O bom conflito
A Lava Jato é o maior tema nacional e, por isso, é de todos o mais debatido. Embora se constitua na primeira e efetiva ação articulada contra a fraude e a corrupção, carecia de um conflito que atingisse em cheio a intimidade dos tribunais superiores. No papel de crítico acérrimo dos procedimentos que embasam o fluxo judicial, ao ponto de centrar fogo no procurador da República, Rodrigo Janot, o ministro Gilmar Mendes tem tido o mais destacado papel de contestador. Mas nem por isso vinha recebendo qualquer tido de alerta ou até mesmo admoestação pelo transbordamento dos rituais de convívio institucional. A situação se agravou com as concessões sucessivas de habeas corpus no caso do grupo de transportadores públicos do Rio Janeiro, acusado de atuar em consonância com o governo Sérgio Cabral, e aí emergiram denúncias de fatos que o comprometiam como julgador, inclusive de relações que poderiam determinar a sua suspeição.

O inevitável aconteceu: um ato político de juízes, procuradores, artistas de ataque ao ministro do STF, Gilmar Mendes, e de solidariedade ao magistrado Marcelo Bretas que conduz a Lava Jato no Rio de Janeiro. Ganhou o espaço público de forma incontestável a pendência como se estivéssemos no andamento de um plebiscito ou referendo. O litígio, que se dá intrapoderes, testando o equilíbrio das nossas instituições e a mecânica dos freios e contrapesos, que já estava nas ruas e ambiente acadêmico, dá nitidez ao conflito, que não é mau porque assegura a higidez do processo ainda que de forma turbulenta e distante da cordialidade.

Há uma aparência de que a essa altura dos acontecimentos não dá mais para sustentar o desejado distanciamento brechtiano da magistratura porque ela também se encontra sob julgamento, independente das causas eventualmente abraçadas. Nenhuma sociedade evolui sem conflitos e esses do momento são fundamentais ainda que ganhando um traço meio pop, meio hippie dada a seriedade formal dos confrontantes.

Breque na campanha
Afastado do Ministério, mas em plena campanha de sua reeleição a deputado federal e da mulher, Cida Borghetti, a governadora, ora no exercício do mandato, Ricardo Barros foi de repente levado a uma interpelação do Supremo Tribunal Federal para que se explique sobre a sua desastrada declaração de que o governo finge que paga e os médicos fingem que trabalham. Em matéria de mancada não ganha do presidente Michel Temer que confunde Portugal com o Paraguai e recria a União Soviética que sumiu no pós-muro ao referir-se à Rússia. Mas de qualquer jeito está no ranking como aquela declaração de que o sistema do INSS é uma impossibilidade para atendimento massivo, o que é verdadeiro, mas tido como segredo de Estado para um político, que essencialmente não passa de um corretor da esperança e não pode se dar a indiscrições pessimistas desse porte.

Planilhas
Uma das contestações da defesa de Lula era relativa à nitidez técnica das planilhas da Odebrecht. Ontem essa documentação em detalhes foi entregue pelo Ministério Público ao juiz do feito, Sérgio Moro.

Polo têxtil
No Boqueirão, há de tudo para a montagem de um polo têxtil: uma tradição ali desenvolvida de porte artesanal e familiar ganhou densidade nesse tipo de mercado, faltando apenas uma ação de sentido institucional para bem fundamentá-la. Hoje a comunidade empreenderá um desfile de modas na região com a exibição dos produtos e mercadorias gerados.

Racha
O racha com assessores, que foi levantado na Câmara Municipal de Curitiba, também é acusado na Assembleia Legislativa, tanto que o ex-deputado Antonio Anibeli é citado em processo movido pelo Ministério Público em legislaturas passadas.

Folclore
O maior jornal do país, "Folha de S.Paulo", afirma que a Justiça agilizou, de forma clara, o processo de Lula no caso do tríplex pela circunstância de ter levado apenas 42 dias para chegar à segunda instância e mostra isso num confronto estatístico com outras demandas com mais de 187 dias como a do ex-deputado Pedro Corrêa ou a de 166 dias da doleira Nelma Kodama. Mais polêmica e no meio a declaração do presidente do TRF-4, Carlos Thompson Flores, de que a apelação seria julgada em um ano e que a proximidade das eleições poderia influir no trâmite da ação. "Estatística em Direito não significa nada", diz Marlus Arns de Oliveira, e tanto é verdade que só agora vemos tanta gente do colarinho branco em cana.