Amarras federativas
Por que no federalismo que praticamos é impossível uma atuação mais franca dos poderes e no qual as amarras cartoriais produzem as acomodações de interesses regionais? Raramente, o Tribunal de Contas estadual age no sentido de desaprovar relatórios e procedimentos, como não se vê o Tribunal de Justiça confrontando o governador e, raramente, o Ministério Público investe contra o Executivo. O modelo se reproduz em todo o país e é marcante o caso do mensalão mineiro, atribuído à Justiça de primeiro grau, e que precede aquele que encanou José Dirceu, e que não tem jeito de andar. Na origem das demoras em apurar casos de corrupção de trens e metrôs em São Paulo em gestões tucanas, há idêntico fenômeno.
Pois no Paraná surpreendentemente o Ministério Público, via Gaeco, contesta o modelo e em operações como a Publicano, Quadro Negro e Voldemort vai firmando o princípio da normalidade institucional superando os bloqueios da cordialidade costumeira. Em dezembro, teremos audiências gigantes dos desdobramentos da Publicano 2, que investigam ações da Receita Estadual contra 125 réus, dos quais 56 auditores, com a oitiva de 17 testemunhas de acusação e 190 de defesa.
Essa etapa da Publicano é a mais atrasada porque uma decisão do desembargador Lima Vieira suspendeu a tramitação processual em outubro de 2015, só revertida pelo Órgão Especial em junho de 2016. Esse processo envolve o primo distante do governador, Luiz Abi Antoun, já condenado a 13 anos de prisão na Voldemort, aquela jogada com oficinas mecânicas que prestavam serviços à frota pública.
Agora, ainda recentemente, o Gaeco voltou a aparecer na operação Riquixá a investigar indução de licitações em empresas de ônibus daqui do Paraná e outras unidades, na qual aparecem referências aos problemas insolúveis de Curitiba, de cujo oligopólio a cidade é refém, como se viu no último e disparatado reajuste e que levou o Tribunal de Contas a contestá-lo.

Pequena escala
Na pequena escala das cidades menores, volta e meia há punições do Tribunal de Contas ou mesmo da Justiça atingindo gestores e empresários locais: isso se deu em Antonina em que um prefeito, um secretário e três empresários foram condenados judicialmente por dispensa de licitação em transporte escolar e tiveram, em função do desvio, o bloqueio dos bens decretado.

Refugiados
Em 2016, o Paraná recebeu nada menos de 455 refugiados e neste ano a cota subiu 22%. Ainda ontem registros importantes do tema foram abordados pela televisão com destaque ao caso dos haitianos não classificados como tal.

Jogo de braço
Na volta da viagem ao exterior, a pauta do governo Beto Richa enfrenta a questão das universidades e de sua resistência em repassar seus gastos ao governo. Como se desvia o debate de um assunto que a todos obriga, o do respeito às normas da Lei de Responsabilidade Fiscal, em função de suposta lesão à autonomia universitária, é visível que a pendência não será resolvida no diálogo meramente administrativo e terá necessariamente que transbordar no Judiciário, dado o radicalismo das partes. O proselitismo em todas as universidades é mais forte do que a ação do governo e cria condições excepcionais para a resistência. Foi o que se viu anteontem em Londrina na bela exposição da comunidade universitária sobre as ações desencadeadas e que favorecem todos os segmentos sociais. Como o governo não é exemplo de austeridade, perde espaço no confronto e a própria anomalia é reveladora de que a crise fiscal persiste, ainda emoldurada pela circunstância de que só o pessoal do Executivo não tem merecido reajustes, uma espécie de confissão de culpa que não o absolve.

Horta comunitária
No bairro Cristo Rei na capital, voluntários montaram uma horta comunitária junto à calçada e bastou isso para que a Secretaria de Urbanismo (logo essa que se envolveu no engajamento eleitoral de Rafael Greca e é investigada pelo Gaeco) investisse contra a iniciativa e a multasse por suposta infringência de normas regulamentares do uso do passeio. O absurdo é que o uso da calçada como extensão de bares e restaurantes, desencadeada pelas reformas de Jaime Lerner e tão bem assimiladas, em muitos casos é mais agressiva na medida em que estreita o espaço dos pedestres como se dá em muitos lugares, mormente no Batel. O rigor contra a horta irritou meio mundo porque é algo flexível e apropriado à saturação urbana e também porque há vários exemplos em diversos pontos da capital e que devem ser estimulados como fator de convívio fraterno e não combatidos.

Folclore
Tivemos na última eleição municipal duas vereadoras em Curitiba eleitas por suas ações em defesa de cães abandonados, mas de todos os exemplos o que mais surpreende é de um advogado que para manter seu "Biro Biro" no apartamento (em guerra com os condôminos) foi, em demandas judiciais, até o Supremo Tribunal Federal. Uma das vereadoras quer proibir fogos de artifício por não suportar ver seu cãozinho na agressão aos ouvidos sofrer por causa de foguetes e morteiros no Réveillon.