"A decisão do juiz Sérgio Moro levou em conta fatores psicossociais que poderiam traumatizar o país para não adotá-la submetendo tal decisão à instância superior"

Prisão seria pior

Antes de tudo, a decisão do juiz Sérgio Moro, embora houvesse motivo para a prisão de Lula, levou em conta fatores psicossociais que poderiam traumatizar o país para não adotá-la submetendo tal decisão à instância superior. Agiu com extrema sabedoria, pois a simples condenação, posto que inédita, não levou as massas às ruas como alguns imaginavam já que as celebrações, a favor e contra, foram discretíssimas, quase imperceptíveis.

E isso não é obra da cultura brasileira, de um possível amadurecimento civilizatório, mas também do bombardeio midiático, tanto aquele que decorre dos lances da Lava Jato como os mais recentes envolvendo Michel Temer e seu assistente Rodrigo Rocha Loures, aquele da mala de meio milhão. Há uma saturação de informações, quase todas surpreendentes, e que podem conduzir o receptor a uma espécie de estresse e fadiga do material. A sequência de absurdos é de tal ordem que não há espaço para o inverossímil porque nossos agentes são capazes sempre de se superarem com feitos insólitos.

Se a prisão é decretada os dois lados, aí sim, dariam respostas mais efetivas do que as havidas e, quem sabe, poderíamos ter enfrentamentos de rua. É melhor, portanto, ouvir o festival de soberba e de bravatas de Lula e seus seguidores, beneficiados por isso na medida em que se consolida a candidatura presidencial, derradeira esperança do petismo e, por extensão da esquerda, do que correr o risco de ajuste selvagem de contas entre grupos radicalizados. Além do mais, não é pacífica a percepção de que a instância superior acatará, como costuma fazer, a sentença de Sérgio Moro.
Até essa ida ao tribunal de Porto Alegre, a novela midiática terá continuidade num momento em que o ciclo punitivo começa a exibir contradições e deixa a condição, sustentada por longo tempo, de tabu e olhada com aspectos negativos.

Se para impedir a votação da reforma trabalhista, algo ainda etéreo, já que sua legalidade e constitucionalidade podem ser questionadas, as senadoras tentaram a ocupação da Mesa do Senado, tudo poderia se dar com a prisão do ex-presidente, inclusive a queima de vestes de algum simulacro da santa guerreira, a Joana.

Ouvidos

Vereadores de Curitiba estão em cruzada de proteção aos ouvidos de cachorros e pessoas: depois da interdição, pura e simples, de fogos de artifício em favor dos totós; há outra menos radical que os admite desde que não tenham estampido e, por último, a derradeira que proíbe nos trens que atravessam a cidade sirenes hoje com 47 decibéis baixando obrigatoriamente para 15 decibéis. Um clássico pé no ouvido de quem merece mais do que um puxão de orelha.

Tragédia

O menino de oito anos, ejectado de uma carreta em Campo Largo e morto em suas rodas, encenou mais do que uma tragédia, já que viajava ao lado do pai, o motorista, e da mãe e a perícia da Polícia Rodoviária Federal apurou que o dono do veículo havia cortado os cintos de segurança para coibir caronas. Essa supressão de um elemento de segurança poderá levar à responsabilização do autor da façanha, ainda que tivesse supostas intenções preventivas e que ironicamente agravaram o incidente.

Antes do pleito

Se Lula ganha a eleição e é diplomado e depois disso tem a sua candidatura impugnada, dá para imaginar o que se daria no país dividido. O presidente do Tribunal Regional Federal do Rio Grande do Sul, Carlos Thompson Flores, assegura que o recurso no caso do tríplex será julgado antes do pleito de 2018. Se a sentença de Curitiba for confirmada, Lula poderá ter a postulação barrada.

O cronograma

Não foi do agrado da equipe de Michel Temer a marcação da sessão plenária da Câmara que examinará a denúncia da Procuradoria da República. O governo tinha pressa: queria, e tinha todas as condições para tanto, liquidar a fatura o mais rapidamente possível. Como a sessão será em agosto depois do recesso, há o temor de que isso amplie a faixa de desgastes e ainda mais se vier logo a nova denúncia de Rodrigo Janot. A vitória por 40 a 25 na CCJ compensou na troca de indecisos e vacilantes, ainda que proporcionando um espetáculo de baixíssimo nível e abusos no balcão de negócios montado. Para Lula, a passagem do tempo em princípio o beneficia em termos de arregimentação e deslocamentos pelo país. Preocupação está no julgamento das quatro ações, três das quais retiradas pelo relator Edson Fachin das mãos de Sérgio Moro, que ainda tramitam contra ele.

Agricultura urbana

Um dos próximos itens da criatividade em Curitiba estará nos investimentos no que chamam de agricultura urbana. Há muito tempo, e isso antes da verticalização dos edifícios, se faz algum empenho na produtividade dos quintais: no Centro Cívico, tivemos nos anos sessenta, século passado, o caso pitoresco de uma vaca que dava leite aos moradores do seu entorno como até há pouco tempo, perto da Assembleia Legislativa, havia num domicílio onze covas de cafeeiros em produção. Em gestões passadas, falava-se muito nesse potencial e agora pretende-se agir de forma organizada e com uma central de assistência técnica e fomento.

Folclore

Piada de mau gosto que ganhou a mídia e redes sociais: a analogia entre os nove anos de prisão de Lula e seus nove dedos. De manchete de jornal a charge, mau estado de espírito.