Cabo de guerra

Há um visível cabo de guerra intrapoderes instalado no País: a cada gesto liberalizante do Judiciário no enfrentamento da Lava Jato segue-se, da parte da Procuradoria, mais um ato de força. Esse pendularismo marca o ritmo das ações e depois da negativa de prisão a Aécio Neves tivemos a recuperação do seu mandato, no qual envergava um cartão amarelo e sem poder exercê-lo, e também a concessão de liberdade à principal testemunha do ponto agudo da denúncia contra o presidente Michel Temer, o ex-deputado federal Rocha Loures.

Na sequência, tivemos anteontem a prisão pela Polícia Federal do ex-ministro Geddel Vieira Lima por obstrução da Justiça nas investigações da Operação Cui Bono. Tudo se deu a partir de depoimentos recentes do doleiro Lúcio Funaro, do empresário Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo J&F, Francisco de Assis e Silva. A acusação é de que a atuação de Geddel visaria evitar que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e Lúcio Funaro firmem acordo de delação com o Ministério Público. Mensagens de Geddel à esposa de Funaro sondando sobre a disposição do doleiro em se tornar colaborador do Ministério Público reafirmada em telas de aplicativo entregues à Polícia Federal.

A Operação Cui Bono mira Geddel e sua gestão na vice-presidência de pessoa jurídica da Caixa Econômica Federal de 2011 a 2013. Isso se deu num momento em que Michel Temer havia decidido participar do encontro do G 20 e com isso reafirmar o seu bordão de que ninguém vai parar o governo seja no seu emprenho em missões na Rússia e Noruega e agora na Alemanha. Enquanto isso, a base aliada prepara o andamento das reformas e o cordão sanitário contra a denúncia do Ministério Público Federal.

Tenta-se simular normalidade – essa pelo menos é a disposição dos atores -, mas o clima é de intensa e profunda deterioração. A prisão de um amigo íntimo do presidente, e de outras que possam ocorrer, pode influir no clima de votação no parlamento da denúncia contra Temer, dada a delicadeza extrema da situação.

Até de pijama

Uma das figuras marcantes do serviço público é a Claudia Silvano, a do Procon, símbolo de eficiência e que não enrola os que a procuram como é comum entre políticos a tergiversar e a confundir para não dar respostas precisas às perguntas. Se todo servidor tivesse essa linha de comportamento, estaríamos bem: o conhecimento claro das leis e normas da área, o rumo preciso a ser adotado, expressam um estilo.

De repente, resolveram implicar com seu modo de vestir-se, comparando o traje a um pijama e ela, com senso de humor, aceitou a provocação estimulando as ações do consumidor e usuário que afinal dispensam uniforme no atendimento e podem fazê-lo, como sugeriu Claudia, até de pijama.

Improviso caro

Segundo a Câmara Municipal de Curitiba, ela teve um gasto de R$ 101 mil naquelas sessões do pacote fiscal no Ópera de Arame, também igual importância teria sido despendida pela pasta de Segurança Estadual. Obviamente, nesses custos não entram detalhes como a da mobilização das tropas e respectivo sustento, diárias e horas extras. Já quando se restabeleceram as reuniões no Palácio Rio Branco tivemos o assoalho cedendo nas galerias em que se situavam os sindicalistas em agitadas manifestações. O custo foi baixo para a importância do ajuste aos cofres públicos e altos, sensivelmente altos, para os servidores até agora inconformados com a perda da data-base, o corte dos planos de carreira e o aumento previdenciário.

Engajamento

A guerra ideológica, essa que divide radicalmente o país, permeia as disputas entre a força-tarefa da Lava Jato e articulistas da imprensa e do meio jurídico. Quem está normalmente se ocupando dessa trincheira é o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima que argumenta estar o Brasil submetido ao terrorismo do medo com as acusações que fazem no sentido fundamentalista contra policiais, procuradores e juízes. A Lava Jato - diz ele - representa a esperança e ela é enfrentada com o apelo ao medo, o de uma suposta cruzada que geraria um Estado de Exceção, velho clichê dos advogados dos acusados, entre eles também patronos de figuras como Sérgio Cabral. .

Ligações perigosas

Está demonstrado na ação dos quadrilheiros do transporte coletivo do Rio de Janeiro que houve um momento em que a derrama de dinheiro dos ônibus era tamanha que supria de recursos a empreiteira Odebrecht em 2006 e 2007. "Ligações perigosas" foi o título do romance de Choderlos de Laclos utilizado pela TV pública estadual na filmagem da romaria de políticos ao sindicato que tocava o cartel do nosso transporte. A TV acabou processada e quem ganhou a eleição da presidência da Câmara Municipal foi o irmão do presidente do Setransp.

Folclore

"Podemos", sigla dissimulando não ser partido como a Rede de Marina Silva e tantos outros, vai tentar levar Alvaro Dias à Presidência da República e Romário a governador do Rio. Os dois bons de bola, Romário mais profissional como goleador. Alvaro mais profissional na política. Ambos mal ajustados nos partidos em que serviram, sem força clânica, mas tentando ocupar o vazio criado pelos outros.