"Não há milagre nem criatividade em malandragem de parque, mas a pose é de que há no pedaço uma espécie de Eistein"

Neutralidade suspeita do mercado

Quem seduz mais: o mercado aos políticos ou o contrário? Algum tempo atrás o mercado estava com Michel Temer, especialmente em função das reformas em andamento e outras anunciadas e por fazer. E sensível como ele é se revela nos significados do câmbio e da Bolsa de Valores e, é claro, em eventuais indicadores como esse das 67.358 vagas abertas no mercado de trabalho, uma sinalização que faz Temer esquecer do Rocha Loures correndo com a mala.

Agora, o mercado, sensível a boato e especulações, ainda mais no meio de uma crise que parece interminável, estava mais com Rodrigo Maia, também aureolado da Lava Jato, porém beneficiado nos créditos das circunstâncias. Como o presidente percebeu essa tendência e interpretou como causa maior do mercado, a questão das reformas, intuiu que tem de buscar empresários e investidores nos seus novos contatos para fazer da sua bandeira a razão de uma reaproximação.

Quando Jango Goulart, nos anos 60, pregou as reformas, elas conflitavam abertamente com o mercado porque se escudavam numa linha de contestação da propriedade privada e em aberta oposição na Guerra Fria aos ideais do Ocidente cristão e democrático. À época, uma delas era a reforma agrária e bastou o ministro do Trabalho paranaense, Amauri Silva, fazer o reconhecimento de milhares de sindicatos de trabalhadores para que a histeria se instalasse. Aquilo para os nossos terratenientes (levar a Justiça do Trabalho ao campo e ajustar relações sociais) era mais do que partilhar o solo. Que era um passo adiante das ligas camponesas nem se discutia, mas o fato é que a chegada, ainda que tardia, do capitalismo no meio rural ia condenando, como de fato ocorreu, a reforma agrária à perda do bonde da história, como pensadores de esquerda perceberam, e isso muito antes do MST, Via Camponesa e congêneres.

Como a tese do governo é ganhar o máximo de tempo para o exame no plenário da Câmara Federal da denúncia de Rodrigo Janot, se possível na primavera, urge a reaproximação com o empresariado na urgência das reformas. Até lá podem aflorar novas denúncias de Janot, agora por obstrução judicial, que minam a autoridade presidencial.

No tempo de Goulart, as reformas aparentavam favorecer o trabalho, as de agora ao revés só favorecem o capital e, se no campo da política elas avançam, percebe-se como em 1964 que nossas lideranças sindicais e de esquerda não estavam preparadas para o confronto e levaram a pior. E hoje a esperança derradeira era a sustentação de Lula, ora condenado ainda que reagindo e chamando o seu sicário, Sérgio Moro, de czar. E o ex-presidente seria quem: Lênin ou Kerenski no caldeirão do imaginário? Aliás, referência essa lembrada pela senadora Gleisi Hoffmann na exaltação do feito de 1917. Tudo isso, convenhamos, cheira à múmia mal embalsamada.

Embargos

Contestando os embargos de declaração, Sérgio Moro negou em sua sentença sobre Lula que haja obscuridades, omissões ou contradições e lembrou que a não titularidade formal do tríplex é semelhante a do trust que Eduardo Cunha alegava ter no exterior,, que não impediu a sua condenação pela qual se encontra preso e a cada momento negando a disposição de fazer delação premiada.

Londrina e os números

Londrina viveu a glória dos números quando da civilização do café, época em que, como dizia Munhoz da Rocha, as estatísticas nasciam desatualizadas, e é atenta hoje a todo referencial que exponha queda para unir suas forças e tentar reverter o jogo. Quando perdeu a condição de terceira cidade do Sul do País com a ascensão de Joinville, o maior PIB catarinense, mergulhou em reflexão sobre o tema. Agora, num momento em que o Paraná gerou 23.189 vagas no mercado de trabalho ela perdeu 358 postos e a capital, dominantemente terciária, teve queda de 1.980 empregos. Esse monitoramento revela maturidade intelectual e busca de saídas e fator de convocação à unidade de todos os seus segmentos. Londrina como Curitiba paga por sua dimensão metropolitana e dependência do setor de serviços que na recessão é dos mais sensíveis. O pior é que a crise estreita caminhos e impede que Londrina com sua prefeitura chegue a equilíbrio fiscal com a revisão da planta de valores imobiliários.

Homicídios

A queda da taxa de homicídios em 25% no primeiro semestre em Curitiba põe em destaque a política de prevenção da área de segurança. Essa tendência declinante tem se acentuado, apesar de os números nossos 18 assassinatos por 100 mil habitantes estarem muito acima do indicador ideal da Organização Mundial de Saúde que é de 10 por 100 mil.

Folclore

Em relação às progressões e promoções, usadas como barragem para negar o aumento ao funcionalismo estadual, é preciso esclarecer que se trata de débito antigo referente aos anos de 2014 e 2015. Valeu-se, portanto, de uma falha sua, uma inadimplência, na falsa opção e ainda por cima vem pegando R$ 2 bilhões por ano da ParanaPrevidência para mascarar ajuste fiscal. Não há milagre nem criatividade em malandragem de parque, mas a pose é de que há no pedaço uma espécie de Eistein.