Estagnação histórica
Como tudo se repete no Brasil: os mesmos políticos, com as velhas práticas, recriam o cenário que se reproduz. Até os peritos criminais são os mesmos: Badan Palhares e Ricardo Molina, aqueles que estavam no olho do furacão quando da queima de arquivo com a morte de PC Faria e sua amante. E apareceu ali um novo legista: o professor Sanguinetti, ora novamente por aí dando seus pareceres.
Com a aura de especialistas, suas intervenções são sempre aguardadas, posto que naquele evento, uma sequência das façanhas do período Collor, tudo persistisse em mistério. Agora, como defensor do presidente Michel Temer, com a rapidez de um raio, contesta e com vários referenciais técnicos a integridade da gravação de Wesley Batista. A aura técnico-científica, que se atribui à mediação pericial, passa a ter a mesma subjetividade da retórica advocatícia, o sentido da interpretação e que ganha mais força no renome do profissional que a assina.
Já deu para perceber a controvérsia entre laudos e pareceres, mas há quem afirme que a tal gravação não teria sofrido qualquer tipo de manipulação. A diferença está na postura do STF nesse momento propensa a enquadrar figuras antes inabordáveis, o que decorre também da frequência com que são adotadas medidas excepcionais como abertura de investigação, suspensão temporária de mandato e cassação como as diversas já havidas, das mais recentes as que fixaram "capítis diminutio" para o senador Aécio Neves e o deputado Rocha Loures. O fato novo a saudar em muitos aspectos e a lamentar em outros é a delação premiada, que sai superexposta dos acontecimentos e exigindo, por certo, mudança de regulação. Banditismo com reincidência específica e genérica e mais compensado do que punido como o da JBS é algo sério para rever. A pulsão denunciatória, por mais produtiva que seja, não oferece respostas à delinquência habitual e transformada em rotina no prêmio da delação.

Reforma
Vem aí uma reforma secretarial de Beto Richa na qual aqueles que possam ter sido expostos em funções financeiras na campanha eleitoral ganham status de titulares, referendadores do governador e, portanto, sob proteção do foro privilegiado. Companheiros de equipe como Juraci Barbosa e Fernando Guignone serão postos nessa condição, como aconteceu em passado recente com Ezequias Moreira, aquele que drenava para sua conta os salários da sogra fantasma. Se num caso de aberta leviandade, o governo foi solidário, mais razão haveria pelos que correram risco em função de gestão financeira e, eventualmente, aparecem citados em casos de delação como se deu também com o irmão, já secretário de Infraestrutura, José Richa Filho, por parte de executivo da JBS.

Lentidão
O ritmo desejado por Rafael Greca para o pacote fiscal é impossível por causa do grau de arregimentação entre vereadores, ainda que não haja oposição organizada. Algumas medidas fortes, como a instalação do Cadin e a adoção do domicílio eletrônico, passaram pelas comissões. Há as de impacto, como a que mexe na aposentadoria dos servidores (o fundo de pensão está severamente abalado) e a que estabelece o leilão das dívidas municipais, conforme o percentual de desconto oferecido pelo credor.
Quanto ao diálogo com os servidores, afirmam fontes oficiais, que a cada 2,7 dias há um encontro com uma categoria e que já foram acertadas cerca de 14 reuniões.

Barril de pólvora
Manifestações ontem em Brasília feitas pelas centrais sindicais contra o governo Temer e em função das reformas expressou, de forma viva, que o caos está à nossa frente, inclusive com tentativa de incendiar instalações ministeriais. Com o governo enfraquecido, a baderna se realimenta. Movimentos anti-Temer haviam marcado concentração na praça da Universidade para a noite de ontem.

Churra
A Devons, churrascaria do Centro Cívico, faz promoção de que não usa produtos da JBS. De repente, atores de TV saem dos anúncios em proteção da própria imagem.

Cerco
Cerco a Lula prossegue na Lava Jato: Renato Duque manda uma foto dele com Lula de 2012 ao juiz Sérgio Moro, o que é obvio diante da vinculação entre o diretor e o PT. Ontem, tivemos os depoimentos de Pedro Barusco e Paulo Roberto Costa na mesma linha. Como espetáculo, a intervenção da JBS é, por seus detalhamentos, mais chocante que as da Odebrecht, leva a melhor no auditório em que se está transformando o país.

Folclore
Miguel Salomão, um dos últimos intelectuais no governo paranaense (secretário de Fazenda e de Planejamento de Jaime Lerner num momento em que montava o Banco Central de Angola), fez uma observação curiosa sobre um comentário esportivo na TV. O cidadão se referia aos versos de Castro Alves: "Auriverde pendão da minha terra// que a brisa do Brasil beija e balança// estandarte que a luz do sol encerra// nas asas divinas da esperança". Salomão observou o ato falho do narrador: como coxa branca enrustido, teria dito "alviverde" e não "auriverde".