Sebastianismo lulista
O fenômeno Lula, embora só agora julgado com maior severidade, é muito recente para que o desejo de seu retorno se caracterize como uma forma de sebastianismo, sempre tida como aspiração reacionária e impossível da volta do rei de Portugal (1554-1570), dom Sebastião, desaparecido na África. Tão negativa essa nostalgia que era aplicada a monarquistas por certo inconformados com o advento da República. E isso se deu como equívoco na maior guerra civil que tivemos na Revolução Federalista.

O fato é que na esquerda brasileira (ou o que se possa considerá-la como tal) Lula é o polo, o centro da equação política, a única e verdadeira força capaz de mobilizar em que pese a carga do desgaste imposto pela saraivada de denúncias na montagem do mais audacioso plano de ocupação não apenas da máquina estatal como também da clientela capitalista a ela vinculada. Embora tão próximo dos acontecimentos, as dificuldades para viabilizar sua candidatura com os óbices do Judiciário dão à sua trajetória aquela marca missionária dos redentores.

E essa é a razão pela qual os movimentos de protesto poderão ser mais evidentes do que os havidos na primeira audiência e marcando a data de hoje como uma celebração heroica dos que se consideram vítimas de um processo de ricos e poderosos e, que nessa condição, foram alijados do poder com o impeachment de Dilma e a criminalização de Lula.

Há aí dois sebastianismos: o do desejo da volta e o do santo, Sebastião também, com o corpo de mártir flechado com tantos processos. As flechas do Rodrigo Janot, cada vez mais evidentes, enquanto houver bambu, como ameaçou o inspetor Javer da hora em sua ânsia persecutória como a do personagem de Victor Hugo.

Sinal de lucidez
Surpreendentemente, ontem à tarde, um sinal de lucidez de motoristas e cobradores com suspensão da greve, conclusão a que chegaram pela evidência de que constrangiam a polícia sem garantia de que melhorasse a segurança. Provavelmente, estenderão ao dia de hoje que já tem um baita problema com manifestações pró e contra Lula em função do seu depoimento judicial.

O ato é classicamente de resistência civil, já que raramente se faz greve por motivo que não seja trabalhista, embora como cidadania o sindicato tenha o direito irrenunciável de exercer pressão pela falta de segurança no interior dos ônibus, estações-tubo e terminais numa das maiores lições pedagógicas no governo abismado na sua soberba inútil. O pior é que respostas da polícia, nesse tempo todo, foram precárias. Anunciam também uma grande manifestação para o dia 20 na luta contínua pela melhora das condições de segurança. Temem o corte das horas paradas, anunciado pelas empresas, o que é direito incontestável delas.

Indicadores bons e maus
Depois dos indicadores industriais em que o Paraná aparece à frente de Santa Catarina e do Espírito Santo, o Ipardes, derradeira referência de planejamento estadual, oferece números otimistas da economia regional fazendo a hermenêutica dos levantamentos do IBGE. No meio de tanta euforia, esta FOLHA em manchete de ontem mostra que o endividamento das famílias no Paraná é crescente e que teria subido de 87,8% para 89,9% no mês passado, enquanto a média no país é de 58%. Londrina aparece com 61,5%. Segundo a Fecomércio, houve melhora nas contas em atraso que passaram de 29,8% em julho para 28% em agosto. Tipo de dívida mais comum é com cartão de crédito com 67,7%, Sinais de adensamento do consumo com a liberação das contas inativas do FGTS e que serão completadas em breve com as do PIS-Pasep tendem a alterar o cenário. Perdas de emprego no ano passado explicam o lado mais tenebroso do levantamento. Expectativa no momento é de melhoras como a sinalizada anteontem pela alta na bolsa de valores.

Ratinho
Retornando ao seu posto de parlamentar, Ratinho Júnior declarou ontem que tem um plano, em bases técnicas, para dar sustentação ao desenvolvimento do Paraná como candidato ao governo e que acha normal a existência de outra candidata, a vice-governadora, da mesma base aliada. Acha também que não é hora de CPI da Quadro Negro, empenho da precária oposição. A questão dos desvios escolares, como o da roubalheira da gangue fiscal, pega no processo vários companheiros da intimidade do governador, uma das "bandeiras" mais frágeis de Beto Richa com agentes contumazes de desvios. Há sinal de complacência, de extremado descuido com vivaldinos, entre os quais a situação referencial de Ezequias, nódoa irremovível e mais os que transaram os desvios dos fiscais e das construções escolares. Não o responsabiliza diretamente, mas o coloca na condição de desligado e gera uma presunção obviamente comprometedora.

Folclore
O ministro Gilmar Mendes estaria convencido de que foi gravado por Joesley Batista. Aliás quem teria a certeza de que não entrou na lista desse Juruna miliardário? Até ele próprio acabou devidamente gravado em momento de desconcentração num papo solto com Ricardo Saud. Agora, deixou pelo menos provisoriamente de prender a atenção já que está preso.