Justiça é assim mesmo?
O que se esperava aconteceu, negando o paradigma da Lava Jato como expressão-síntese do nosso Judiciário. Isso é o que se deu no Tribunal Superior Eleitoral pode repetir-se, sem sinal de surpresa, no STF: a queda de um imaginário paradigma na perspectiva do público, mas não na prática judicial, da mesma forma que a avalanche punitiva da força-tarefa de Curitiba pode ser contida nas decisões finais, não em tudo certamente porque aí seria avacalhação.
Torcida maior não significa vitória, mas ficou visível que na instância eleitoral acabou pesando o estranhíssimo argumento da estabilidade necessária como norma. Ainda que o decisório não assegure a estabilidade, pois a carga de desgastes segue aureolando a Presidência e todo o seu ministério, e ela se firme como provisória, essa vitória tira o governo do clinch e o habilita a utilizar o escudo das reformas numa linha missionária, apoiada seguramente pelo capital, o que não abafa o papo com a JBS e outras contradições e mormente a bolsa de Pandora daquela mala sinistra que um dia terá seu amplo esclarecimento, ainda que ontem o seu portador, Rocha Loures, se valesse do silêncio no interrogatório da Polícia Federal. O mutismo do ex-deputado sugere que a polícia, que armou a cena, sabe mais do que ele próprio.
Não esquecer que Marcelo Odebrecht também nos primeiros momentos desprezava a hipótese, aquele instante pra lá de longínqua, da delação. Quem está agora no ataque é Michel Temer e seus principais assessores ministeriais, que expressam a garantia de que permanecem no posto até 2018 e terão papel decisivo na sucessão. Não importa que, para a maioria dos analistas, a sessão histórica tenha sido um espetáculo de cinismo, com o seu presidente Gilmar Mendes haver mudado radicalmente o ponto de vista que expressara quando a presidente de plantão era Dilma Rousseff e isso na mesma demanda.
Comprova-se apenas aquilo que os céticos enxergam na cruzada de Sérgio Moro e do grupo de policiais e procuradores - a Lava Jato não é e nem nunca foi a expressão média do Judiciário, mas visivelmente uma exceção que como as Mãos Limpas da Itália pode gerar, na perspectiva institucional, o anverso do esperado, a derrota do que aparentava ser o bem. E Berlusconis é que não nos faltam.

Resgate
Prefeitura de Curitiba vai mobilizar ao máximo as equipes de resgate da Fundação de Ação Social na madrugada de hoje para atender moradores de rua em função da queda esperada da temperatura. Aliás, moradores de rua foram incluídos na nova leva de vacina prioritária contra a gripe.

Mais sinais
Curitiba como um dos marcados imobiliários mais fortes do país mostrou dado animador: um crescimento da ordem de 25% na venda de unidades novas na planta. Expansão em São Paulo se capta no crescimento de anúncios de empreendimentos novos na televisão e jornais. A referência curitibana é relativa ao primeiro trimestre com crise, recessão e tudo o mais.

Aeroporto
O aeroporto internacional de Curitiba, que fica em São José dos Pinhais, Colônia Afonso Pena, tido em pesquisas nacionais como o de melhor atendimento à clientela, acaba de receber da Infraero uma credenciação para receber aviões com o do dobro da capacidade hoje admitida. Ainda em projeto na região dos Campos Gerais um aeroporto de porte especializado em cargas que está encontrando forte resistência de ambientalistas. Quem está tocando a ideia é Joel Malucelli.

Em tempo real
O Brasil nunca acompanhou seus acontecimentos como agora em função não apenas da cobertura, sem limitações, dos meios de comunicação como também das redes sociais. Ontem, por exemplo, o procurador da Lava Jato, Carlos Fernando Santos Lima, emitiu comentário sobre a linha decisória do Tribunal Superior Eleitoral que descartou as delações da Odebrecht e a apodou de "cegueira intencional" e cúmulo do cinismo. Não dá para comparar, por exemplo, com o caso do impedimento de Carlos Luz, presidente da Câmara Federal para substituir Café Filho, o presidente em convalescença, em 1955, quando o criminalista Nelson Hungria, ministro do STF, teve que aceitar a realidade não jurídica dos tanques na rua, acionados pelos generais Lott e Odilio Denis e que garantiriam a posse de Juscelino Kubitschek na negativa ao recurso dos governistas, que eram provisórios como os de agora.
Naquele caso, como no de agora, o Paraná estava presente inclusive com dois ministros, Bento Munhoz da Rocha Neto (Agricultura) e Aramis Athaíde (Saúde) e que figuraram no protesto em belonave da Marinha na baía de Guanabara, um ato tanto quanto quixotesco. Até o ministro da Marinha, o ultradireitista Pena Boto, estava no grupo.

Folclore
Num programa de televisão, em 1961, na sequência da renúncia de Jânio e a resistência militar a Jango, entrevistava Munhoz da Rocha no canal associado e o provoquei perguntando se já tinha deixado o Tamandaré, e ele, com o brilho costumeiro, ao referir-se à embarcação como expressão da legalidade afrontada, defendeu a posse regular de Goulart. Estava como sempre com a mesma bandeira do liberal autêntico.