Brasil à deriva
O que é a legalidade no país, no momento em busca de reformas, quando pegam até o presidente comprando o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha ao aconselhar que o pixuleco deveria ser mantido ao dono da JBS? O pessoal da Fiep, que esteve dias atrás com Temer trocando vantagens fiscais por apoio às reformas trabalhista e previdenciária, sugere a renúncia que pegaria bem num legalista e constitucionalista. Dessa feita, a cobertura policial, firme nos flagrantes e filmagem e gravações dos delitos, pega o paranaense Rocha Loures a receber mala de R$ 500 mil e de cambulhada uma gravação do senador Aécio Neves pedindo R$ 2 milhões ao Joesley Batista.
Salva-se alguém? Pode ser, mas está difícil porque esse é o ecossistema dessa gente, é sua forma de nele sobreviver, parasitismo generalizado. Da mesma forma que o escorpião mata o animal que o salva, levando-o até o outro lado do rio porque essa é a sua natureza, assim também age, como sempre agiu, a classe política que se escora agora no argumento final de que essa é a forma de sobrevida possível. E da mesma forma que os acusados repetem o mantra de que não podem ser despojados da presunção de inocência, coloca-se o problema filosófico de como será possível fazer política sem os políticos.
A cloaca máxima vasa. E sugere ativismo com a farsa das reformas, ora numa encruzilhada cheia de despachos numa sórdida troca de interesses. Que tal um novo dilúvio, agora de água benta, para a remissão dos nossos pecados?

Guerra de números
Temendo que a imposição de regras de austeridade impeça novos aumentos salariais e sobretudo planos de carreira tanto os servidores municipais de Londrina como os bravos integrantes do Fórum de Entidades Sindicais, isso em nível estadual, contestam o aperto das contas. Em Londrina, negando o deficit de R$ 120 milhões e afirmando existir superavit de R$ 9 milhões e, em Curitiba, sob o argumento de que houve alta de 9% nas receitas no quadrimestre, enquanto o governo alega que qualquer reajuste faz extrapolar limites da LFR, Lei de Responsabilidade Fiscal.
Pelo jeito, o maior aliado dos governos estaduais ou municipais é o Tribunal de Contas com suas seguidas advertências em tom severo de que o limite prudencial dos gastos foi superado como ainda fez recentemente. Parece jogo combinado: o governo passa por temerário e irresponsável nesses puxões de orelha e obtém-se uma vacina contra aumentos respaldada no argumento do tzar financeiro, Mauro Ricardo Costa. Como o drama afeta os entes federativos e o mais doente deles é o município, tivemos recentemente o manifesto das prefeituras da Região Metropolitana de Curitiba contra reajustes salariais. Só falta combinar, como alertava Garrincha, com os russos que agora andam até se acertando com os yanques como se deu com Trump.

Painel
Historicamente, a implantação do painel eletrônico na Assembleia Legislativa sempre gerou problema, tanto que o primeiro deles, apesar do custo, não chegou a funcionar. Pois agora a licitação do sistema (R$ 2,3 milhões) vai ser fatiada e não é homenagem, de maneira alguma, às artes de cortar carne do JBS e muito menos alusão àquela colher de chá do STF a Dilma, poupando-a do corte nos seus direitos políticos.

Credibilidade
O presidente Michel Temer fez sua defesa enfática pela televisão e pelo rádio, mas sua situação lembra a de todos os denunciados quando fazem a contestação: por mais razoáveis que sejam os argumentos o peso do ataque é maior, mais abrangente. Nessas denúncias mais recentes, o trabalho da polícia, para ratificar delações, foi mais completo, artesanal.
Temer afirmou que não renuncia o mandato e muito menos a causa das reformas. O Brasil não aguenta um novo trauma como impedimento, hipótese já aberta com inquérito no STF contra o presidente pelo relator da Lava Jato, Edson Fachin, e que afastou dos mandatos o senador Áécio Neves e o deputado federal Rodrigo Rocha Loures.

Agora vai?
O autor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, advogado Miguel Reale Neto, filho do maior filósofo do Direito do Brasil, ao falar sobre a crise brasileira encheu a bola do senador Alvaro Dias, apontando-o como um diferenciado. Apesar de estar presente nas reportagens da Globo, jamais o incluíram nas pesquisas para presidente. Quem sabe, agora, deslanche e apareça.

Folclore
O ministro Edson Fachin tende a ser uma das figuras consulares do momento brasileiro e ontem, como fez no caso do ex-ministro Palocci, transferiu a questão da prisão de Aécio Neves à decisão do colegiado. No primeiro caso, driblou a hipótese de nova derrota na segunda turma e, no segundo, preservou a condição de distanciamento necessária a um relator.