Prólogo do epílogo?

Que o momento é de crítica sobre a Lava Jato nem se discute. Aliás, é assim desde o início, todavia há momentos em que tal tendência, por uma série de fatores, se acentua, seja em função de decisões judiciais ou por algum transbordamento acusatório. Agora, quando ela perde um pouco da mística que a exaltou, qualquer ato que implique em restrição ao seu funcionamento é listado como o começo do fim ou o prólogo do epílogo, na linguagem meio conceptista, gongórico, do criminalista Mariz, qualificado defensor de Michel Temer.

E a reação de parte do Ministério Público Federal tem esse tipo de inspiração quando se refere à restrição de recursos, a não escala de delegados e, agora, até a transferência dos casos da Lava Jato e Carne Fraca passam para a Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas para contingenciar a demanda face ao aperto orçamentário na Polícia Federal é olhada com sentido conspiratório. O problema do desmanche está na inviabilidade de apagar da memória nacional a canalhice acumulada pela gangue público-privada que assaltou o Estado que a maioria dizia defender e colocá-lo, endeusado, como imposição cultural.

Transformado o governo num balcão de negócios nas emendas e na concessão de verbas para atender primeiro as reformas trabalhista e previdenciária e, agora, na urgência urgentíssima de salvar o mandato presidencial é de surpreender mesmo que ainda haja caixa, expressa agora no derradeiro reforço, via Senado, de R$ 8,6 bilhões de precatórios não sacados que tem todo o jeito de pedalada e não é.

A Lava Jato foi longe demais para os nossos padrões e a segurança do seu fluxo estava na relatoria atenta e menos concessiva de Teori Zavascki e que fragilizou o seu sucessor nas primeiras derrotas internas e que resultaram no atual estágio de aberta contestação dos processos contra a corrupção. Há sinais perturbadores o que não significa que a hipótese de "melar", que sempre foi perseguida, obtenha sucesso. Relevante nesse processo é a posição vigilante da sociedade que defende o Estado Democrático de Direito e seus fundamentos, mas não abre mão das primeiras conquistas sérias no combate à corrupção endêmica que desgraça e desfigura o país.

MP alerta

O Ministério Público estadual agiu rigorosamente dentro de suas prerrogativas ao exigir o cumprimento da disposição legal, ainda que não muito clara, do Estatuto do Torcedor agora nas finais do mundial de vôlei na Arena da Baixada. Silenciou, no entanto, quando por imposição da Fifa e dos seus interesses mercantis, as leis brasileiras como a invocada sofreram de derrogação na Copa do Mundo de 2014 que alcançava a soberania nacional e ninguém chiou como se fosse possível acordo desse tipo. Até o plano diretor das cidades se submeteu a essa imposição quanto ao entorno dos megaestádios nas desapropriações.

Indiferente a tudo, convenientemente deixando para depois quando assentar a poeira, a maioria parlamentar manobra para botar a volta da cerveja a estádios e ginásios quando novamente o MP entra em cena para discutir a constitucionalidade da matéria. É algo tão relevante quanto o debate municipal em torno da proibição de fogos de artifício para não magoar o ouvido dos cães.

Diretas

Os senadores paranaenses Roberto Requião e Gleisi Hoffmann estão irmanados em várias coisas, entre as quais a defesa de eleições diretas já. No passado distante quando ainda estávamos no regime militar, a tese se impunha e assim mesmo, a despeito do brilho das mobilizações em todo país, a emenda Dante de Oliveira foi derrotada, ainda que tenha gerado energia para a vitória de Tancredo Neves no colégio eleitoral.

Lembro que o tom salvacionista das diretas era tão sedutor que seus arautos colocaram placar na Boca Maldita em Curitiba dando voto por voto a posição de cada parlamentar. Resultado: muitos que apoiaram as diretas foram derrotados e se elegeram alguns que a combatiam. Faz parte do jogo.
Diretas são uma aspiração da maioria do país, porém há a rejeição a Temer de 93% o que também pode dizer tudo e significar nada, ainda mais com ele na ofensiva.

Moleza

Volta e meia se fala nos ataques de vândalos contra escolas e, especialmente, unidades de saúde e há uma grita contra a falta de segurança. Pois ontem um paciente da unidade de saúde de Tatuquara, valendo-se do descuido dos funcionários, roubou um retroprojetor de R$ 7 mil que estava tentando vender por R$ 600 quando foi flagrado e preso. O pior é que com mudança de secretário de Saúde nada alterou e o serviço continua deixando a desejar.

Folclore

Renato Duque é um dos mais destacados delatores da Lava Jato: como diretor da Petrobras, sob o lulopetismo, sabe como é que o esquema funcionava e também guardava o "seu", tanto que tinha bloqueado num dos bancos internacionais nada menos do que 20 milhões de euros. Era, por todos os motivos, muito mais que um duque qualquer.