No imaginário vale tudo
Cada vez mais impactantes, as delações premiadas apenas fortalecem a noção de que a arte de fazer política, além de cara demais, depende basicamente de atos de corrupção para atender custos de campanha e a sustentação de governos. Não há o mínimo sinal de seriedade nesse exercício, o que torna ridícula a afirmação de que se criminaliza a política ao devassarem as suas entranhas como fez o casal de marqueteiros João Santana-Mônica Moura mostrando como Lula pilotava a gestão do caixa dois e segundo os quais dele partia o aval.
Essas e outras denúncias, a despeito da sordidez dos seus detalhes, não mexem com a cabeça feita do militante que continua a ver em José Dirceu uma versão brazuca do Chê Guevara, posto que lembre pelo constrangimento da prisão mais a figura de Bimael Guzman, líder do Sendero Luminoso, da guerrilha peruana, que teve parte da sua mitologia expungida no isolamento carcerário. Só falta agora a tese de que parte de tanto dinheiro acumulado se prestava não só para manter-se no poder como sustentar um aparato na América Latina, o que afinal daria justificativa de traço revolucionário a esses atos tidos numa perspectiva mais prosaica na condição apenas de trêfega roubalheira.
A radiografia até aqui revela que todos se valiam das mesmas práticas já que todas as legendas se financiavam no mesmo processo centrado no parasitismo em cima de empresas estatais por parte de empreiteiras, especialmente a Petrobras (que contratou o criminalista paranaense Renê Ariel Dotti para cuidar dos seus interesses e da recuperação dos valores tungados), seguido do "racha" do botim. O curioso é que a canalha fingia ter pela Petrobras um culto quase divinatório como símbolo da soberania nacional e escalava, via partidária, os seus pró-cônsules para a gestão do propinoduto.
Não estamos diante de pregações, como a antiga UDN fazia contra a frente popular possível do Brasil, a estruturada composição PSD-PTB, duas criações de Vargas, a primeira apoiada no conservadorismo do Brasil rural e a segunda no proletariado industrial nascente nas cidades, uma acusação genérica e preconceituosa. No país singelo daquele tempo não daria para imaginar roubos como os de agora e que, obviamente, ganhariam corpo com o salto dos 5 anos em cinquenta de JK.
O ciclo de corrupção atual é concreto, sem o qual a própria classe política não sabe como sobreviver; todo esforço para sugerir que a história estaria se repetindo em cima de acusações falsas ou de muito menor monta não se sustenta.

Transbordou
Em algumas agências ontem da Caixa Econômica Federal na recepção do FGTS inativo, o público transbordou e chegou às calçadas. Um embalo para o ´´Dia das Mães´´, cuja previsão de movimento supera em muito à do ano passado. Aliás, campanhas do varejão na TV exploram o saque do FGTS para presentear as mães.

Gleisi
Atingida junto com o marido nas delações dos marqueteiros de Lula, Gleisi e Paulo Bernardo contestaram a versão que é muito detalhada e se refere à campanha da prefeitura da capital em 2008. O casal não queria participar do processo em Curitiba porque estava concentrado no de Marta Suplicy em São Paulo. A intervenção de Paulo Bernardo e de Antonio Palocci os levou à campanha da qual tiveram extrema dificuldade em receber por seus serviços.

Alarme
Paranaguá decidiu implantar, por 90 dias, o estado de emergência para o combate à dengue o que permitirá que agentes de saúde entrem nas casas para eliminar os focos, ainda persistentes, do Aedes aegypti. Curiosamente, isso se dá num momento em que o governo federal declara o fim da emergência para o vírus da zika, o que foi visto com restrições pelos sanitaristas que temem que essa decisão leve ao relaxamento de medidas profiláticas. Paranaguá tem seus motivos por ter se tornado maior foco endêmico do Paraná e já ter padecido no passado com epidemias que a devastaram. Sua infraestrutura de saneamento a predispõe ao padecimento.

Folclore
Como a versão se sobrepõe ao factual em política, a aparência de que Lula venceu a batalha do meio da semana levou a esquerda ao triunfalismo, encarando o fato como batalha-chave. Fatos posteriores como a delação do casal marqueteiro, que praticamente repete o diagrama de Deltan Dalagnol ao apontar o chefe Lula como avalista final das propinas e ainda agora as convocações de mais testemunhas tanto pela defesa como pela acusação, revelam que pelo jeito a audiência não foi tão decisiva quanto se imaginava.