A condenação esperada

Se Lula tivesse sido condenado há mais tempo, quando a figura de Sérgio Moro era mitificada e vista como um tabu pelos tribunais superiores, cujas decisões pareciam imantadas, sua situação seria bem pior. Hoje além de revisões de suas decisões, como se deu no caso do tesoureiro do PT, já temos questionamentos duros sobre a força-tarefa, acusada de um tom autoritário e até fundamentalista e decisões como a do procurador que arquivou denúncia contra o ex-presidente Lula como obstrutor da Justiça.

Mesmo no TRF 4 já inexiste aquela unanimidade a ratificar decisões de Moro e, quando as retificavam, agiam no sentido do aumento das sentenças fixadas. Há uma nova conjuntura mais aberta para análises de decisões do primeiro grau. Há ainda os atos de esvaziamento da Lava Jato, embora ela tenha mantido a sua dinâmica operacional. A negativa da prisão de Aécio Neves e a recuperação integral do seu mandato, a soltura de Rocha Loures e agora a prisão domiciliar de Geddel Vieira Lima traduzem essa mudança. Deve-se também levar em conta a decisão do relator do STF, Edson Fachin, de retirar de Sérgio Moro três processos que tratavam do ex-presidente petista.

Tinha-se como certa a condenação, dada a juntada de depoimentos e matéria documental, tudo acompanhado, dia a dia, pela mídia e com repercussão nas redes sociais, e também em decisão centrada em fundamentação técnica e doutrinária, como é do estilo do julgador. As relações entre Lula e familiares e empresas que gravitam em torno do poder visíveis no apoio tanto ao sítio de Atibaia como ao tríplex são assemelhadas à recepção de Michel Temer ao Joesley Batista fora de pauta, de agenda e de hora. Não é preciso comprovação de eventual contrapartida para acentuar a amoralidade do relacionamento. É que genericamente as reciprocidades vinham de um relacionamento frequente e traduzido em dezenas de patologias negociais na Petrobras e em outras áreas de governo como também se dá nos ajustes com Temer realçado ainda com a rocambolesca cena da mala conduzida por Rocha Loures.

Obviamente, tudo isso ganhará contestação e até a dosimetria em cima dos 9 anos e seis meses de prisão será alvo de juristas com as Pandectas e as lições de Ulpiano embaixo dos braços.

Temer cresce

A aprovação da reforma trabalhista no Senado (e a discutível postura de Rodrigo Maia tentando protegê-la de eventual retorno à Câmara Baixa) deu força a Michel Temer num momento dramático para projetar o seu protagonismo quando tinha tudo para a inércia e a catatonia. Uma goleada de 50 a 26 que explica a desesperada ocupação da Mesa por um grupo de senadoras, dentre elas a Kátia Abreu da direita para enriquecer o espectro em que a maioria era da esquerda e agia como se estivesse numa reunião do Diretório Central dos Estudantes. O bloqueio de sete horas parecia inspirado nas cenas da Câmara Municipal de Curitiba na tramitação do pacotaço de Rafael Greca quando a ocupação da Casa impediu, por duas vezes consecutivas, o funcionamento do legislativo.

Créditos de Temer com o mercado, o empresariado e a elite rentista cresceu muito e lhe confere mais autoridade e energia para mobilizar suas forças contra a denúncia da PGR e aí vale tudo como negociar emendas e trocar membros vacilantes ou suspeitos da CCJ. Claro que tudo isso exigindo doses maciças de Engov, já que não se trata de náusea existencial, mas de nojo diante de tanta sordidez.

Safra boa

Um bom momento vivido pela área de segurança no Paraná com as ações desencadeadas pelo Cope e que frustrou um ataque cerrado de uma gangue em todas as agências bancárias de Bituruna tudo isso em função da festa da uva que movimentara a cidade com 30 mil pessoas), também num grupo de criminosos que atacava postos de gasolina e farmácias em Curitiba e num outro que operava em roubos de casas e cargas nas estradas. Estilo marcante nessas operações: a utilização de técnicas de inteligência, aliás especialidade que projeta na Polícia Federal, como um dos seus melhores quadros, o titular da secretaria paranaense.

Aperto

Créditos de passageiros das linhas metropolitanas, em ajuste feito pelo Ministério Público, que tinham valor por cinco anos, foram alvo de medida do prefeito Rafael Greca ao reduzi-los para um ano. Dá impressão que não apenas a prefeitura está em crise como também as empresas do transporte coletivo que conseguiram as mais altas tarifas do país e até agora só foram de longe referidas pelo Gaeco no desdobramento da operação "Riquixá", na qual há uma delação premiada de advogado da área, Sacha Garrone, que pode comprometê-las.

Folclore

Sérgio Moro, na sentença, considerou que havia elementos para pedir a prisão preventiva de Lula e que isso criaria um trauma a mais no cenário nacional já extremamente conturbado e que essa ponderação poderia ser feita após o pronunciamento do Tribunal Regional da 4ª Região. Seguiram-se as lamúrias da esquerda, a festa da direita e até celebração no ambiente da Justiça. Exagero seria brindá-la com lula frita.