Contubérnio geral
Pelo que se observa nas denúncias, tanto contra Lula como agora as levantadas sobre o quadrilhão do PMDB de Michel Temer, um fato em comum: a terra de ninguém do público-privado traduzindo uma área de intercâmbio permanente como se isso estivesse fora do alcance das leis, troca de propinas por medidas provisórias ou novos contratos. O "modus operandi" é o mesmo em que pese as possíveis justificativas ideológicas que as sustentam.

O clima de reciprocidades em favorecimentos é o mesmo como se vê na assistência da OAS e outras empreiteiras, como a Odebrecht, davam nos casos inconclusos, e por isso complicados do sítio de Atibaia, do tríplex de Guarujá e do tal apartamento contíguo ao de Lula em São Bernardo do Campo, ora dependente de um recibo de pagamento por seu uso, como exige o juiz Sérgio Moro.
Trata-se de uma escala avançada do tribalismo, muito comum em nossas práticas, porém sempre mimetizadas e dissimuladas nas mediações de supostos interessados em fazer disso um ritual indispensável às normas da contabilidade pública como corregedorias e tribunais de Contas. É o contubérnio, essa aliança viciosa do público-privado, que poderia também sofrer analogias com formas parasitárias de vida no comensalismo e no saprofitismo. Às vezes, trazem soluções estéticas para tais relações como se vê no mundo vegetal com as orquídeas, a arte afinal ocultando a sordidez e a morte da ética.

Debate necessário
A polícia é capaz de mostrar competência e senso de antecipação numa questão complexa como a da prevenção de tumultos com a segunda audiência de Lula, matéria de Estado Maior, mas é de uma carência abjeta na questão primária e rotineira do assaltos e arrastões nos ônibus do transporte coletivo, objeto ontem de uma sessão pública na Câmara Municipal da capital. Acertadamente, os sindicalistas desistiram das greves diárias por essa deficiência que já matou e feriu motoristas e cobradores e programaram manifestação gigante para o dia 20. Há divergência na eficácia em acionar o botão do pânico que poderia transformar seu operador em alvo dos delinquentes, entendendo os sindicalistas que câmeras no interior dos ônibus, das estações-tubo e dos terminais seriam melhor solução.

Em passado distante, isso se dava com taxistas noturnos, situação melhorada com o advento do sistema de rádio e há, portanto, condição de melhora por algum avanço tecnológico. Está aí matéria de interesse geral, pois não se trata de garantir apenas motoristas e cobradores, mas também a massa de usuários, vítima também desse cenário de violência, inclusive o dia inteiro com batedores de carteiras e assediadores sexuais.

O racha
Já há cinco casos de evidência de vereadores curitibanos que ficam com boa parte do que devem aos seus assessores, como ocorre com o caso em andamento da vereadora Katia Ditrich, militante entusiasmada da causa dos cães de rua, bandeira que a elegeu. Agora, ironicamente é acusada de fazer "cachorro" dos salários dos seus empregados, Até hoje o caso clássico de enquadramento foi o do vereador Custódio da Silva que curtiu bom tempo de prisão pelo pecado diante da vigilância do Ministério Público de olho nas denúncias. A comissão processante decidiu dar continuidade ao processo até porque há informação de gravação com áudio e vídeo da transa.

Interesses comerciais
Claro que razões comerciais também, são levadas em conta em decisões urbanas. Há livro de historiador curitibano sobre essa incidência em decisões sobres shoppings dentre eles a bem rumorosa do Mueller, primeiro desses empreendimentos. A desativação do Hospital Bem Retiro, instituição psiquiátrica da Federação Espírita, e sua substituição por hipermercado da linha Angeloni agitou os moradores da área que enxergam no binário Mateus Leme-Nilo Peçanha um dos aparatos para assegurar a circulação na área. Há ainda uma preocupação: a exigência da manutenção do bosque lá existente, denso e rico na variedade da flora e fauna, ante o risco de vir a ser sacrificado. Outra questão: não estaria a cidade saturada no que concerne a shoppings e hipermercados ou pesquisas consistentes assegurariam condições para tanta expansão.

Delação
Delações, não apenas da Publicano e Quadro Negro, vão perturbar a marcha da política do Paraná. Há a da Odebrecht coma referência à entrega de grana num supermercado ao irmão mais velho do governador que nega tal versão. A homologação da delação do proprietário da Valor pelo ministro Luiz Fux, do STF, vai ser um festival para oposicionistas como também aquela outra, investigada pelo STJ, na qual o fiscal delator Luiz Antonio de Sousa afirma que o dinheiro achacado de empresários teria irrigado a campanha da reeleição de Richa. Estamos num tempo em que essas coisas não se discutem às escondidas, mas clara e abertamente. Depois da Lava Jato, nossas rotinas mudarão.

Folclore
Falta de comprovante de aluguel do imóvel contíguo ao em que mora em São Bernardo do Campo é o embaraço atual de Lula e tido como providenciado em propina da Odebrecht, conforme a acusação. Lula atribuiu essa responsabilidade à esposa Marisa Letícia e que vai remexer o baú atrás dos recibos.