O culto cívico
Celebrações como a de 7 de Setembro apenas evidenciam que não temos como no passado um maior culto aos valores cívicos. É verdade que ao tempo do Estado Novo, por exemplo, havia aquele intento de valer-se do patriotismo para exaltar a figura do ditador, tal qual se dá em todos esses regimes. Havia, inclusive, a Semana da Pátria, com dois desfiles, o do dia 4, voltado para comemorar a raça. Nas escolas, eram comuns no dia a dia as cerimônias de hasteamento e arriamento da bandeira e o canto do hinário a ela voltado e ao da Independência.

Evidente que não teria sentido a retomada dessas práticas, mas também nada justifica a pouca referência e reverência a esses valores, indispensáveis num momento em que corremos o risco da perda de identidade, tal a gama de deformações que marcam o comportamento dos nossos gestores, seduzidos pela corrupção em escala jamais imaginada. É justamente na perspectiva dessa identidade que precisamos numa hora em que se discute tanta ociosidade como a tal da escola sem partido voltarmos à reflexão do que é ser brasileiro.

Afinal, o que o nosso povo, em esmagadora maioria, tem a ver com presidentes, governadores, senadores e deputados que não sabem outra prática de sobrevivência que não seja a do achaque, do desvio, da trama? O risco da generalização se dá em função de apego a praxes deploráveis, tidas porém como impositivas no ritual da política, a tal ponto que diante do fluxo da Lava Jato valem-se da chantagem alarmista de que estão criminalizando a política e sem essa, alertam fechando o raciocínio, não há democracia.

Pode haver democracia sim sem corrupção ou pelo menos num nível tolerável já que a política é uma arte dos homens, ainda que condenada sempre, por isso mesmo, à imperfeição. Carecemos de paradigmas menos chocantes e também de fugir de uma certa vocação para buscar salvadores emergenciais, o homem providencial, e com tanta frequência que justificam a observação irônica de que país que precisa de salvadores não merece ser salvo, uma forma obliqua daquela que Brecht em Galileu, Galilei fala sobre heróis.

Salvar o Belém
No disparo, uma campanha para despoluir o Rio Belém, o mais curitibano dos cursos d'água da praça. Já não se trata daqueles desfiles de jovens que plantam árvores ou que vão até a sua cabeceira nos olhos d'água na Barreirinha. Fala-se agora num plano até 2040 para tirar todos os mínimos vestígios de degradação ao longo do seu curso. E isso se poderia fazer simplesmente obrigando a ligação dos domicílios à rede de esgotos com o funcionamento efetivo do convênio entre prefeitura e Sanepar, hoje com governos politicamente simétricos, impedindo a rotina do crime ambiental do lançamento de rejeitos diretamente no rio.

Até bem pouco tempo atrás, embora os ambientalistas nada reclamassem, o esgoto do Centro Cívico das nossas ínclitas autoridades era lançado no rio, uma vergonha para quem vivia posando de modelo em escala até internacional. Não dá para suportar a mentira estatística quando se fala na questão do esgoto e seu tratamento e o percentual respectivo de sua rede que ignora a ação clandestina referida.

Fez-se muita festa sobre Curitiba com seus parques que na verdade controlaram a vazão dos seus rios. Todavia, ninguém ignora a podridão das águas, cuja degradação é oculta em parte pelas barragens que retêm os sedimentos de fundo como se dá nos parques São Lourenço com o Belém e o Barigui, dos mais importantes da cidade. No governo José Richa, a empresa Trombini inaugurou no Barigui das Mercês um sistema moderno de tratamento de efluentes no qual um técnico detectou sinais de metais pesados nas águas, provavelmente decorrente de ações curiosas com mercúrio em suas áreas mais distantes em Almirante Tamandaré. Por sinal que, ao longo da bacia do Iguaçu, nas represas, em espécimes de fundo, houve registro de mercúrio nas vísceras. Quando se fala em revitalizar o Iguaçu, do qual o Belém é um singelo contribuinte, já se imagina uma utopia. Se sanear o Belém iria até 2040, imagine-se como fazê-lo com o Iguaçu tão agredido desde sua cabeceira, embora a imponência de sua foz com as cataratas que nestes dias esteve apinhada de turistas.

Irritação
Vários ministros do Supremo Tribunal Federal se referiram à questão dos tropeços da JBS, além do forte pronunciamento da presidente Cármen Lúcia. Um dos mais enfáticos ainda na véspera do feriado foi o do ministro Luiz Fux que sugeriu até a prisão de Joesley Batista e do diretor da J&F Ricardo Saud. O comprometimento dessa delação que pode gerar nulidade de pleno direito, como alegam alguns especialistas, não alcança outras etapas da Lava Jato como à referente, por exemplo, a Odebrecht.

Reavaliação
No governo Beto Richa, duas preocupações: a de deslanchar administrativamente, apesar dos bloqueios fiscais, para forçar a imagem de ativismo e manter a candidatura senatorial; de outro lado, fazer o possível com respostas mais duras ao caso das delações tanto da JBS como a decorrente da Quadro Negro.

Folclore
Em celebração aos R$ 51 milhões do Geddel Vieira Lima, tomou no bar uma simétrica dose da mais legítima 51, afinal sua esperança possível e mais imediata.