Em meio ao sonambulismo
Nossa realidade é essa: estamos em meio ao sonambulismo, entre vigília e despertar, com os fatos políticos do país. O aspecto bom das revelações da corrupção sistêmica – a cada dia um fato novo, cada vez mais chocantes na fronteira do inverossímil - é descompensado por uma clara falta de saídas para a crise: os atletas do banco estariam em condições de continuarem o jogo?
Mas o novo instrumento de política criminal, o das delações premiadas, veio para ficar, mas exibe claras imperfeições como os fatos ora observados no caso da JBS, maior empresa de proteína animal do mundo, beneficiária de concessões intoleráveis a despeito dos crimes sequenciais praticados em nome da reciprocidade. Percebe-se aí o rompimento do sistema de freios e contrapesos constitucional, transbordando-se o poder do Ministério Público que, a despeito dos méritos de sua atuação, não pode deter esse desfrute hegemônico.
Passamos, recentemente, por experiências traumáticas desde a queda de Collor, substituída com vantagem pelo ingresso de Itamar Franco que nos daria o Plano Real e, agora, com o impeachment de Dilma e dos seus desacertos enxergamos mais claramente a escalada da corrupção do seu antecessor mal enunciada no mensalão e a fragilidade do seu substituto, o enroladíssimo Michel Temer.
Não há saída, pois até a feita nos trilhos constitucionais é precária quando a linha sucessória presidencial tem na Câmara Federal e no Senado dois denunciados da Lava Jato, como aliás já ocorrera anteriormente. Essa sequência de absurdos deixa a normalidade a distância sideral. E no fluir das investigações e apurações, como as de ontem de Delcídio do Amaral em mais duas incidências que comprometem Lula, tem-se a impressão de que a vida continua, cada vez com menos esperança de solução razoável.
Ontem mais surpresa: Michel Temer desistiu de pleitear que seu caso no STF fosse para exame do colegiado. De diástoles e sístoles do gênero iremos viver.

Pepe legal
O José Richa Filho é, mais do que nunca, o Pepe legal ao contestar a delação de que teria recebido um milhão de reais em espécie da JBS em estacionamento de supermercado. O peso do informe é de um Rio Barigui diante de um oceano de afanos generalizados. Se era doação formal, não havia por que ser entregue desse modo, da mesma forma que soaria estranho que aquele dólar na cueca do petista fosse carimbado e justificado. Aí, a dicotomia forma e fundo: às vezes, a aparência compromete mais do que o conteúdo até por seu lado anedótico.
Foi duramente contestado, mas está na denúncia. Como há aquelas outras contra Beto Richa em análise no STJ, incluindo a da Operação Publicano segundo a qual parte do dinheiro sujo, achacado pelos fiscais de empresários, teria drenado para a campanha da reeleição.

OAB-PR queria prazo
A delegação do Paraná no encontro da OAB nacional, que pediu o impeachment de Michel Temer, foi voto vencido ao pleitear mais prazo para a defesa do presidente na questão da gravação com o empresário Joesley Batista. Seus componentes, solidários ao companheiro da terra Gustavo Mendes que defendia a causa, mais o próprio presidente José Augusto de Noronha que discursou a respeito, ficaram isolados num ambiente massivo. A tese acatada pelo STF, na medida em que considerou a necessidade de confronto pericial, não foi acolhida em função do clima estabelecido. Ficaram isolados, mas não abandonaram o colega em sua luta profissional. Nem sempre as OABs locais se ajustam à nacional: o criminalista Juliano Breda era, por exemplo, em racha passado, quando a presidia, pelo predomínio dos delegados no inquérito, o que foi alterado com a PEC em meio aos agitos de 2013 concedendo atribuições ao Ministério Público. No final, a bancada votou pelo impeachment, a do Amapá foi contra e a do Acre nem compareceu.

O pacote
Quem subestimou a capacidade de reação dos barnabés municipais contra o pacote de Rafael Greca se enganou. Eles conseguiram ontem bloquear instalações da Câmara Municipal, acuando os legisladores que em maioria aprovam o pleito do prefeito no ajuste fiscal.

Consumo
Fecomércio detectou em maio 14,9% de crescimento de intenções de consumo das famílias curitibanas em relação ao ano passado.

Fuga
Com nova fuga de presos de cadeia distrital em Curitiba, ficou agitado o ambiente com a OAB e delegados de polícia se mexendo para que o governo estadual cumpra a promessa feita em 2015, quando tivemos até uma greve do Sinclapol, de zerar o problema.

Folclore
Governar a longo prazo, duas décadas, é impossível, mas no campo da corrupção, pelo menos de acordo com os relatos da JBS, pretendia-se a oferta de R$ 500 mil semanais, R$ 2 milhões portanto ao mês, durante vinte anos. Capacidade nas artes de prover e prever, isso é na área do planejamento de médio e longo prazos, nada se observa em semelhança.