Ciclo punitivo
Saltamos, de repente, da impunidade absoluta para um ciclo punitivo. E, é claro, corremos o risco, e isso já é evidente, dos abusos com a estreiteza dos meios de defesa, não vistos com bons olhos pela maioria do público. A despeito dos alertamentos, a ofensiva da Procuradoria da República persiste no pleito de Janot para que, revista a decisão do relator Edson Fachin, no STF, sejam levados à prisão os parlamentares de mandato suspenso, Aécio Neves e Rodrigo Rocha Loures. É também do ciclo o enquadramento de ex-governadores de Brasília pelo superfaturamento do estádio Mané Garrincha como também o caso do governante vizinho, Marconi Perilo, de Goiás.
Por sinal que, Rocha Loures devolveu anteontem na Polícia Federal de São Paulo a mala com os R$ 500 mil (supostamente a primeira prestação de R$ 2 milhões mensais a ser distribuída ao longo de 20 anos, conforme estupefaciente relato). A mala é mais relevante como prova do que o sítio de Atibaia e o tríplex de Lula, isoladamente, porém é um cavalo de Troia ao contrário. Liga-se à ideia da prisão alongada à do refresco da delação premiada. Dá para imaginar a dimensão do que viria e tudo mais pareceria folguedo, tal a frequência do dantesco em nossas práticas.
Processar o presidente de plantão e suspender mandatos é o traço da nova ordem como rotina já aplicada em Delcídio do Amaral, Dilma Rousseff, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Como defender os acusados ficou difícil, é impossível, como queria Romero Jucá, deter a sangria. Como aí o político não se aparta do econômico, o Brasil persiste à espera de uma saída, qualquer uma, mas que descomprima o ambiente, sem necessidade de pedir ao último que sai o recado de apagar a luz.

Tensões
O cotidiano de Rafael Greca não é fácil e marcado pelo pendularismo entre euforia e depressão: anteontem a alegria de inaugurar a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Tatuquara, modelar e apta a uma demanda de 400 pessoas/dia com mais de 50 médicos, um mini Hospital de Clínicas, seguida pelo solavanco da invasão da Câmara Municipal e ocupação dos espaços por servidores públicos inconformados com o pacotaço fiscal que lhes tira direitos. Depois de estabelecida uma base para conversação, eis que irrompeu, ontem, uma carreata de taxistas exigindo maior fiscalização da Urbs em cima dos operadores do Uber, novidade que tem tudo para ficar e em que é visível que seus operadores não têm a menor garantia de retorno e isso sem a mínima observância dos seus direitos sociais.

A carga
Está aí em pleno vigor a carga punitiva, a que venho me referindo, e isso se dá até aqui, por incrível que pareça, na província: o Ministério Público protocola a 17ª ação por improbidade na Publicano contra 18 auditores da Receita Estadual, três empresários e respectivas empresas em Londrina. Visa a repercussão na esfera civil do processo que investiga 70 auditores e mais de 300 empresas. Dentre os condenados e alvo dessa nova ação o auditor Marcio Albuquerque de Lima, hierarca da corporação e companheiro de aventuras automobilísticas do governador Beto Richa, que pegou 96 anos de prisão na Publicano do ano passado.
E sobrou também em Campo Largo para o deputado Alexandre Guimarães com bloqueio de R$ 66 mil em sua conta por prática de irregularidades com verba legislativa.

Praças
Não dá para cantar as praças de Curitiba com a exaltação das mesmas flores e do mesmo jardim, como na música popular, segundo a Guarda Municipal. Ficou demonstrado que do ano passado para cá tivemos um aumento de 279% em ocorrências policiais nesses locais. Na geografia da infração a Praça Osório, por ser a mais central, é a de maior número de infrações seguida pela Carlos Gomes no miolo urbano e pela distinguida Praça de Espanha que conta agora com módulo permanente por intervenção pessoal do governador do Estado em favor do prefeito que era acionado na justiça.

Nos tubos
Decisão recente do Tribunal Regional do Trabalho determina que a Urbs e a Comec procedam adaptações nas estações-tubo para que tenham instalações sanitárias e isso num prazo de 120 dias. Trata-se de decisão contestável e de difícil viabilização em função do layout em que foi concebido o aparato urbano, imitado em outros países. Dá para imaginar o peso de tal decisão pelo fato de termos na Grande Curitiba nada menos de 360 unidades. Tanto a Urbs quanto a Comec vão recorrer.

Folclore
O prefeito Rafael Greca argumenta que não dialoga com servidores municipais na questão do pacote fiscal porque eles não querem ouvi-lo. Ora, o prefeito não parece disposto a ouvir também os funcionários nas perdas que terão. Como o prefeito se vale de mensagem televisiva pedindo apoio aos vereadores para salvar Curitiba, aos barnabés não há outro caminho que não seja o de pressionar o Legislativo, daí a invasão de anteontem, selvagem como sempre como toda ação direta, mas decorrente de um impasse mal dialogado.