Estatais deveriam ser dotadas de sistemas de autocontrole não apenas na patologia dos desvios, mas também de suas rotinas como a fixação das tarifas"

Melhor para o acionista

Embora as tarifas públicas estejam cada vez mais elevadas que a inflação, o que mostra que os chamados preços controlados estão fora de qualquer acompanhamento, raramente se discute, nesse particular, as ações das nossas tão celebradas estatais como Copel e Sanepar. O contrário se dava com Requião que mantinha tarifas deprimidas a pretexto de salvaguardar o usuário, o que é lógico aborrecia acionistas e, às vezes, rendia punições por parte de órgãos reguladores.

O reajuste de 127%, acumulado entre 2011 até os dias de hoje pela Sanepar, levou o órgão de defesa do consumidor, o Procon, a solicitar explicações à concessionária em função de denúncia de deputados de oposição no Legislativo estadual. É assunto para investigação pela área competente do Ministério Público e, no mínimo, pelo exercício de prensa, aquela que tem mais sentido pedagógico, embora irrite os burocratas superprotegidos nas suas decisões.

O pior é que as seguidas referências à baixíssima taxa de inflação, essa especialmente festejada pelo governo Temer, acabam justificando reajustes sob alegação de elevação gradativa de custos operacionais. Aliás, se há algo imperial no país, como se viu na Lava Jato, é a liberalidade de ações das estatais, inclusive na matriz de todas, a Petrobras. Como nessas estatais, o capital social dominante, ainda que sem direito elevado ao voto, é privado e suas ações detém forte presença nas bolsas tais interesses devem ser levados em conta, como é o caso dos rombos da corrupção na maior delas, ora em recuperação com o afastamento das gangues da base aliada.

Dias passados, deu-se destaque a uma descoberta de desvios praticados por funcionária de carreira da Copel da ordem de R$ 500 mil, o que fez lembrar o rombo do governo Lerner no caso da recuperação de créditos da Olvepar, acionada na Justiça e levada à prescrição, como é da tradição brasileira num episódio em que o doleiro Alberto Youssef agia com a mesma folga exibida no outro afano do Banestado e da CC-5 que revelou o juiz Sérgio Moro ao país. Estatais deveriam, por imperativo da amplitude dos seus privilégios, ser dotadas de sistemas de autocontrole não apenas na patologia dos desvios, mas também de suas rotinas como a fixação das tarifas, ainda que deferidas a órgãos reguladores.

O passaporte

Como se viu, o passaporte era apenas no caso da Polícia Federal a parte visível do iceberg que de tão sensível exigiu resposta rápida do governo que meteu a mão no dinheiro da educação para atender a emergência, a visão enfim de estadista que temos. Agora, outras funções e serviços deixam de ser atendidos para contingenciar limites orçamentários. A rádio CBN da capital especulava, como exemplo estatisticamente, a queda de resgates por helicópteros pela Polícia Rodoviária Federal no atendimento urgente a acidentados nas rodovias.

Sinais

No meio de tanta notícia negativa em torno do cerco do Ministério Público Federal ao presidente Michel Temer, há as notícias com sinais de melhora da economia como a da recuperação industrial e agora essa de 4,59% de aumento nas vendas de automóveis no primeiro semestre. A prisão do Geddel, algo há muito esperado, acabou acontecendo para mostrar que sinais bons, que ajudam a promover as reformas, se mostram insuficientes para livrá-lo do baixo astral.

'Ensalamento'

Tanto o governo de São Paulo como o do Paraná tentaram racionalizar o aproveitamento das salas de aula com o fechamento de unidades ociosas, o que gerou reações inclusive com as ocupações de colégios. Nenhum dos dois desistiu do esforço de planejamento no que chamam de "ensalamento" , mas se fez o adiamento pela reação do estudantado que se valeu até de argumentos sentimentais e nostálgicos das escolas e seu entorno. Agora, ressurgiu a ideia de interdição em Curitiba do Colégio Rio Branco em função da queda do número de alunos: o governo nega tal intenção, todavia os seus professores acham que os dias estão contados para a escola, que era privada e de elite antes de ser pública.

Beto fica?

Quando Beto Richa, de vice virou prefeito de Curitiba e se candidatou à reeleição, apareceu o saque publicitário "Beto fica". Agora, a cada momento em que se mostra indeciso entre cumprir o mandato até o fim ou afastar-se para disputar o Senado há reações diversas entre candidatos aliados: Cida Borgheti e o marido e ministro da Educação, Ricardo Barros, que sonham com a reeleição depois da gestão provisória; já para Ratinho Júnior é indiferente, uma vez que não mexe no projeto de levar os partidos que domina, PSC e PSD, à vitória. Se Beto ficar, há mais uma vaga senatorial para negociação, o que não o afastará do comando do processo eleitoral. Quanto ao privilégio de foro, na perspectiva de processos intentados, é um dado a considerar.

Folclore

O "Podemos" já é alvo do anedotário e há um saque de que se perder a eleição já tem uma frase pronta e altamente esclarecedora: "Podemo-nos".