Greve-locaute válida
Tivemos ontem manifestação fortíssima de motoristas e cobradores do transporte coletivo da capital em função do assassinato no fim de semana de Ednilton José de Melo de forma covarde por um grupo de marginais. Isso se deu, dias após, o Ministério Público do Trabalho entrar com ação contra os sindicatos trabalhista e empresarial da área, pleiteando indenizatórias de um milhão de reais por operações mascaradas de greve quando se tratavam de locaute de interesse patronal.

Na verdade, nem todas as greves do Sindimoc têm tal característica, porém isso é flagrante em algumas delas pela sintonia de interesses que se dá inclusive no início do ano quando da revisão do contrato coletivo de trabalho e que ocorre simultaneamente com a revisão da planilha relativa ao peso da tarifa técnica, na qual esse item é o preponderante.

Se a articulação de ontem, nitidamente obreira, obtivesse apoio patronal, ainda que lembrando a configuração do locaute, seria um ato dos mais legítimos, pela circunstância de que essa ameaça a empresários e trabalhadores abarca toda a população pelos crescentes níveis de violência de Curitiba e a afrontosa incapacidade do setor público, dos mais vulneráveis, da segurança.
Reivindica-se instalação de sistemas apurados de gravação de imagens nos ônibus e o impacto da morte do motorista, além da manifestação havida na Praça Rui Barbosa, obrigou à rápida mobilização de órgãos como a Urbs, a Comec e Secretaria de Segurança para uma resposta ao caos diário dos assaltos e arrastões nas várias linhas da Região Metropolitana.

Nessa manifestação está presente a população humilde, alvo dessas sortidas transformadas em rotina diária, um julgamento severo de um dos setores mais ineficientes do Estado que celebra feitos estatísticos como o da queda de homicídios quando a média 18 ocorrências por cem mil habitantes, último referencial apurado, está bem acima do tolerável mínimo pela Organização Mundial da Saúde, que é de 10 por 100 mil habitantes.

A cidade inteira esteve nessa manifestação de ontem, razão porque os órgãos públicos, estaduais e municipais, de alguma forma envolvidos no problema, mostraram algum empenho na solução. A frequência de operações criminosas tanto no interior dos ônibus como nas estações tubo já deveria ter preocupado a autoridade que olhava isso com a impotência mais do que demonstrada na livre ação dos pula-catraca. Foi preciso o impacto de uma morte, em condições tão dramáticas, para que a gota fizesse o cálice transbordar.

Arma válida
A paralisação do transporte coletivo por uma hora contou ontem com a compreensão dos próprios usuários, afinal, também representados na manifestação. Quem viaja, mormente à noite ou pela madrugada, sabe a agudeza do drama no interior dos ônibus com o risco de assaltos, agressões e cenas surreais de arrastões. Uma boa resposta consagra um secretário e isso aconteceu nos anos cinquenta com Ney Braga, chefe de Polícia, que com a solução do primeiro caso de sequestro de taxista, cujo corpo foi lançado na represa do Rio São João na Voçoroca, se credenciou primeiro a prefeito de Curitiba e na sequência a deputado federal e depois governador. A polícia, sob seu comando, chegou ao autor e ainda houve todos os cuidados para evitar o linchamento. Esse frisson emocional foi um dos arranques na carreira da nossa maior liderança dos últimos cem anos e durante muito tempo a ligação entre Ney e taxistas era de tal ordem que ele era capaz de lembrar nomes e os pontos de serviço desses profissionais. Por sinal que a data de hoje assinala o centenário de nascimento de Ney Braga.

Ato político
O procurador da República, Carlos Fernando dos Santos Lima, é, antes de tudo, um engajado na causa e isso ele o demonstra em artigos de jornal, entrevistas, pronunciamentos nas redes sociais como o dramático, feito ontem, acusando que o PMDB se valeu da Lava Jato enquanto serviu de matéria prima para derrubar Dilma Rousseff e tenta atingir a operação no empenho em esvaziá-la na representação contra o presidente atual. Emocional, sem dúvida, mas adequada ao momento tenso e no jogo da verdade intrapoderes. Uma das situações novas está nos conflitos entre Polícia Federal e Ministério Público. A sincronia anterior não existe mais e é visível perdas do lado acusatório, parecendo não existir material no momento (a delação de Eduardo Cunha está cada vez mais distante) com o impacto suficiente para resgatar a operação judicial num momento em que é notória a contraofensiva, até aqui bem-sucedida, de Michel Temer, ainda que vagando em areia movediça e muita lama.

Alerta
A Defesa Civil faz um alerta em função das alterações climáticas, estiagem somada a geadas, face a ocorrência de incêndios florestais, mais de mil no território paranaense, só em julho.

Repressão
Prefeitura de São José dos Pinhais tomou partido contra os aplicativos tipo Uber e os está reprimindo violentamente no aeroporto de Afonso Pena em acordo com normas locais.

Folclore
A ONG "Contas Abertas" mostra documentalmente que as emendas parlamentares para salvar o mandato de Michel Temer em apenas duas semanas superam o havido em seis meses.