"Depois do Lula, temos o Lullia, nome real do presidente encurralado, Michel Temer que tem poder de mobilização política mais concreto do que o de Lula para enfrentar o Judiciário"

Depois do Lula, o Lullia

Nada como o futebol para descomprimir. Tanto que Lula afirmou não ter se preocupado anteontem com a sua condenação porque estava concentrado no jogo do seu time contra o Palmeiras. Aliás, também em cima da bola rolando um saque nas redes sociais: o impossível aconteceu com um juiz condenando um corintiano. A metáfora é uma suposta proteção que árbitros de futebol dariam ao Corinthians, largado à frente do Brasileirão.

Nas declarações de Lula, o desejo incontido de ser estátua e não aquele boneco inflado com uniforme de presidiário, a pegada carlyleana do herói e do mártir: "aquele juiz ( o Moro) não tem explicações a dar a mim, mas à história". Daria até, se o ex-presidente fosse mais moço, para fazer aquele discurso do Fidel Castro, pós-condenação pelo ataque ao quartel de Moncada. Aqui singelamente o condenado o foi por suas mancadas nas relações de reciprocidade corrupta com empresários e estatais infiltradas por agentes políticos.

Depois do Lula, temos o Lullia, nome real do presidente encurralado, Michel Temer que tem poder de mobilização política mais concreto do que o de Lula para enfrentar o Judiciário. Se o seu homem-chave, apanhado com a mão no jarro, o Zé Dirceu, se dizia preso político dá para imaginar a torrente de absurdos que virá nesses dias no varejo da retórica vitimalista, velho tique nacional.
No imaginário do lulopetismo há, por vezes subjacente, a noção da ruptura, da revolução e, quando se vê parte desse time se abrindo nas delações pode-se supor o que ocorreria caso estivessem em prática efetivamente conspiratória visando a mudança do regime.

A turma do Lullia, além de derrubar Dilma Rousseff sob o comando do presidiário Eduardo Cunha, tem amplas perspectivas para derrubar a denúncia de Janot. Como se vê, supera Lula como resistente ao Judiciário o que indica que vale mais ser bom devoto do mercado, dos interesses empresariais e capitalistas, do que bom de voto como se dá com o ex-presidente nas pesquisas.

Deserto

Já se disse lá atrás que o Brasil seria um deserto de homens e o vazio criado com a hipótese de uma condenação ratificada de Lula pela segunda instância, que só ela o afastará da disputa presidencial, mostra exuberantemente a nossa carência de quadros. Isso é temos na política alguns quadros humanos, escassos, mas muitos quadrúmanos.

Lula, em termos de arregimentação de esquerda, é insubstituível, mito quase na dimensão de um Getúlio Vargas. Sua postulação hoje lembraria a de Vargas em 1950, depois da queda e da humilhação no exílio, ainda que com um mandato de senador. Naquele pleito, o de 1945, era possível ser candidato a deputado federal e senador ao mesmo tempo. Não fosse isso, Rubens de Mello Braga, do PTB, aqui da terra, não teria a condição de deputado e constituinte, "puxado" pelo alude eleitoral o que se repetiu em todo o país.

Toda solução substitutiva à esquerda, tipo Ciro Gomes, soa frágil e com ela até o nosso Requião, que lembra Mussolini e é visto como de esquerda, se viabilizaria com o que o Paraná teria dois candidatos já que a postulação de Alvaro Dias parece consumada, apesar do seu traço experimentalista, o dele e o do Podemos.

Nossa 'Passionária'

As primeiras intervenções da senadora Gleisi Hoffmann, excluída a papagaiada infantil da ocupação da Mesa do Senado, revelam que Lula sabia por que a escolhera, notadamente na atual conjuntura, para presidir o partido. De repente, pode pintar a nossa Dolores Ibarruri, a mítica Passionária da guerra civil espanhola, em que pese ter em seu currículo a Lava Jato, o que aliás a torna mais identificada com a legenda e a companheirada. Firme e incisiva, coloca o Paraná em destaque nacional e, de repente, pode habilitar-se aquilo que até há pouco parecia inviável, a disputa de uma vaga senatorial, ainda mais se Beto Richa tirar o time de campo. Teve papel relevante na construção da base aliada como ministra-chefe da Casa Civil.

Transplantes

Há crise no processo de transplantes no Paraná até no mais comum e singelo deles: o de córneas. Estreitou-se o espaço de atendimento para uma semana em vista da carência nas doações.

Vigarice

Utilizando o nome de mestres da Universidade Federal do Paraná, estão sendo aplicados golpes sequenciais na sociedade em troca de uma taxa de R$ 150 e promessa de emprego temporário à qual se segue o fornecimento de dados que acabam manipulados pelos estelionatários. Esse tipo de golpe funcionou bem em São José dos Campos (SP).

Folclore

Elogiável o recuo do prefeito de Curitiba ao admitir jardins e hortas comunitárias nas calçadas ao contrário da rigidez tecnocrática da secretaria de Urbanismo que os proibia. O cidadão deve participar da convocação à criatividade quando, sob Lerner e o próprio Greca, tivemos esse tipo de inserção no uso das calçadas como extensão de bares e restaurantes e em ações como a do lixo que não é lixo. Se só o que é oficial e regulamentar virasse regra, acabariam obrigando os ceguinhos que tocam harmônica no centro da cidade, juntamente com outros artistas populares, a se credenciarem com crachás da Fundação Cultural, a Fuciucu. Um porre de chapa branca.