O exoesqueleto do delito
Não existe crime sem corpo de delito, disse o criminalista postado em defesa do governo, tentando fulminar a já mais do que contestada gravação da JBS submetida a uma perícia que, certamente, terá a duração comum dos atos judiciais em nosso país, mais longa que telenovela. Há, é claro, a gravação – alvo agora e no futuro de discussões em torno de sua autenticidade ou possibilidade de edição e até de montagem - e um dos seus subprodutos, a mala com meio milhão que o afoito e tenso Rocha Loures pegou e depois devolveu à Polícia Federal. Se devolvesse por iniciativa própria haveria outro questionamento de epistemes jurídicas para orgasmos intelectuais infinitos: seria um caso de arrependimento eficaz, aquele que se não elide o delito o torna razoavelmente mais charmoso?
Também jamais foi encontrado o corpo de Elisa Samúdio, a amante assassinada do goleio Bruno, o que não impediu a sua condenação no Tribunal do Júri, já que não deu o jeito de emplacar o histórico anterior de Dana de Teffé, o cadáver enrustido. O fato é que a mala, ainda que meio de operação policial induzida, foi apanhada e em cima de uma oferta por vinte a vinte e cinco anos de remessas equivalentes a dois milhões de reais por mês, afinal uma lição em matéria de corrupção para a rotina dos nossos administradores públicos avessos e incapazes de praticar o planejamento de longo prazo. A propósito o gênio Keynes, tanta vezes invocado como expressão da intervenção consciente e modeladora no mercado, oposta aos delírios liberais da desregulação, ironizava o mandamento com a genial observação de que a longo prazo todos estaremos mais ou menos mortos, provavelmente também alguns dos imaginários beneficiários da rocambolesca operação, se é que verossímil, tal o espanto que normalmente provoca.
A mala, ainda que astutamente montada pela polícia judiciária, legitimada pela presteza com que o assessor presidencial nela se atracou, e tanto que devidamente flagrado a devolveu, tem tudo de um exoesqueleto de corpo de delito.

Alerta
O alerta do Ministério da Fazenda sobre o fato de a Prefeitura de Curitiba não havê-La consultado sobre movimentação de recursos do fundo de pensão municipal da ordem de R$ 600 milhões revela afinal a semelhança do ajuste com o deflagrado por Beto Richa tomando R$ 2 bilhões anuais da ParanaPrevidência relativo a cerca de 33 mil aposentados antes pagos pelo Tesouro Estadual. O caso paranaense, ainda que com parecer favorável da Procuradoria da República, permanece subjudice. O da prefeitura dá musculatura aos protestos dos barnabés que cercam desde ontem a Câmara Municipal em aquecimento à batalha de hoje quando as principais medidas do pacotaço serão discutidas.
A greve, como sempre, tem duas versões: a da Prefeitura no sentido de que a adesão não chega a 30% e a dos sindicalistas que teria abrangido 60%. É sempre assim: numa guerra ou num embate sindical a primeira das vítimas é a verdade no jogo de informação e também da contrainformação.

Ofensiva
É esperada uma ofensiva saturante contra a Lava Jato agora comandada pelo presidente Michel Temer e sua equipe em função da prensa do Ministério Público e da denúncia que Rodrigo Janot fará. Ela entra no bojo do toma cá dá lá das reformas com a concertação ampla que beneficiaria deputados e senadores, além de figuras do governo, já mais que enroladas nos processos judiciais. De um lado o governo está fortalecido com a decisão do TSE, o que não significa que a crise esteja debelada, uma vez que a base aliada corre o risco de evasão como se viu ainda ontem no encontro no PSDB e de outro a economia que às vezes o favorece com sinalizações positivas persiste num quadro recessivo de desemprego e que não se liberta da retração do consumo, fator mais preocupante. Reformas, se saírem, embora possam até dar credenciação ao governo na direção da retomada do desenvolvimento, serão insuficientes pelos recuos que tanto as defiguraram. De ouitro lado para manter a base novas e sucessivas concessões serão feitas.

Mistério
Persiste o mistério da infecção nos imunizados da gripe porque a perícia nada detectou nos ambiente e nos móveis que justificassem a ocorrência no posto Medianeira na Boa Vista. Agora se fará a avaliação no corpo da enfermagem. Um idoso permanece, dos quatro que foram afetados, em observação.

Folclore
Navegar é preciso, viver não é preciso, recomendava Pompeu à marinhagem atomentada com receio dos atropelos oceânicos, o que virou referência de poetas e compositores e símbolo da Escola de Sagres. Viajar é preciso e Beto Richa vai de novo, agora no día 15 rumo à Inglaterra, depois de condenado pela justiça por aquela parada em Paris, posto que haja se adiantado no pagamento dos valores, o que no seu entender anularia a punição contra a qual a Procuradoria Geral do Estado recorrerá. Pit stop turístico ou automobilístico, como aquele que faz com o fiscal Marcio Albuquerque Lima, condenado a mais de 90 anos na Publicano, pode criar problema, como se vê. No mínimo na imagem como na esteada em Paris.