Ney centenário
Aberta no Museu Paranaense a celebração do centenário de Ney Braga, ontem, fomo levados à reflexão de que carecemos, mas não temos, em nossos quadros e em nossos dias, ninguém de perfil assemelhado na fauna política. O senso clânico de trazer a juventude universitária para as lides administrativas e, mais do que isso, colocar suas reservas de energia no maior dos projetos de transformação do Paraná fizeram-no condutor de um processo sem igual em nossa história. De todos que governaram o Paraná, talvez o primeiro deles, o baiano Zacarias de Góes e Vasconcelos, superou todos os parâmetros por sua atuação parlamentar e administrativa no Império e por haver governado várias unidades federativas, ter sido ministro e desempenhado função excepcional como presidente do Conselho de Ministros, uma das instâncias mais abrangentes do regime.

Lançado na política pelo cunhado Bento Munhoz da Rocha Neto, Ney é uma das raras referências de alguém que tenha feito proselitismo como polícia, ou melhor chefe de Polícia, correspondente ao secretário de Segurança. Antes disso uma passagem discreta pelo CRD (Conselho Regional de Desportos). Numa época tensa, que culminaria na tragédia do suicídio de Getúlio Vargas, foi alvo de homenagem especial por sua atuação policial pelos estudantes, época que revelaria José Richa, herdeiro do seu estilo, presidindo a UPE (União Paranaense dos Estudantes), e que integraria a sua equipe.

Foi prefeito da capital onde revelou figuras como o coronel Alípio Ayres de Carvalho, criador genuíno do planejamento entre nós, e Saul Raiz que acompanhou o urbanista Prestes Maia na missão de atualizar o Plano Agache e lançar o Mercado Municipal, Estação Rodoviária e tantos outros empreendimentos, dentre os quais uma ação resoluta na drenagem e canalização dos rios. Seu teste de polarização foi em 1958 como candidato a deputado federal (no qual quem testava também era Jânio Quadros na corrida presidencial como postulante do PTB paranaense) e no qual ficou em segundo lugar, mas à frente de Acioly Filho e Plínio Salgado. Esse acúmulo o levaria ao governo estadual em 1960, beneficiado pela ausência de Souza Naves falecido em meio à campanha e derrotando Nelson Maculan e Plinio Franco Ferreira da Costa. No governo, deu a impressão que vivíamos o primeiro dia da criação com a decolagem da Copel, do instrumental Codepar-Badep para financiar o desenvolvimento que visaria inclusive o das atividades privadas com um arquiteto dessas operações na figura de Alex Beltrão. Bento havia recolocado o Paraná em quadros ministeriais o que ampliaria com Ivo Arzua na Agricultura e ele próprio na Educação (sucedendo Flávio Lacerda) e, na sequência dessa representação, o ciclo mais produtivo de nossa história com Paulo Pimentel e outros, dentre os quais, Jaime Canet, um dos maiores empreendedores e que consagrou o asfalto subdimensionado. Quadros das terra ganharam expressão nacional como Reinhold Stephanes, Maurício Schulman, Karlos Rischbieter, Osires Stenghel Guimarãesi dentre tantos. Com Parigot de Souza, o Paraná se evidencia com o seu colar de hidrelétricas.

Brincando
Francieli Caroline que matou o marido, PM do Bptran, declarou que brincava de faroeste com o companheiro. Quem brincou, ainda que não morbidamente, foi a classe política nos desdobramentos da Lava Jato no papel de ganguesteria. Todavia, Lula, em programa de rádio, disse que política sempre foi financiada assim por empresários e que eles e o Ministério Público é que deturparam tudo, chamando a doação de propina e por aí criminalizando a classe política. Do faroeste da criminosa à reflexão de Lula, um exercício de metáforas.

Abalos
Os abalos de ontem foram sobretudo os da ação da Polícia Federal contra a escalada dos pedófilos num dos relatos mais chocantes de degradação humana e sua canalização pela internet. A operação atingiu outras cidades do Paraná como Maringá e outros Estados. Outra surpresa chocante a evidência de que é elevado, aqui no Paraná, o número de casos de tráfico de pessoas, alcançando oitenta registros em investigação e processamento.

Crueldade
Um assalto à Associação Reviver Down, voltada para assistência a pessoas especiais, acabou com os recursos da instituição e é um desafio a comunidade para que essa atuação generosa prossiga normalmente.

Uber
Repete-se aqui o ocorrido em São Paulo com o Uber e outros aplicativos: lá, a capital como aqui regulou o assunto e isso não se deu na Região Metropolitana, acumulando conflitos. Aqui, a situação se agravou no aeroporto de Afonso Pena, onde a repressão ao Uber é total e logo a Justiça é convocada para dirimir a pendência.

Mais impedimento
O destravamento pelo ministro Celso de Mello do processo contra Renan Calheiros na denúncia por crime de peculato (acerto de pensão à jornalista Monica Veloso com quem tinha um filho fora do casamento) abre a possibilidade de novo bloqueio contra Lula no impedimento de que réus assumam a Presidência. Mello fez revisão do voto que acatou a denúncia por 8 a 3 e o acórdão deve sair em agosto. O STF levou quatro anos para decidir se havia indícios mínimos para a ação penal. Pelo jeito a novela continua.

Folclore
No cemitério da Lapa, Ney Braga dizia que num dos túmulos estavam as cinzas do seu avô. Um promotor substituto perguntou se o parente havia morrido num incêndio.