Audiência mantida
O TRF da 4ª Região rejeitou o pleito dos advogados de Lula e manteve a audiência de hoje em Curitiba. Foi melhor para as caravanas que se anteciparam entre as quais estará a Executiva Nacional do PT que fará reunião no Hotel Pestana e participará da mobilização na qual estará presente Dilma Rousseff, a sucessora cassada de Lula.
Declaradas insubsistentes as razões do corpo de advogados do ex-presidente, que alegavam falta de condições materiais e de tempo para compulsar documentação com mais de mil páginas em torno dos eventos da Petrobras e negado o habeas corpus, foi restabelecido o cronograma que era para ocorrer há uma semana e que teve o adiamento centrado em razões logísticas de segurança arguidas pela Polícia Federal e também pela estadual.
Desde cedo o panorama de Curitiba mudou com a chegada em primeiro lugar de uma comitiva do MST em 50 ônibus e que permaneceram algum tempo em Campo Largo. Também já havia um razoável número de militantes albergados em sindicatos e associações classistas e também no domicílio de petistas e simpatizantes. O clima de solidariedade é forte e há elevado senso de organização quanto à forma de montarem acampamento como fizeram em área federal próxima à Estação Rodoferroviária em terreno da União, recurso para escapar das proibições mantidas pelo Tribunal de Justiça em recurso da Defensoria Pública,
A calma foi rompida com o lançamento de dois rojões na direção da Justiça Federal e, curiosamente, um dos autores da ação usava tornozeleira eletrônica. Para o imaginário desse pessoal, o clima tem tudo de revolucionário e até a forma de reunião do Diretório Nacional aparenta um "aparelho" no hotel escolhido. Enfim, motivação forte e que se expressa como defesa do legado petista supostamente sob ameaça e que deixaria o trabalhador e o pobre órfãos, conforme o discurso emocional.
O imaginário da política é a ideologia e para a esmagadora maioria dos convocados há algo como uma batalha final na guerra que José Dirceu imaginou no revigoramento da esquerda. Pode haver de tudo, inclusive um eventual confronto, como também tudo se der normalmente, ainda que a tese de uma só torcida, invocada por Sérgio Moro, esteja longe de acontecer pela determinação dos que defendem a Lava Jato e sua atuação.
Imaginar-se um guerrilheiro nessa situação é a coisa mais natural do mundo: ao lado do fermento beligerante e da ideia de estar numa trincheira, na qual se aceita a morte do companheiro ao lado e nunca (isso em hipótese alguma) a própria , faz parte do contexto em que ao lado de tanta seriedade e determinação há um pouco de pitoresco, tal qual um operador de elevador, um ascensorista, enxergar-se como um astronauta no sobe e desce de sua rotina diária.

Omissão que explica
Agora, com a decisão da alçada superior que desobriga o Superior Tribunal de Justiça de submeter o processamento dos governadores ao crivo de suas assembleias provinciais, temos consolidado um clima mais sério à questão e isso é tanto verdade que só depois do Ministério Público estadual levantar a prevaricação de Valdir Rossoni, ex-presidente, ao engavetar o pedido contra Beto Richa é que se tomou conhecimento do evento. Da mesma forma, os ocorridos em outros governos como o de Requião. Vivemos um momento diferenciado não apenas na simplificação havida como na informação, prejudicada por vícios da área e muito cultivados. Encara-se hoje sem espanto o enquadramento de um governador como se deu agora com tantos deles. Se persiste a obrigatoriedade de submetê-los ao Legislativo, tudo empacaria. Um avanço, enfim, da democracia contra as acomodações regionais e a chamada sociedade cartorial. Aqui na província continua impossível imaginar uma Lava Jato pela facilidade com que tudo se acerta e se metaboliza numa ação intrapoderes.

Resistência
A sociedade organizada não é testada apenas na audiência de Lula a Moro. Ontem na Câmara Municipal de Curitiba órgãos como o sindicato da construção civil, o conselho de contabilidade e também a Associação Comercial em contato com os vereadores fizeram restrições graves a inúmeros pontos do "pacote" fiscal de Rafael Greca. Especificaram os impactos possíveis das medidas no mercado. Para o prefeito, é indispensável a terapia, já que o município tem sinais claros de quebra, mas a crise a todos sufoca e alcança os setores que apontam efeitos deletérios. Pelo menos ontem a argumentação contra o pacote era mais convincente.

Folclore
Entre as medidas preventivas, ontem adotadas pela polícia, houve a revista de grupos que se deslocavam da cidade para a estrada em que se encontravam as falanges do MST e houve a apreensão de materiais como facões e foices. Só não depararam com a foice e o martelo. Dava para lembrar da cantiga de esquerda de passado distante que dizia assim: "A massa oprimida ocupou o castelo// levando nas mãos a foice e o martelo// Ave, ave Lenine // Ave ave Staline. Variável de outras como as dos congressos da Une, anos 50: "Sabãozinho, sabãozinho// de burguês gordinho// toda vil reação// vai virar sabão!//´´. Nem só de metáfora vive o homem, mas que ela faz falta não se pode negar.