Polícia contida, barreira rompida
Há a consciência de que a nossa Polícia Militar não pode nem deve acumular ônus como os dois do governo Beto Richa, especialmente o maior, o do massacre. Daí, os excessos de contenção no trato da invasão das instalações, novamente e com pleno êxito, da Câmara Municipal de Curitiba. Polícia contida, barreira rompida. Assim da mesma forma que excesso de repressão crias desgastes permanentes, seu excessivo e extremado controle só pode gerar resultados como o da ação direta que impediu o Legislativo de funcionar.
Além do pleno domínio da situação pelos manifestantes, o que traduz um vexame para as cautelas tomadas, numericamente exageradas pelo contingente militar e de viaturas, o fato é que, pela segunda vez consecutiva, o Parlamento, um dos poderes municipais, deixou de funcionar. A essa altura, os que seguem a orientação do ex-secretário de Segurança Fernando Francischini (que foi por sinal alvo de discussões na academia) dirão que o tratamento de choque é a melhor solução e não fosse ela, certamente, não haveria o ajuste fiscal com o sangramento anual em R$ 2 bilhões do fundo de pensão para a toalete contábil a sugerir equilíbrio das contas já que abrir mão da prodigalidade aguda é sabidamente impossível ante a voracidade dos pantagruéis do tucanato.
O ônus exigido do funcionalismo municipal, convenhamos, é menor, mas os erros acumulados permitiram que se criasse uma coesão extraordinária em atos de resistência civil, em aberta ruptura da ordem e cujo desenlace, a essa altura, não dá para prever, ainda que a 5ª Vara da Fazenda Pública tenha concedido, ainda ontem, imissão de posse à Câmara Municipal das instalações ora ocupadas e que estabelece a multa de R$ 100 mil diários pela desobediência sindical. O vigor da pena exarada pela juíza Patrícia Bergonse parece estimular a resistência, tal o clima criado. Enquanto a greve não prospera, ainda que ontem registrasse mais escolas fechadas, o confronto está se transformando em especialização.
No meio disso tudo, a sensação de que a cidade não tem um burgomestre na figura de Rafael Greca que todos lembram em 1988, massacre da gestão Alvaro Dias com as bombas de efeito moral (mas que queimam) contra os professores, em que gritava como deputado estadual para que se abrisse o Legislativo e acolhesse os amotinados que nesse momento, sem qualquer cerimônia, reprime. Placar até agora: amotinados 2, Câmara Municipal zero. E tudo fica transferido para outro dia, enquanto a assembleia de servidores é feita na calçada. É o Brasil mergulhado na anomia.

Sequelas
Consequências dos primeiros embates: um guarda municipal preso por lesão ao patrimônio público no 1º Distrito e dois boletins de ocorrência sobre violência policial registrados. Como se vê, há muito sentido nas ações paralelas às manifestações que contribuem para o aquecimento e manutenção do clima psicossocial de agito.

Contraste
Enquanto o governo estadual terça armas com as universidades estaduais para obrigá-las ao enquadramento na Meta 4, a Procuradoria Geral de Justiça continua pleiteando mais e mais cargos, agora em mais 185 como se a crise não a atingisse. Como ela detém autonomia, pede ao Legislativo que normalmente a atende até porque o governo não está em situação moral para resistir em função das muitas demandas na área com pedidos de investigação no STJ. Confirma-se com isso, a existência de "ilhas de tranquilidade" aludidas pelo tzar fiscal Mauro Ricardo Costa justamente as áreas de poder, cujos servidores tiveram reajustes.

Crise
Até no maior hospital público há crise: no Hospital de Clínicas falta material de punção para oncologia pediátrica. O drama persiste, apesar do convênio com a associação brasileira de assistência hospitalar.

Eletrochoque
Dentro em pouco a conta de luz da Copel, como já se dá com a da Sanepar, vai provocar eletrochoque no usuário: a Agência Nacional de Energia Elétrica autorizou a estatal a cobrar um aumento médio, a partir do dia 24, da ordem de 5,85%.

Sibaritas
Só falta agora, à maneira dos sibaritas, que coçavam a garganta com penas de ganso para vomitar, os consumidores da carne da JBS agirem em conjunto em protesto contra malfeitos da maior empresa de proteína animal seguindo o rastro dos atores que a divulgavam como Tony Ramos e Fátima Bernardes que romperam suas parcerias com o grupo para evitar danos à imagem.

Folclore
O escultor e professor de Desenho, Osvaldo Lopes, andava orgulhoso do aparelho que importara para ouvir melhor. Encontrou o cartorário José Nociti, que era antes de tudo um sadomasoquista, na Travessa Oliveira Belo e este fingia não ouvi-lo para obrigá-lo a aumentar a sensibilidade do aparelho. Aí, um carro buzinou e o mestre quase foi para o espaço com a expansão sonora.