda, não contamina o mercado. Seria o fluxo da normalidade como a mesa da posse de Raquel Dodge na qual o presidente da República mais os chefes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira são alvos da Lava Jato. Apenas a procuradora e a presidente do STF, Carmen Lúcia, não estão enquadradas. É a normalidade brasileira como se viu no discurso de Temer na ONU quando deu para lembrar que no primeiro, logo após a instalação do organismo multilateral que substituiu a Liga das Nações, o chanceler brasileiro era Osvaldo Aranha para mostrar a diferença de padrões de ontem e de hoje.

Enfim, tudo é normalidade como Donald Trump fazendo cobranças aos presidentes brasileiro e colombiano sobre a questão da Venezuela como se fosse um terratenente em alerta aos seus peões. Também, além da euforia na Bolsa, o registro de aumento da arrecadação federal em quase 8% em agosto ao lado de tantos outros sinais positivos. Isso, porém, não afasta, de forma alguma, a evidência da recessão. Assim é o Brasil bipolar, onde as aparências garantem a normalidade, ainda que longe da estabilidade pedida por todos que têm contas a acertar com a Lava Jato que não esteve presente no discurso da nova procuradora da República, cujas intenções parecem tão misteriosas quanto as da Esfinge, o que também pode não passar de um mero recurso de retórica pra não encher a bola do seu antecessor e velho adversário nas disputas corporativas.

Sismos
Abalos geológicos são comuns na área do karst e esse mais recente pareceu maior na Grande Curitiba. Em passado distante, tivemos um na represa do Capivari-Cachoeira (só conhecido após revelado em congresso de grandes barragens) e um outro em Primeiro de Maio, no Salto Capivara, ao longo do Paranapanema, com pressão sobre placas tectônicas e rachaduras nas paredes das casas. Temos alguma tradição no ramo e uma das advertências contra a decisão da Sanepar de explorar o aquífero karst, no governo Lerner, advinha justamente desse risco.

Ajuste fiscal
Enquanto, em Curitiba, Rafael Greca dava continuidade ao seu pacote fiscal separando a taxa do lixo da cobrança do IPTU, Londrina fazia sessão pública na Câmara Municipal sobre o mesmo tributo e sua aplicação. Curitiba nesse particular, sob Fruet, fez a atualização da planta de valores imobiliários, enquanto Londrina não a atualiza há mais de uma década e por isso enfrenta crise fiscal de porte que submeteu à apreciação do público e com o seu prefeito fazendo corajosa defesa do reajuste como imperiosa ao bem comum.

Saúde, prioridade
Na atual administração de Curitiba, a saúde foi dada como prioridade, mas o secretário Baracho tirou o time de cara. Depois vieram assaltos às unidades de saúde, como também, se dá com as creches e escolas e ontem houve um incêndio na Unidade 2 de Saúde de Umbará por causa do fogo numa casa vizinha. E nos postos de atendimento as demoras persistem em quatro e até cinco horas de espera. Dá para imaginar se não fosse prioridade.

De olho
O povo anda de olho em tudo: ainda agora descobriram que o vereador Codato teve multado o carro oficial da Câmara Municipal de Curitiba em Camboriú. Essa praia cosmopolita foi ao lado de Florianópolis o cenário predileto dos vereadores de Quatro Barras para curtirem seminários e encontros de atualização com diárias de R$ 600, para uma cidade pobre um escândalo. A plebe foi à Câmara da cidade e pediu respeito e compostura dos seus legisladores. Olho no olho e fungando na nuca.

Passeata
Hoje teremos a passeata de cobradores e motoristas contra a falta de segurança no trabalho e a exigência de sistemas de gravações nos ônibus. Mas ontem tivemos, como em outros dias, desfiles escolares pedindo competência à autoridade policial para pôr fim aos assaltos e até atentados a tiros contra os professores. A frequência dessas manifestações pelo seu porte e capilaridade atinge em cheio o governo Richa já enodoado com atos de corrupção também na área do ensino na operação Quadro Negro, cuja delação foi homologada pelo STF.

Nem de longe
Entre os bens apreendidos na casa de Maurício Fanini (aquele que viajou para o exterior com Beto Richa e as esposas) havia grande quantidade de joias, mas não tanto quanto as de Sergio Cabral e agora o Gaeco desvenda dispêndios milionários em compras luxuosas no processo da Quadro Negro. Só não rende delação premiada pela culpabilidade pessoal na trama, todavia, seu depoimento pode operar como uma bomba.

Folclore
Uma dupla vinha assaltando clientes em saídas de banco pilotando motocicleta. Já havia feito isso na semana passada, mas ontem foi apanhada depois de tomar R$ 33 mil de um cidadão que acabara de tirar a grana da agência no Tatuquara por guardas municipais. Tatuquara vai mudar de nome para Latroquara, pois hoje tem mais ladrão que tatu.