Reação necessária
O cerco dos políticos, ora com apoio de alguns ministros do STF, à Lava Jato atinge o apogeu nos últimos dias, agora inclusive com acusação direta contra o juiz Sérgio Moro, objetivo de quebrar a espinha dorsal de todo o processo num ponto mais crucial do que o de acusá-lo como um perseguidor obstinado contra o ex-presidente Lula. A tentativa, como sempre, parte de um acusado, o advogado Rodrigo Tacla Durán que deve depor à Comissão de Segurança Pública da Câmara Federal em 26 de outubro.

Nessa altura, tanto o grupo do presidente da República, Michel Temer, quanto o do ex-presidente Lula se identificam no combate e por motivações óbvias. Como tenho dito - e os fatos o confirmam - a operação entrou num plano inclinado, tal a carga de pressões e de alguns tropeços como os revelados nos arquivamentos de denúncias nas cortes superiores. O momento não é bom e exige nesse choque intrapoderes respostas consistentes. E o caso da denúncia, ora repetida, contra Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney, que já bateu na trave, com a Polícia Federal, ora não em aberta convivência com o Ministério Público e ao revés em permanente conflito (entre eles quanto ao direito de a polícia judiciária também acertar as delações premiadas), o que pode significar maior presença e influência da pasta da justiça nessa conflagração, é sinal de baixo impacto.

Há, portanto, a convergência das maiores forças políticas, hoje atritadas nas reformas, mas unidas no propósito de minar a ação do Judiciário, deter a sangria como disse Romero Jucá e, consequentemente, dar uma resposta firme e com efeitos devastadores ao que como vítimas se declaram alvo de uma criminalização genérica. Se a resposta não for convincente (e não apenas de figuras isoladas como os juízes Moro e Bretas e sim das entidades representativas como associações de magistrados e procuradores e da própria sociedade civil), tudo se estabiliza num plano inclinado e que pode, conforme os acontecimentos, se transformar em queda livre. É que a maioria pode discordar nas reformas, mas não naquilo que acena para sua salvação e aí o beneficiário imediato é o presidente da República, o mediato o ex, que ainda lidera as intenções de votos da corrida de 2018.

Cerveja
E volta ao debate em todo o país o consumo da cerveja nos estádios, até a Federação Paulista de Futebol estaria empenhada em ação lobística centrada nesse objetivo porque despreza o vínculo entre esse tipo de hábito dos torcedores e a violência. O tema pintou ontem na sessão do Legislativo estadual até porque foi colocado sob licença nas concessões à Fifa, algumas das quais mexem com a soberania nacional, no que diz respeito ao império das leis e normas como a dos planos diretores desprezados e agredidos na construção e entorno de estádios. A Fifa, ao que se saiba, parece mas não é um organismo multilateral como a ONU.

A questão a discutir é a de competência e prerrogativa: seria da União ou poderia ser atendida supletivamente pelos Estados membros ou mesmo ser regulada municipalmente? Vivemos um momento que não é exemplar na questão da hierarquia das leis. Dá para lembrar aqui do poema anedótico de Drummond de Andrade: enquanto o poeta municipal discute com o poeta estadual o poeta federal tira ouro do nariz.

Mais chacina
Seguem-se com assustadora pontualidade as chacinas, a última do Capão Razo com dois mortos e feridos. Causa comum: briga por pontos de tráfico, uma luta desigual que no Rio é na geografia dos morros e das favelas e aqui nos fundos de vale.

Quebra, a causa
A decisão de Curitiba de entregar serviços de educação e saúde a organizações civis, terceirizadas, decorre de um fato: não há mais dinheiro para contratações e concursos públicos e isso tanto no Estado quanto no município. Tudo decorrente da crise fiscal que atinge todos os entes da federação. A crise é de tal ordem que não há alternativas hábeis para encarar o problema. Os estamentos funcionais, sindicatos, não aceitam por tradição esse tipo de manobra porque os desgasta e tende a reduzir os seus quadros com essa intervenção de agentes substitutivos. A crise que está aí não é como as passageiras como tantas que tivemos: o que se dá com unidades federativas como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul ocorre com idêntico impacto no plano municipal.

Como se vê, a prioridade da gestão Rafael Greca apontada na saúde registra o drama das cinco horas de espera nas UPAs, na morte de pacientes na fila ou na espera e também da senhora vítima dos efeitos de uma vacina contra a gripe que o Ministério Público vai ter que apurar.

Debates
De manhã, as tentativas de invasão da Câmara Municipal por sindicalistas; à tarde, as primeiras reações no Legislativo estadual contra a última etapa do pacote fiscal de Beto Richa prenhe de questões complicadas como redução de gratificações, estímulo a PMs da reserva para a volta ao trabalho, regulação do Tempo Integral e Dedicação Exclusiva, enfim, material de menor contundência que os anteriores, mas suficiente para mobilizar.

Folclore
Órgãos terceirizados como Oscips e outras de característica civil se deram mal em inúmeros casos de corrupção em convênios. A garantia, assegurada pelo porta-voz da Prefeitura da capital, é que agora há mais segurança porque decorrerão de licitações. Os casos da Lava Jato, ao que se sabe, derivam também de licitações.