Batalha do Itararé
Como temos o ano de 1968 que, segundo Zuenir Ventura, nunca acabou e agora ironicamente a hipótese de o Campeonato Paranaense de 2017 também seguir igual destino (o STJD iria decidi-lo em sessão de ontem), acabamos tendo com a audiência de Lula anteontem uma repetição em gênero, número e grau da celebrada batalha de Itararé, aquela que não houve. Com mais polícias do que manifestantes, mais cercos de ruas próximas à Justiça Federal, voo incessante de helicópteros, tivemos o predomínio de uma perspectiva política suplantando de longe a judicial e fornecendo um palanque eleitoral para o ex-presidente.
Tal o ocorrido com a greve geral que não teve o nível de adesão esperado esse segundo evento se prestou objetivamente para nutrir o combalido Partido dos Trabalhadores em momento crucial de sua história com boa parte de seus quadros envolvida na maior trama de corrupção da história brasileira. Ora, Lula é a sua maior figura e alvo de numerosos processos judiciais e ainda líder absoluto nas pesquisas de intenções de votos: assim para a militância do partido o que vale é a projeção do seu maior eleitor e como candidato e na forte sugestão de que as ações judiciais não visam outro objetivo se não o de impedi-lo de ser postulante, o que se repete como mantra.
A vinda de boa parte de sua representação na Câmara e no Senado e dos braços sindicais e dos movimentos sociais, entre eles o MST, incluindo o encontro do seu Diretório Nacional marcou o maior feito dele e das esquerdas, o que não significa que a questão judicial tenha se exaurido, já que se esperam novas denúncias, especialmente a que se dará possivelmente com a possível delação premiada de Renato Duque. Não foram poucas as contradições do testemunho de Lula como aquela em que atribuiu à esposa, já falecida, o possível interesse de investimento no tríplex. No caso, atribuiu todas as decisões a Marisa Letícia. Mas no que realmente interessava, a ação política, Lula, o PT e as esquerdas levaram a melhor. Relativamente aos processos contra Lula a insistência dos advogados em desqualificar Sérgio Moro evidencia receio quanto à forma como os conduz. Assim a vitória na política, em seu efeito demonstração, pode não se dar justamente no campo judicial, algo que atemoriza ao ponto de tentar o impedimento do magistrado.

Calendas
Vai para as calendas o processo criminal contra o ex-deputado Ribas Carli, ontem retirado da pauta do Supremo Tribunal Federal onde está desde janeiro de 2016, portanto, um ano e quatro meses. O caso é paradigmático em matéria de protelação pela habilidade dos criminalistas que desde o início cuidam do processo. Isso só aumenta o inconformismo da deputada federal Cristiane Yared, mãe de uma das vítimas e que transformou a luta numa causa que a levou a Câmara Federal e como a mais votada paranaense.

Maio amarelo
Lembrada ontem, no maio amarelo, a circunstância de o Sistema Único de Saúde, SUS, ter despendido, ano passado, cerca de R$ 12 milhões decorrentes de 9 mil acidentes de trânsito em todo o Paraná. E para os adeptos da ciclomobilidade uma nota relevante: 16 ciclistas morreram em acidentes em Curitiba.

Agressões
Novamente uma atendente de Unidade de Pronto Atendimento, UPA, do Pinheirinho, foi agredida por uma gestante. Não só aí se dão essas agressões. Só este ano já tivemos 24 e juntando com anteriores cerca de 86, atingindo pessoal da Fundação de Ação Social, assessores, gente enfim de atendimento direto com o público, entre eles os dedicados educadores de rua.

Mãe pobre
O quadro recessivo limitará bastante, segundo a Fecomércio, a oferta de presentes no dia das mães. Segundo levantamento recente a respeito do tema, calcula-se em R$ 101 o gasto médio que se despenderá nessa homenagem. O consumo em queda na Região Metropolitana gerou um quadro de deflação revelado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor pelo IBGE. A taxa foi de -0,05% quando em março ficou em 0,27%. Resumindo: com a economia no fundo do poço, a variação do IPCA nacional foi de 0,14% em abril e no acumulado de 12 meses a inflação ficou em 4,08%., a menor em dez anos. O que favorece nova queda nos juros, a conferir.

Folclore
Em 1964, os seguidores de Jango, entusiasmados com o comício das reformas de base na Central do Brasil (cerca de 350 mil pessoas), entendiam que a batalha das ruas estava ganha e que aquele era o sinal possível e forte para o momento. Dias depois, a direita religiosa tomou o controle das avenidas nos grandes centros com procissões de setecentas mil pessoas e até um milhão em São Paulo, Belo Horizonte, Rio, etc. – essas contrárias a tudo em nome do Movimento com Deus e a Família pela Liberdade. E é essa mobilização que leva alguns dos "brazilianistas" considerar que não houve golpe e sim revolução e aquela sinalização tirou as tropas dos quartéis. Felizmente, estamos livres disso e não houve choques apreciáveis anteontem na primeira vez em que um ex-presidente foi se explicar no Judiciário.